Um ninho de sons

No independente “Mafagafo Jazz” percussionista Guga Machado registra seu voo solo numa viagem

 

Guga Machado traz na melodia do hand drum um dos diferenciais de sua sonoridade / Ana Turra/Divulgação

 

Por: Luly Zonta luly.zonta@bomdiabauru.com.br

“Talvez daqui a dez anos eu não sei se vou amar o meu disco, mas ele é um apanhado do que aprendi com cada artista para quem toquei. Ele tem uma maturidade e tá bonitão”, comentou Guga Machado, que lançou o CD independente “Mafagafo Jazz” no fim do ano passado, me deu entrevista há quase dois meses e, anteontem, mandou um recado dizendo que está adorando fazer coisas baseadas no seu primeiro trabalho autoral. “Não quero saber de mais nada”.

Quer sim e ele sabe disso, aliás a foto desta matéria, que não é a da capa do disco, vem carregada de informações. Basta olhar o cabelo do moço para descobrir de onde vem a faixa-título. E apesar de instrumental é “visível” a frase “é o magafafo jazz” no trompete ou no vocal de Lan Lan, madrinha que assina a composição em parceria com Guga. Luxo ao lixo –  Ele levou a cozinha para a sala de estar, mas jura que nunca em uma década e meia teve pretensão de ter uma carreira solo ou um trabalho só seu. Tocou e gravou com muita gente, do luxo ao lixo, como ele mesmo define. Mas há dois anos e meio, incentivado pelos brothers Renato Galozzi, Gabriel Triani e Ramilson Maia, o trabalho foi tomando uma cara que ele gostou, formando uma trilha das mais interessantes. Em 40 minutos e 11 faixas, temos uma viagem, por paisagens sonoras das mais diversas. Na bagagem de Guga, mais de 50 instrumentos e otras cositas mas. Afinal, ele gravou água, ar condicionado, muitos utensílios de cozinha, garrafa de Jack Daniel’s e até plástico bolha, que aliás dão os primeiros acordes do disco. Com um jeito Hermeto Paschoal de ser, uma classe de Guello e uma batucada brasileira digna de Marcos Suzano, o percussionista busca o novo e mistura sem medo o orgânico e o eletrônico. O sensorial é muito nítido em “Auratune”, do norte-americano Jay Oliver que conta com percussão corporal de Pedro Consorte do Stomp, na cena marítima de “Mbira 420”, assinada por Guga, ou em “Manari”, na parceria com Marcelo Magal, que poderia integrar uma trilha de faroeste, safari, uma invasão às reservas da amazônia ou uma sedutora festa cigana – o filme é seu, mas a trilha lhe dá asas. A conversa noturna com o lounge, o jazz, o funk e o groove é afinada pelo trabalho autoral de Galozzi, em “Dejavu Groove”, que ganha uma brasilidade incrível, “Lounge 01” que traz os vocais poderosos de Vanessa Jackson ou em “Moon#33”. Disco voador  – “Não acredito mais na percussão só de conga, bongô e carrilhão é preciso fugir do óbvio”, conta o percussionista apaixonado pelo disco voador melódico, que carrega no colo. Na verdade, um hand drum, instrumento criado na Suíça em 2000 que é o carro-chefe de seu trabalho. O som pode ser conferido na vinheta “Ufo”, que poderia ser maior. Mas a viagem do músico tem bons pés no chão e começa no interior, trazendo uma catira moderna em “Depirapromundo” (Fábio Caetano). “Spirit Drums” de Dê Portela tem seu clipe gravado nas pedras do Arpoador essa semana e “Luz” (Gabriel Wickbold) vem de uma antiga banda que tinha Maria Gadú como backing vocal. Em “Mafagafo Jazz” ela chega com a luz da alma de Jair Oliveira, amigo de palco e campo de futebol, e a voz doce da “irmãzinha” Tabatha Fher. “Vou ser muito sincero, eu queria um trabalho só instrumental, mas a música entrou no disco, acatando o conselho da minha assessora para ter uma canção para facilitar o trabalho com rádio e televisão”, denuncia sem medo. Suíça à África – Resumindo o disco (que pode ser encontrado nas grande lojas virtuais como world music), a foto e o Guga: ele vai do xote ao lounge, da Suíça à Àfrica, das Arábias à Índia, do calor do Nordeste a um mar gelado. Acredita no que gosta e sabe como poucos ser plural. A tatuagem revela que nasceu em 83, o triangulo representa o primeiro instrumento, que começou a tocar quando jogava basquete. A coroa de louros? Ele começa a colher.

 

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