A Ford está saindo do Brasil, de quem é a culpa?

 Eduardo José Monteiro da Costa[1]

Tenho visto muitos comentários nas redes sociais sobre a saída da Ford do Brasil e fechamento das suas três fábricas – Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE) –, e a perda dos mais de 5 mil postos diretos de trabalho (empregos). Acho interessante que hoje muitos se tornaram especialistas em assuntos aleatórios. Emitem comentários e opiniões como se dominasse profundamente todos os assuntos, São os “enciclopedistas de redes sociais”.

Aos incautos, precipitados e desavisados, não dá para tratar um assunto como esse de forma superficial ou mesmo ideológica. As dificuldades da Ford, dentro de uma cadeia de distribuição global não vêm de hoje. A empresa já vinha sofrendo com a perda de mercado, em especial para as montadoras coreanas, japonesas e francesas. Atualmente a Ford responde por apenas 7% do mercado nacional. Os mais antigos devem lembrar que em 1999 a empresa protagonizou uma disputa entre os governos do Rio Grande do Sul e da Bahia para ver quem daria maiores incentivos fiscais. A Bahia logrou-se vencedora e até hoje os gaúchos culpam o então governador Olívio Dutra (PT) pela perda da fábrica e dos empregos.

No limite a empresa estava apenas jogando com a lógica da guerra fiscal entre os estados, uma maneira de compensar a sua perda de competitividade global que já naquele momento estava sentindo e que se agravou nas décadas seguintes com a entrada no mercado nacional de outras montadoras.

A pandemia, com sua repercussão econômica, apenas agravou ainda mais a situação delicada da empresa, que já operava com elevada ociosidade em suas plantas industriais. Some-se a isto a atual imposição mercadológica de uma ampla reformulação tecnológica que as empresas automobilísticas estão fazendo nos últimos anos, a um custo elevado. Isto tem obrigado não somente a Ford, mas as empresas automobilísticas de uma forma geral a reavaliarem as suas estratégias globais de produção.

Capitalismo é isso. É o império da concorrência.

Finalmente, a decisão da Ford serve como alerta para que o Brasil reavalie o chamado “custo Brasil”. Na atual conjuntura é preciso sim repensar um novo modelo fiscal, no âmbito da Reforma Tributária, que sirva como mecanismo de incentivo ao investimento privado e não mais como um desafio para o setor industrial, tanto nacional quanto estrangeiro. Keynes, um notável economista inglês do século passado, já havia compreendido claramente que o motor do crescimento econômico saudável e sustentável de uma nação era o investimento privado. Vamos incentivar o nosso setor produtivo ou vamos continuar o “parasitando” até que ele definhe por completo?

[1]

Doutor em Economia pela Unicamp e professor da UFPA. Correio eletrônico: ejmcosta@gmail.com.