James Buchanan e a teoria da escolha pública

Por ignorância ou má fé, economistas e jornalistas de esquerda usaram e abusaram da expressão neoliberalismo para colocar em suas costas tudo aquilo que eles julgavam que não deu certo no campo da economia. Com isso, neoliberalismo tornou-se, ao lado de globalização, quase um palavrão, como observou Norman Gall, diretor-executivo do Instituto Fernando Braudel de Economia Mundial, em sua fala de abertura num seminário internacional promovido pelo referido instituto no início dos anos 1990.

Com essa expressão, jogavam numa mesma cesta, as diversas ramificações do pensamento liberal contemporâneo. Em meu mais recente artigo, sobre as mazelas do comunismo e do fascismo, mencionei Friedrich Hayek, principal expoente da escola austríaca e ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1974 pelo reconhecimento do acerto de suas previsões feitas com décadas de antecedência sobre a ameaça que as ideias intervencionistas em voga nas décadas de 1930 e 1940 representavam para as liberdades individuais.

Meu comentário de hoje focaliza outro grande economista, que se tornou o grande expoente de outra ramificação do pensamento liberal, a teoria da escolha pública, também  laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1986. Seu nome, James Buchanan.

Duas tendências ganhavam espaço na época criticando as ideias e políticas econômicas bem-sucedidas capitaneadas por Ronald Reagan e Margaret Thatcher: no plano teórico, a excessiva matematização da economia, representada por modelos econométricos cada vez mais sofisticados, que se aproveitavam da popularização dos computadores; no plano aplicado, o avanço da intervenção governamental na economia, por meio de déficits orçamentários sucessivos.

Preocupado com tais tendências, Buchanan propôs limites constitucionais ao uso dos déficits orçamentários por parte de governos que transferiam dessa forma para o setor público decisões que deveriam caber ao setor privado. Dotado de fina ironia, alertava para a complexa relação entre os políticos e a economia, principalmente em épocas de eleições, dizendo: “o político pede dinheiro aos ricos e votos aos pobres, prometendo, se eleito, defender uns dos outros”.

Influenciado pela escola austríaca, que sempre privilegiou o aspecto humanista da economia, Buchanan jamais deixou de reconhecer a validade do uso da matemática na análise econômica, desde que fosse uma ferramenta assessória e não elemento essencial. Utilizando, novamente, sua fina capacidade crítica, chamou os economistas que exageravam no uso de modelos matemáticos de eunucos ideológicos, por confundirem o essencial e o assessório na teoria econômica.

 

Referências 

BUCHANAN, James M.; Tullock, Gordon. The calculus of consent: logical foundations of constitutional democracy. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1962. 

HAYEK, Friedrich August von. O caminho da servidão. Tradução e revisão de Anna Maria Capovilla, José Ítalo Stelle e Liane de Morais Ribeiro. 5ª ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1990.

MACHADO, Luiz Alberto. Viagem pela economia. São Paulo: Scriptum, 2019.