São Paulo é destaque
Foi divulgado no último dia 10 o resultado da pesquisa do IMD – International Management Development Institute sobre a competitividade mundial e a eficiência das empresas paulistas foi um dos destaques da referida pesquisa.
Antes de seguir adiante, uma palavra sobre pesquisas, rankings e índices. Há por demais desse tipo de publicação e, se as pessoas não prestarem atenção, correrão o risco de misturar alhos com bugalhos. O IMD é uma entidade suíça que há muitos anos vem pesquisando a competitividade das economias e quem acompanha o seu trabalho sabe que os critérios por ela utilizados vêm sendo sistematicamente aperfeiçoados, razão pela qual ela tem enorme credibilidade, sendo aguardada com grande ansiedade pelas comunidades empresarial e acadêmica, bem como pela mídia em geral. Nesse sentido, obter uma posição de destaque no ranking do IMD é algo que tem importância e grande repercussão.
A pesquisa é composta de diversos itens e engloba não apenas países, mas também regiões com mais de 22 milhões de habitantes, que é o caso do Estado de São Paulo.
Entre os vários itens divulgados dia 10 de maio, gostaria de destacar:
- Em um ano o Estado ganhou quatro posições, colocando-se à frente de países como Jordânia e Portugal.
- Nas Américas, São Paulo é a 4ª economia mais competitiva, perdendo apenas para Chile, Canadá e Estados Unidos. Apenas para efeito de comparação, o Brasil aparece apenas como 6º colocado na região.
- Entre as regiões com mais de 22 milhões de habitantes, São Paulo aparece na 17ª posição.
- Entre as regiões e países com renda per capita inferior a US$ 10 mil, ocupa a 11ª posição, enquanto o Brasil é o 17º.
- Apesar dos bons resultados de uma forma geral, São Paulo perdeu posições em alguns itens: no item desempenho econômico, São Paulo caiu da 50ª para a 52ª posição; e no item eficiência do governo, caiu também duas posições, aparecendo agora na 54ª posição.
- No item “eficiência empresarial”, o resultado alcançado por São Paulo é excelente: 22º lugar, à frente de países como a Coréia e o Reino Unido.
- Mas onde São Paulo dá um verdadeiro show é no item “capacidade dos empresários e da população de se adaptarem a novos desafios”. Neste item São Paulo aparece em 1º lugar!
Sempre que me utilizo de pesquisas dessa natureza, faço questão de alertar para uma coisa fundamental: o que essas pesquisas nos oferecem de mais útil é a possibilidade de fazermos uma avaliação comparada do desempenho de diversos países de forma permanente. Portanto, mais do que qualquer dado isolado, vale a pena acompanhar ano a ano as conclusões dessas pesquisas a fim de que seja possível ter um quadro do processo de evolução da economia dos diferentes países. Com isso, diminui-se a chance de alguém se impressionar com o desempenho excepcional de um determinado país num único ano, quando na verdade aquele resultado não reflete o desempenho médio do referido país.
Feita essa ressalva, o que há para comemorar e para lamentar nas conclusões da pesquisa recém divulgada?
A lamentar, o fato de que o êxito de São Paulo (e do Brasil, na maior parte dos itens pesquisados) deve-se muito mais ao esforço das empresas do que ao desempenho dos governos, cuja atuação têm na verdade se constituído muito mais num obstáculo do que num fator de apoio à eficiência empresarial. A ausência de empenho político para o aperfeiçoamento do sistema tributário, por exemplo, ou para a redução da burocracia que atrapalha a vida das empresas e dos cidadãos gera o que os economistas chamam de custo de transação, uma série de despesas que tira a competitividade de nossos produtos e nossos serviços. Na concorrência com os estrangeiros, somos muitas vezes derrotados não pela qualidade inferior de nossos produtos, mas pelo preço não competitivo decorrente, em grande parte, do peso do sistema tributário abusivo, da legislação trabalhista obsoleta, da lentidão na tramitação dos processos judiciais e da enorme burocracia que incide na realização dos negócios. Se com tudo isso, São Paulo consegue ainda um desempenho destacado, imaginem se os governos fizessem adequadamente a sua parte…
A lamentar, também, a falta de articulação entre os diferentes níveis de governo, que, empenhados em disputas políticas mesquinhas, deixam de empreender ações de fomento aos clusters que se formaram espontaneamente em várias regiões do País e que poderiam ter um impacto muito mais significativo se contassem com o mesmo tipo de respaldo observado em outros países.
A comemorar, a extraordinária capacidade de dar resposta rápida às condições adversas criadas por esse conjunto de fatores citados acima, que criam um ambiente de negócios altamente desfavorável para os nossos empreendedores. Obrigados a constantes adaptações a regras do jogo que mudam a toda hora, empresas e empreendedores perdem tempo precioso que poderia estar sendo investido no aperfeiçoamento dos processos e na ampliação dos nossos negócios, revertendo em mais emprego e renda para muita gente.
Tal capacidade de adaptação revela um traço típico dos nossos empreendedores: uma enorme criatividade, transformada em diferencial competitivo. Este, porém, já será o tema do próximo artigo.
Referências e indicações bibliográficas
GARELLI, Stephane. A evolução dos valores e a economia de mercado. São Paulo: Instituto Liberal, Série Idéias Liberais, Ano II, Nº 19, 1995.
IGLIORI, Danilo Camargo. Economia dos clusters industriais e desenvolvimento. São Paulo: Iglu, 2001.
MONTEIRO, Jorge Vianna. As regras do jogo. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2000.
MONTEIRO, Jorge Vianna. Lições de economia constitucional brasileira. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2004.
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