Interpretações do Brasil IV

 

A hegemonia monetarista

 

“O monetarismo tem o seu lado positivo: tirou os economistas

do modelo keynesiano simples, ainda muito popular nos

Estados Unidos e muito utilizado na Inglaterra, e fez com que

os economistas aceitassem o fato de que a política monetária

é um importante instrumento estabilizador da economia…”

Paul Samuelson

 

O monetarismo foi o modelo predominante da política econômica adotada no Brasil durante a vigência dos governos militares, em especial no período em que o Prof. Antônio Delfim Netto foi ministro da Fazenda (1967-1974) e a partir de 1980. Nessa época, tinham como seus principais críticos os adeptos da corrente estruturalista, agrupados principalmente na UFRJ e na UNICAMP, enquanto a USP, a FGV-RJ e a PUC-RJ constituíam-se nos principais redutos dos monetaristas. Numa visão grosseiramente simplificada, os monetaristas eram identificados como governistas, ao passo que os estruturalistas (assim como os dependentistas e os marxistas) como sendo de oposição à política econômica adotada pelo regime militar. Durante a fase dos chamados “planos heterodoxos”, caracterizados pelo uso de mecanismos como o congelamento de preços e o confisco de ativos financeiros, e que se estende de 1986, com o Plano Cruzado, até 1990, com o Plano Collor, sua prática foi interrompida, para ser retomada em 1994, como um dos pilares do Plano Real.

Partindo dos pressupostos do liberalismo clássico, os monetaristas fazem uma análise conjuntural da realidade, utilizando principalmente os instrumentos de política monetária (eventualmente, em caráter acessório, os instrumentos de política cambial).

De acordo com o Prof. Paulo Sandroni:

Escola econômica que sustenta a possibilidade de manter a estabilidade de uma economia capitalista recorrendo-se apenas a medidas monetárias, baseadas nas forças espontâneas do mercado e destinadas a controlar o volume de moedas e de outros meios de pagamento no mercado financeiro. Para tanto, sugerem-se inúmeras políticas. Por exemplo, o governo pode comprar ou vender letras de câmbio oficiais, diminuindo ou aumentando o volume de crédito no mercado financeiro. Pode aumentar ou diminuir a taxa de juros cobrada pelos bancos oficiais para empréstimos aos bancos privados, que os repassam ao setor particular; e aumentar ou diminuir a parcela dos depósitos que os bancos privados são obrigados a manter sob guarda do Banco Central.

Ao identificarem desajustes na economia, os monetaristas procuram combatê-los através de medidas diretas e específicas, buscando, na maioria das vezes, soluções de curto prazo. Por serem medidas que atingem setores determinados, costumam ter um impacto muito acentuado sobre os segmentos da sociedade diretamente atingidos, ao contrário das políticas propostas pelos estruturalistas, cujos resultados só se fazem presentes – quando o fazem – a médio ou longo prazo e que, por abrangerem medidas em diversos setores, costumam ter um efeito quase homeopático sobre qualquer segmento, considerado isoladamente.

O nome de maior destaque no plano internacional é o de Milton Friedman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1976.

No Brasil, os nomes mais destacados são:

  • Octávio Gouvêa de Bulhões
  • Eugênio Gudin
  • Roberto Campos
  • Antônio Delfim Netto
  • Affonso Celso Pastore
  • Ernane Galvêas
  • Carlos Geraldo Langoni

 Da fase mais recente, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, é considerado seu representante mais autêntico.

 

 

 

 

Referências e indicações bibliográficas

BORGES, Maria Angélica. Eugênio Gudin: capitalismo e neoliberalismo. São Paulo: EDUC, 1996.

FRIEDMAN, Milton. Inflação. Suas causas e conseqüências. 2ª ed. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1978.

GUDIN, Eugênio. O pensamento de Eugênio Gudin. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1978.

PERINGER, Alfredo Peringer. Monetarismo versus keynesianismo versus estruturalismo: inflação, desemprego e taxas de juros. Rio de Janeiro: Globo, 1985.

SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.

SIMONSEN, Mário Henrique. Inflação, gradualismo e tratamento de choque. Rio de Janeiro: APEC, 1970.

 

Referências e indicações webgráficas

BARBOSA, Fernando de Holanda. A inflação brasileira no pós-guerra: Monetarismo X Estruturalismo. Disponível em http://epge.fgv.br/portal/pesquisa/producao/138.html.

CORAZZA, Gentil e KREMER, Rodrigo L. Friedman e o monetarismo: a velha teoria quantitativa da moeda e a moderna escola monetarista. Disponível em http://www.ufrgs.br/fce/rae/edicoes_anteriores/pdf_edicao40/artigo03.pdf.

FRANCO, Gustavo. Regras e mandatos. Veja, 10 de abril de 2002 . Disponível em http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/Veja65.htm.

MACHADO, Luiz Alberto. Interpretações do Brasil I – O caráter patrimonialista. Disponível em http://www.lucianopires.com.br/iscasbrasil/iscas/abre_isca.asp?cod=715.