O ambiente da criatividade
A empresa sorriso
“Eu só quero dizer uma coisa: triste de quem
não sonha, de quem não acredita no
impossível, não busca o diferente, não
conhece a felicidade, não sorri. Melancólico
quem esqueceu em algum canto escuro
dentro de si a criança alegre e pura
que um dia já foi, cheia de entusiasmo,
de esperança, sem maldade no coração.”
Floriano Serra
Os manuais e livros-texto sobre criatividade costumam se referir às quatro dimensões da criatividade: a dimensão pessoa, a dimensão produto, a dimensão processo e a dimensão ambiente. Esta última diz respeito à necessidade de existir um ambiente favorável ao desenvolvimento da criatividade, um ambiente que seja descontraído, alegre, estimulante, capaz de colocar as pessoas em alto astral.
O contrário, ou seja, um ambiente opressivo, pesado, constrangedor, gera um tipo de pressão negativa que tem o condão de funcionar como uma espécie de bloqueio ao potencial criativo que qualquer pessoa possui.
De nada adianta fazer esforços e investimentos no sentido de desenvolver as outras três dimensões da criatividade, em especial a dimensão pessoa, se não forem feitas mudanças no ambiente da empresa no sentido de torná-lo compatível com o que as pessoas precisam para se sentir encorajadas a fazer algo diferente, fora dos padrões, o que exige a capacidade de assumir riscos.
Diversas empresas desperdiçaram volumes consideráveis de recursos contratando consultores especializados para implementar programas de desenvolvimento da criatividade de seus quadros de colaboradores, sem, porém, promoverem alterações nos ambientes físico e organizacional. Dessa forma, por não perceberem coerência entre o discurso da alta direção e o clima prevalecente na empresa, seus colaboradores não sentiam a confiança necessária para se arriscarem a fazer coisas diferentemente do que sempre haviam feito.
É exatamente sobre essa quarta dimensão da criatividade que se debruça Floriano Serra em seu mais recente livro, intitulado A empresa sorriso. Nele, o autor procura, em última instância, responder à seguinte pergunta: “É possível ser feliz no trabalho?”
Psicólogo por formação, executivo de uma grande empresa do setor farmacêutico e um dos primeiros brasileiros a se preocupar com a questão da criatividade, Floriano Serra aborda, nessa coletânea de artigos publicados em diversos veículos, aspectos essenciais da dimensão pessoal da criatividade, tais como liderança, busca permanente da utopia e interação entre o racional, o emocional e o espiritual, mas dá especial ênfase à dimensão ambiental, que atua como uma espécie de pano de fundo indispensável para impulsionar o potencial criativo das pessoas.
Figura 1 – A dimensão ambiental funciona como
um pano de fundo para as outras
três dimensões da criatividade
E como é a empresa sorriso?
De acordo com Floriano Serra, ela é “uma empresa que tem a ousadia e a coragem de tomar decisões também com o coração e a intuição. Onde a razão é valorizada – sem excessos e o poder é desmistificado. Poder que não constrói felicidade não merece esse nome”.
Gostaria de destacar dois pontos que considero da maior relevância. O primeiro diz respeito a uma virtude rara de se encontrar em profissionais que têm a responsabilidade de liderar pessoas: a capacidade de manter a tranqüilidade e a calma nas horas de crise e de tensão. Nessas horas, mais do que em qualquer outra, só verdadeiros líderes conseguem manter suas equipes motivadas e focadas nos objetivos a serem alcançados. Nessas horas, torna-se muitas vezes bem clara a diferença entre chefe e líder. Enquanto o último consegue obter o respeito e servir de exemplo para seus comandados, o primeiro acaba freqüentemente fazendo uso de palavras e atitudes que detonam a motivação e o clima predominantes na empresa. Como observa Floriano Serra:
É justamente nos momentos de maior crise ou tensão que a autovigilância sobre o que se diz deve ser mais acentuada. Todo cuidado é pouco com as palavras. “Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”, diz o provérbio chinês.
O outro aspecto refere-se à coexistência entre o bom ambiente e a busca do lucro. Afinal, vivemos num mundo altamente competitivo e a obtenção de lucros é fundamental para que uma empresa possa fazer os investimentos sem os quais ela não conseguiria manter posição de destaque no cenário empresarial. Sobre isso, assim se pronuncia Floriano Serra:
Claro que na Empresa-Sorriso o lucro também é importante e, na busca dele, ninguém brinca em serviço. Ou melhor, até brinca, na medida em que todos aprendem a conviver e a se divertir com os desafios. Mas, como em tudo na vida, há limites. A diferença é que na Empresa-Sorriso os limites são bem definidos. Por exemplo: nenhum milhão de lucro a mais vale o sofrimento, a infelicidade ou a doença de um só colaborador, porque a Empresa-Sorriso sabe que o conceito de lucro é relativo. Uma empresa “doente” – rígida, mal humorada, antiética, injusta, repressora – jamais pode se considerar lucrativa por mais que suas receitas superem suas despesas.
Eunice Soriano de Alencar, uma das mais respeitadas especialistas brasileiras em criatividade, traçou, no livro A gerência da criatividade, o seguinte perfil de uma organização criativa:
O perfil de uma organização criativa
Capacidade de adaptação em um mundo em rápida mudança, marcado pela incerteza, competição crescente e turbulências.
Respeito, no ambiente de trabalho, à dignidade e valorização dos indivíduos.
Intensa atividade de treinamento e aperfeiçoamento de seus quadros.
Administração orientada para o futuro.
Tolerância e aceitação das diferenças e diversidades entre seus membros.
Incorporação de criatividade, novos procedimentos políticos e experiências.
Valorização das idéias inovadoras.
Autonomia e flexibilidade presentes.
Não é fácil encontrar todas essas características – ao mesmo tempo – numa mesma empresa. Você, amigo internauta, conhece alguma?
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