São Paulo, capital criativa

 

Onde a vida acontece

 

Alguma coisa acontece no meu coração Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi Da dura poesia concreta de tuas esquinas Da deselegância discreta de tuas meninas

Caetano Veloso

 

Meu artigo desta semana deve-se a duas razões especiais.

A primeira delas é que meu artigo de estreia para estas Iscas Intelectuais, há exatos 7 anos, teve por título São Paulo em destaque, razão suficiente para que eu volte a escrever sobre esta fantástica cidade – apesar de todos os seus problemas, como toda e qualquer cidade, inclusive as criativas.

A segunda é para reparar uma falha. Na série de artigos sobre Economia criativa, um dos quais versando justamente sobre Cidades criativas, não incluí a capital paulista entre as mencionadas.

Embora não seja conhecida por suas belezas naturais exuberantes, como o Rio de Janeiro, por seu folclore e tradição histórica, como Salvador e Recife, por sua importância estratégica como algumas cidades da Amazônia ou por ser sede a sede administrativa do País como Brasília, São Paulo é a cidade brasileira que exprime melhor o que é ser uma cidade criativa.

Pela extraordinária capacidade de combinar o que Charles Landry denomina de infraestruturas soft e hard, São Paulo consegue reunir como nenhuma outra cidade brasileira – e bem poucas no mundo – um grande número de espaços e um elevadíssimo número de eventos criativos, o que a transforma numa cidade que tem atrações a oferecer em praticamente todos os dias do ano.

Ana Carla Fonseca Reis e André Urani referem-se a isso da seguinte forma:

Como exemplo, tomemos São Paulo, esse microcosmo de efervescência cultural e econômica, no qual convivem cerca de 11 milhões de paulistanos, por nascimento ou escolha, contribuindo com 15% do PIB nacional – para não falar dos outros 38 municípios da região metropolitana, que somam mais 10 milhões de pessoas. O frenesi da cidade mais populosa do Hemisfério Sul e centro financeiro da América Latina é sustentado por uma agenda cultural que parece inesgotável, por equipamentos culturais de primeira linha, polos tecnológicos e acadêmicos e uma diversidade multicultural tecida por várias nacionalidades, etnias e formações. A capital paulistana abriga hoje 90.000 eventos anuais, 12.500 restaurantes, pessoas de todo o mundo e foi eleita por duas vezes o melhor destino de negócios da América Latina.

A esses dados citados por Reis e Urani, eu acrescentaria que São Paulo possui a segunda Bolsa de Valores das Américas, perdendo apenas para a de Nova York, concentra 63% das multinacionais instaladas no País, seus 12.500 restaurantes oferecem 532 tipos de cozinha e a Virada Cultural oferece mais de 350 atrações durante 24 horas, número que cresce ano a ano. Além disso, a cidade dispõe de 120 teatros, 280 salas de cinema, 88 museus, 11 centros culturais e mais de 70 shopping centers.

De acordo com estudo realizado pela FUNDAP, sob a coordenação da Secretaria do Governo Municipal, “apenas na cidade de São Paulo, mais de 9% das empresas dedicam-se a algum tipo de atividade criativa. O número de empresas nestes setores tem crescido a um ritmo muito superior ao da média da economia, sendo que em 2009, elas já empregavam cerca de 140 mil trabalhadores formais, o que corresponde a 3% de todo o emprego formal na cidade”.

Diante desses números, não é difícil entender o entusiasmo da Caio Luiz de Carvalho, ex-presidente da São Paulo Turismo. Inicialmente, ao caracterizar São Paulo como uma cidade criativa:

A economia criativa tem o poder de transformar, de mudar, de dividir, de repartir e de incluir. A cidade criativa é aquela que estimula os talentos, a diversidade e dá condições para que se agregue valor econômico e se dê vazão à geração de negócios a partir disso.

Conectando atores sociais, como governos, empreendedores e empresários, instituições, escolas e universidades, é possível desenvolver uma estrutura que pode ser chamada, como gostam os adeptos da programação Neurolinguística, de “ganha-ganha”, onde o capital de conhecimento é alavancado, trazendo benefícios para todos e de forma mais igualitária.

Uma cidade criativa une várias ferramentas e cria uma política para o desenvolvimento, utilizando os setores culturais e criativos. Esse conceito, que começa a vingar e a se espalhar mundo afora, passa a ser difundido também na capital paulista, centro econômico do Brasil e onde existe um caldeirão efervescente de cultura, diversidade e criatividade.

Por meio de suas tribos, seus talentos e seus “heróis” empreendedores, ora anônimos, foi que surgiram na metrópole lugares como a Vila Madalena, a nova Augusta, o Mercadão, os vários museus e centros culturais, e eventos como a Virada Cultural, as Bienais, a Mostra Internacional de Cinema, a São Paulo Fashion Week, a Parada Gay e tantos outros.

Por fim, ao se referir à potencialidade ainda a ser explorada pela cidade:

Um breve olhar sobre a cidade de São Paulo permite constatar que ela vive um grande momento, cada vez mais criativa, com diversidade cultural invejável, onde tribos e talentos convivem e produzem riquezas. A cidade, mesmo com os problemas sociais inerentes ao gigantismo de qualquer metrópole, cede espaço também para uma cidade global, antenada, que processa o conhecimento, seus valores culturais e sua diversidade. E uma coisa vai ajudar a outra.

Lembro-me de um comercial veiculado há muitos anos que dizia: “Shopping Iguatemi, onde a vida acontece”.

Peço licença aos criadores dessa magnífica peça para utilizá-la no encerramento deste artigo comemorativo que é uma verdadeira declaração de amor à cidade:

“São Paulo, onde a vida acontece!”

 

Referências e indicações bibliográficas

CAIADO, Aurílio Sérgio Costa (coordenador). Economia Criativa na Cidade de São Paulo: diagnóstico e potencialidade. São Paulo: FUNDAP, 2011.

CARVALHO, Caio Luiz de. Cidades criativas e a transformação. Em REIS, Ana Carla Fonseca e Kageyama, Peter (organizadores). Cidades criativas: perspectivas. São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011, pp. 18 – 20.

FLORIDA, Richard. La clase creativa. Buenos Aires: Paidós, 2010.

LANDRY, Charles. Cidade criativa: a história de um conceito. Em REIS, Ana Carla Fonseca e Kageyama, Peter (organizadores). Cidades criativas: perspectivas. São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011, pp. 7 – 15.

HOWKINS, John. The creative economy: how people make money from ideas.London: Penguin UK, 2001.

REIS, Ana Carla Fonseca e Kageyama, Peter (organizadores). Cidades criativas: perspectivas. São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011.

REIS, Ana Carla Fonseca e URANI, André. Cidades criativas – perspectivas brasileiras. Em REIS, Ana Carla Fonseca e Kageyama, Peter (organizadores). Cidades criativas: perspectivas. São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011, pp. 30 – 37.

VIVAN, Elsa. O que e uma cidade criativa? Tradução de Camila Fialho. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2012.

Referências e indicações webgráficas

CRIATICIDADES – Cidades criativas do Brasil. Disponível em http://www.criaticidades.com.br/.

MACHADO, Luiz Alberto. São Paulo é destaque. Disponível em http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=3614.

_______________ Economia Criativa I – Guinada para o social. Disponível em http://www.portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/ciencia-e-tecnologia/economicas/economia-criativa-i-guinada-para-o-social.

_______________ Economia Criativa II – Definições e abrangência. Disponível em http://www.portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/ciencia-e-tecnologia/economicas/economia-criativa-ii-definicoes-e-abrangencia.

_______________ Economia Criativa III – Tendências e impacto estratégico. Disponível em http://www.portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/ciencia-e-tecnologia/economicas/economia-criativa-iii-tendencias-e-impacto-estrategico.

_______________ Economia Criativa IV – Cidades criativas. Disponível em http://www.portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/ciencia-e-tecnologia/economicas/economias-criativas-iv-cidades-criativas.

_______________ Economia Criativa V – Principais desafios. Disponível em http://www.portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/ciencia-e-tecnologia/economicas/economia-criativa-v-principais-desafios.