Economia Criativa II

 

Definições e abrangência

 

“A economia criativa gira em torno de uma coisa só:
a ideia ou, usando uma das palavras preferidas
quando se analisa o assunto, o intangível.”

Victor Mirshawka

Neste segundo artigo referente à economia criativa, vou me ater a dois aspectos: sua definição e sua abrangência.

Com relação ao primeiro deles, existe ainda certa controvérsia terminológica envolvendo expressões como “economia criativa”, “indústrias criativas” ou “economia da cultura”.

Eu mesmo comecei a ser alertado para a sua importância em 2005, quando tive a honra de passar a trabalhar, na Diretoria da Faculdade de Economia da FAAP, com o embaixador Rubens Ricupero, que nos nove anos anteriores havia ocupado o cargo de secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, mais conhecida mesmo no Brasil por sua sigla em inglês, UNCTAD. O embaixador utilizava o termo indústrias criativas e chamava atenção para o potencial do Brasil, por sua pujança econômica, sua diversidade social e sua efervescência cultural.

De minha parte, no entanto, optarei nesta série de artigos pela primeira delas, ou seja, “economia criativa”.

A economia criativa tem sua origem na habilidade, criatividade e talentos individuais que, empregados de forma estratégica, têm potencial para a criação de renda e empregos por meio da geração e exploração da propriedade intelectual (PI).

Seguem-se as definições de algumas das entidades que tem de dedicado ao tema:

A UNESCO trabalha com o conceito de economia da cultura, que engloba atividades relacionadas “à criação, produção e comercialização de conteúdos que são intangíveis e culturais em sua natureza e que estão protegidos pelo direito autoral e podem tomar a forma de bens e serviços. São intensivos em trabalho e conhecimento e estimulam a criatividade e incentivam a inovação dos processos de produção e comercialização”.

Para a UNCTAD, a economia criativa “é um dos setores mais dinâmicos do comércio internacional, gera crescimento, empregos, divisas, inclusão social e desenvolvimento humano. É o ciclo que engloba a criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam o conhecimento, a criatividade e o ativo intelectual como principais recursos produtivos”.

O Reino Unido trabalha com o conceito de indústrias criativas, definidas pelo seu Department of Culture, Media and Sport em 2001 como “aquelas indústrias que têm sua origem na criatividade, na habilidade e nos talentos individuais e que têm o potencial para a geração de riqueza e de trabalho por intermédio da criação e da exploração da propriedade intelectual: propaganda, arquitetura, mercados de arte e antiguidades, artesanato, design, design de moda, filme e vídeo, softwares interativos de lazer, música, artes performáticas, publicações, software e serviços de computação, televisão e rádio. É diferente de país para país”.

Com relação ao segundo aspecto, qual seja, o da abrangência da economia criativa, o Relatório Anual de 2010 da UNCTAD (que serviu de referência para uma série de informações contidas neste artigo) apresenta um quadro com os sistemas de classificação das economias criativas derivadas de diferentes modelos. Não é fácil reuni-los, dadas as inúmeras possibilidades de interação e/ou superposição entre as diversas áreas e atividades abarcadas pela economia criativa. Segue-se uma tentativa de fazer essa reunião. Espero que ela sirva, pelo menos, para mostrar a abrangência da mesma:

• Arquitetura e Design
• Artes Performáticas, Gráficas e Visuais
• Cinema, Vídeo, Rádio e Televisão
• Congressos, Feiras e Convenções
• Cultura, Turismo e Entretenimento
• Esportes
• Folclore
• Gastronomia
• Mercado de Artes, Antiguidade e Artesanato
• Moda
• Museus, Galerias e Livrarias
• Música
• Propaganda e Publicidade
• Publicação e Editoração
• Software de Lazer e Jogos de Computador

Concluindo este segundo artigo da série, podemos considerar a economia criativa como sendo a essência da economia do conhecimento, onde consumidores e criadores se confundem, assim como as empresas são ao mesmo tempo provedoras e consumidoras de serviços e bens sofisticados. Consumidores mais sofisticados obrigam as empresas a se sofisticarem e, ao fazê-lo, as empresas geram empregos e renda que estimulam novas demandas.

Referências e indicações bibliográficas

A ECONOMIA Criativa. Gerente de Cidade, nº 56, ano 14, out/nov/dez de 2010, pp. 20 – 35.

FLORIDA, Richard. La clase creativa. Buenos Aires: Paidós, 2010.

GOLDENSTEIN, Lídia. O desafio da economia criativa. Digesto Econômico LXV: 458 (maio 2010).

HOWKINS, John. The creative economy: how people make money from ideas. London: Penguin UK, 2001.

REIS, Ana Carla Fonseca. Economia da cultura e desenvolvimento sustentável: o caleidoscópio da cultura. Barueri, SP: Manole, 2007.

UNITED Nations. Creative Economy: A Feasible Development Option. Creative Economy Report 2010. Geneva/New York: UNCTAD/UNDP, 2010.