Economia Criativa III – Tendências e impacto estratégico
“Cada vez mais o sucesso de uma economia
depende do sucesso de seu setor criativo que, por
sua vez, depende do sucesso do setor cultural”.
Lídia Goldenstein
Neste terceiro artigo da série sobre a Economia Criativa, apresentarei, inicialmente, alguns dados divulgados por diferentes instituições, a fim de mostrar o papel que ela representa entre as grandes tendências da economia contemporânea. Em seguida, farei algumas considerações a respeito do caráter estratégico da Economia Criativa e de seu impacto na própria compreensão do fenômeno do desenvolvimento.
- A Economia Criativa como estratégia de desenvolvimento e sustentabilidade
A Economia Criativa é, segundo tendências mundiais, o grande motor do desenvolvimento no século XXI.
Segundo a ONU é um setor que já é responsável por 10% do PIB mundial.
A UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) divulga que, entre 2000 e 2005, os produtos e serviços criativos mundiais cresceram a uma taxa média anual de 8,7%, o que significa duas vezes mais do que manufaturas e quatro vezes mais do que a indústria.
De forma muito simplificada, podemos dizer que se trata de um setor que reúne as atividades que têm, na cultura e criatividade, a sua matéria-prima.
Pensando em termos de Brasil, podemos afirmar que a Economia Criativa de constitui num conceito amplo o suficiente para incluir nossa diversidade, tanto de linguagem quanto de modelos de negócios, englobando uma vasta gama que vai do indivíduo que trabalha na educação complementar por meio de música a uma grife de roupas ou de automóveis de luxo.
Em entrevista recém-concedida à Fundação Verde Herbert Daniel, ligada ao Partido Verde (PV), Cláudia Leitão, titular da Secretaria da Economia Criativa (SEC), vinculada ao Ministério da Cultura, afirmou que “segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a participação dos setores criativos no PIB do Brasil atingiu em 2010 o montante de R$ 95,157 bilhões, ocupando cerca de 4.287.264 do total de trabalhadores do país”. A essa informação de caráter mais geral, acrescentou: “Estes dados são ampliados quando levamos em consideração que os mesmos correspondem aos resultados de uma economia formal. Um grande percentual dos empreendimentos e profissionais dos setores criativos brasileiros atua na informalidade. Porém, a equipe da Secretaria da Economia Criativa esteve reunida com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) e com o IBGE para firmar parcerias e incluir em sua rotina pesquisas sistêmicas ao setor”.
- Por que a Economia Criativa é estratégica?
O grande diferencial da Economia Criativa é que ela promove desenvolvimento sustentável e humano e não mero crescimento econômico. Este, definido como a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de um país, não passa, em última instância, de uma variação de ordem meramente quantitativa, como expliquei em detalhes num artigo anterior nestas mesmas Iscas Intelectuais.
Quando trabalhamos com criatividade e cultura, atuamos simultaneamente em quatro dimensões: econômica (em geral, a única percebida), social, simbólica e ambiental.
Portanto, uma das características mais marcantes da Economia Criativa reside em seu caráter multidisciplinar, como pode ser observado na figura 1 (anexa).
Figura 1 – Dimensão de desenvolvimento da Economia Criativa
As características citadas permitem que, ao promover a inclusão de segmentos periféricos da população mundial, ela também forme mercados.
Afinal, não é mais possível só brigar por fatias de um mercado que englobem apenas 30 a 40% da população mundial. É preciso fazer com que os 60 a 70% restantes adquiram cidadania de fato, conquistando também seu papel como consumidor.
Uma vez que cultura, criatividade e conhecimento (matérias-primas da Economia Criativa) são os únicos recursos que não se esgotam, mas se renovam e multiplicam com o uso, são estratégicos para a sustentabilidade do planeta, de nossa espécie e, consequentemente, das empresas também.
Vale a pena observar que esse caráter de inesgotabilidade dos recursos básicos da Economia Criativa abre a perspectiva de um novo paradigma para a teoria econômica e para as teorias de desenvolvimento socioeconômico, uma vez que, até agora, o paradigma predominante considerava limitados os recursos básicos utilizados nessas teorias: a terra (recursos naturais), o trabalho (recursos humanos) e o capital (financeiro e tecnológico).
Como bem observa o professor Mario Pascarelli, coordenador geral dos cursos de pós-graduação Gerente de Cidade, promovidos pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP): “A Economia Criativa é como a galinha de ovos de ouro. Os países desenvolvidos já perceberam o enorme potencial deste setor e muitos fizeram da Economia Criativa uma questão de Estado”.
O Brasil possui um imenso potencial, mas a falta de informação de lideranças empresariais e governamentais resulta numa triste receita da culinária nacional: estamos fazendo canja com galinha de ovos de ouro. Isso acontece a cada vez que perdemos a oportunidade de inovar, agregar valor e competitividade por meio de investimentos em produtos e processos que tenham seu diferencial na cultura.
Referências e indicações bibliográficas
A ECONOMIA Criativa. Gerente de Cidade, nº 56, ano 14, out/nov/dez de 2010, pp. 20 – 35.
FLORIDA, Richard. La clase creativa. Buenos Aires: Paidós, 2010.
GOLDENSTEIN, Lídia. O desafio da economia criativa. Digesto Econômico LXV: 458 (maio 2010).
HOWKINS, John. The creative economy: how people make money from ideas.London: Penguin UK, 2001.
REIS, Ana Carla Fonseca. Economia da cultura e desenvolvimento sustentável: o caleidoscópio da cultura. Barueri, SP: Manole, 2007.
UNITED Nations. Creative Economy: A Feasible Development Option. Creative Economy Report 2010. Geneva/New York: UNCTAD/UNDP, 2010.
Referências e indicações webgráficas
A ECONOMIA Criativa no Brasil. Entrevista com Cláudia Leitão, do Ministério da Cultura. Disponível em http://www.blogfvhd.org/destaques/entrevista-com-claudia-leitao-do-ministerio-da-cultura-%E2%80%93-a-economia-criativa-no-brasil/.
MACHADO, Luiz Alberto. Entendendo a economia – Desenvolvimento X Crescimento econômico. Disponível em http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=3629.
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