Economia Criativa IV

 

Cidades criativas

 

“Não há uma fórmula única para a economia criativa
desenvolver-se. Liverpool aproveitou sua fortaleza,
a música, como ponto de partida. Em outros países,
as características podem ser diferentes, da mesma
forma que o ambiente de negócios varia.”

David Parrish

À medida que o conceito de Economia Criativa foi ganhando força e se disseminando internacionalmente, diversas cidades (e regiões) tomaram a decisão de apostar na ideia e de basear seu desenvolvimento, parcial ou integralmente, no enorme potencial que ela possui.

No dia 24 de janeiro de 2012, esteve em São Paulo uma das mais reconhecidas autoridades mundiais no tema “Cidades Criativas”, a britânica Anamaria Wills, que numa feliz iniciativa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Serviço Social da Indústria (Sesi), discorreu sobre o tema Cidades Criativas – transformando a cidade por sua criatividade.

Na oportunidade, atuou como mediadora a economista Ana Carla Fonseca Reis, coautora do livro Economia da Cultura e autora de Desenvolvimento Sustentável: o Caleidoscópio da Cultura, ganhador do Prêmio Jabuti 2007. Na apresentação da expositora, Ana Carla fez questão de falar sobre a importância do tema, dizendo:

A economia criativa, ao reunir setores culturais e da economia do conhecimento, abrangendo design, propaganda, arquitetura, moda, software de lazer e outros, reforça a importância do reconhecimento das singularidades e das potencialidades para diferenciar produtos e serviços. Em diálogo íntimo com esse conceito, as cidades criativas também se baseiam em suas singularidades para catalisar um processo de mudança em um mundo cada vez mais globalizado, mas nem por isso mais integrado ou inclusivo.  A transformação desse mundo em outro que desejamos parte da revisão dos espaços onde vivemos. Tema ainda em evolução no Brasil, as cidades criativas se apresentam com locais nos quais se busca a conciliação das dinâmicas econômicas, sociais, culturais e urbanísticas. Quimera?Talvez nem tanto. Em um estudo desenvolvido junto a 18 autores de 13 países, de perfis tão diversos como Taiwan e Noruega, Estados Unidos e África do Sul, pude constatar que há três traços comuns às cidades que se pretendem criativas, independentemente de sua escala, de sua história ou de sua situação socioeconômica.Inovações, conexões e cultura formam o tripé de uma    cidade na qual a criatividade é vista como fator diferencial.

Na sequência, examinando o potencial da capital paulista enquanto cidade criativa, afirmou Ana Carla:

São Paulo, por sua pujança econômica, sua diversidade  social e sua efervescência cultural, não poderia se furtar a participar desse debate. Criar um ambiente favorável à concretização do potencial criativo da nossa cidade, verdadeiro acervo de obras em eterna criação e em constante  transformação, no qual negócios e empreendimentos floresçam, no qual os espaços públicos sejam cada vez mais espaços de todos e não terra de ninguém, é premente e possível. Na São Paulo de camadas de tintas culturais sobrepostas, traços desenhados a milhões de mãos e contornos identitários multifacetados, em um caleidoscópio de naturalidades, nacionalidades, valores, atividades e sonhos, a singularidade repousa na multiplicidade de caminhos possíveis.

Considerando todos os aspectos já mencionados, constata-se que algumas cidades acabaram se transformando em verdadeiros ícones, sendo mencionadas frequentemente como exemplos de cidades criativas.

Dada a vastidão do conceito de Economia Criativa e a ampla quantidade de áreas por ela abarcada, o fator principal que as impulsionou transformando-as em exemplos de cidades criativas difere bastante. Por esse motivo, apresento, na sequência, alguns exemplos que considero relevantes de cidades criativas, tanto no Brasil como no exterior, com uma breve descrição de seus principais atrativos.

Parintins

Em 1994, na fase intermediária do Plano Real, enquanto ainda tínhamos a URV (Unidade Real de Valor) em pleno vigor, e, portanto, antes da introdução do real como moeda de curso legal, fui convidado a falar sobre economia em Santarém, nas Faculdades Integradas do Tapajós (FIT). Mais por coerência do que por convicção, já que havia sido um crítico veemente dos planos anteriores de estabilização de caráter fortemente heterodoxo, em grande parte baseados no tabelamento de preços e no congelamento de salários, resolvi apostar no sucesso do Plano Real. Como a estabilização propiciada por ele se consolidou e se projetou no tempo, ao contrário do que havia acontecido com os planos anteriores, acabei sendo convidado várias outras vezes para retornar ao local. Numa delas, o convite foi para falar na Fundação Esperança no final de junho. Diante da minha estranheza com relação à data do evento, por se tratar de final de semestre, recebi dos organizadores a resposta de que a época tinha sido escolhida “a dedo” e que eu iria ter uma surpresa, razão pela qual deveria reservar uns dois ou três dias a mais para lá permanecer.

Sem entender direito, fui para Santarém, fiz a exposição e, logo após, embarquei num daqueles barcos típicos da região amazônica e fui para Parintins. Como, naquela época, a Festa do Boi ainda não era muito conhecida, em especial nas outras regiões do Brasil, vivi uma das experiências mais fantásticas da minha vida assistindo à disputa entre as tradicionais agremiações do Caprichoso e do Garantido.

Retornando a São Paulo, contei a muitas pessoas o que havia visto e a eloquência era tal que muita gente achou que eu tinha enlouquecido ou havia sido contaminado por algum vírus regional. Quando, pouco depois, a Festa do Boi se tornou mais conhecida, passando a ser mostrada pela televisão para todo o Brasil, as pessoas foram constatando que eu não estava louco e que o espetáculo proporcionado naquela longínqua cidade do Amazonas era realmente extraordinário.

De lá para cá a situação evoluiu consideravelmente. Não só a Festa do Boi atrai anualmente um número crescente de turistas nacionais e estrangeiros para a cidade, mas também a estrutura criada em torno da mesma permite que uma atração pontual tenha se transformado num negócio duradouro e altamente gerador de emprego e renda. As duas agremiações, Caprichoso e Garantido, possuem grupos que se apresentam durante todo o ano em eventos no Brasil e no exterior, CDs e vídeos são comercializados em volume expressivo e muitos dos artesãos responsáveis pela confecção das fantasias, dos adereços e das alegorias prestam serviços para escolas de samba das principais capitais do Brasil.

Caruaru/Campina Grande

Muito difundidas em todo o nordeste do País, as festas juninas assumem uma importância ainda maior em cidades como Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco, transformando-se, também, em excelentes exemplos de cidades criativas.

Nessas localidades, os festejos se estendem por todo o mês de junho, o que exige uma gama enorme de providências preparatórias, gerando atividades para uma extensa cadeia que se beneficia dos empregos e da renda assim gerados.

As festas juninas, aliás, deixaram já a algum tempo de serem atrações apenas no centro-oeste e no nordeste do Brasil. Aqui mesmo, na capital paulista, clubes tradicionais como o Esporte Clube Pinheiros e o Clube Paineiras do Morumbi têm nelas uma de suas principais fontes de renda, atraindo um público numeroso para suas dependências, ávido para desfrutar das atrações oferecidas, pelas comidas, bebidas e doces típicos e pelos shows com os mais renomados astros da música sertaneja. O mesmo, numa proporção mais reduzida, ocorre em diversos colégios de São Paulo e de outras cidades brasileiras.

Blumenau

Blumenau, cidade mais importante de Santa Catarina, com uma população de 309.000 habitantes, é outro ótimo exemplo de como uma cidade pode se projetar explorando alguma das áreas abrangidas pela Economia Criativa. Inspirada no exemplo de Munique e de outras cidades alemãs, Blumenau começou a promover a sua Oktoberfest com a extensão de um fim de semana prolongado, no acanhado espaço reservado aos eventos e exposições locais.

O sucesso alcançado passou a atrair um número cada vez maior de visitantes, o que exigiu enormes transformações na estrutura e na organização do evento.

Realizado atualmente nas excelentes instalações do Centro de Eventos, com duração de quase três semanas, a Oktoberfest é hoje uma das mais concorridas atrações do sul do País, atraindo milhões de pessoas a cada nova edição e proporcionando trabalho diretamente para diferentes grupos de pessoas: músicos, bailarinos, artistas, produtores de artesanato, cozinheiros, garçons, recepcionistas, seguranças etc. A Oktoberfest também gera emprego e renda para toda a cadeia de hotéis e restaurantes de Blumenau e adjacências, além de estimular o turismo de outras regiões do estado, uma vez que muitos dos turistas que se dirigem a Santa Catarina com o intuito de participar da festa acabam aproveitando para conhecer também outras atrações nas proximidades como, por exemplo, as praias de Florianópolis e o Beto Carrero World.

Orlando

Já que encerrei o item anterior falando em parques temáticos, nada como começar o breve relato de cidades criativas estrangeiras por Orlando.

Quem tem a oportunidade de visitar Orlando nos dias de hoje, com seus 238.300 habitantes (segundo o censo nacional de 2010, sua região metropolitana ultrapassa 2 milhões de habitantes) e um fluxo de turistas de fazer inveja a qualquer cidade do mundo, uma rede hoteleira sensacional, uma incrível quantidade de condomínios, um comércio movimentadíssimo, além de seus inúmeros e variadíssimos parques temáticos, dificilmente pode imaginar que grande parte da área onde tudo isso se concentra não passava de um enorme pântano a pouco mais de 40 anos atrás.

O primeiro dos parques instalados em Lake Buena Vista, nos arredores de Orlando e de Kissimmee, atualmente conhecida como Magic Kingdom, foi inaugurado em 1º de outubro de 1971, tornando realidade o sonho de Walt Disney, que não viveu para ver a concretização de seu maior sonho, pois faleceu menos de cinco anos antes, no dia 15 de dezembro de 1966. Ele havia criado a Disneylândia, em Los Angeles, no ano de 1955.

De acordo com o livro Nos bastidores da Disney, de Tom Connellan, o índice de retorno daqueles que têm a oportunidade de visitar o complexo Disney chega a 71%. E tenho a forte sensação que os 29% restantes deixaram de voltar não porque quiseram, mas porque não puderam.

Quem prestar atenção encontrará uma placa com os seguintes dizeres na Main Street:

Walt Disney World é um tributo à filosofia e à vida de Walter Elias Disney… e para o talento, a dedicação e lealdade de toda a organização Disney que tornou o seu sonho realidade. Que Walt Disney World traga alegria, inspiração e novos conhecimentos a todos que venham a este lugar feliz… um Reino Mágico onde todos os jovens de coração de todas as idades podem rir, brincar e aprender – juntos.

Antes de encerrar este breve comentário sobre Orlando, não poderia deixar de registrar a incrível capacidade de se renovar dos parques temáticos, incorporando permanentemente novas atrações, com o objetivo de manter viva a capacidade de sonhar de seus visitantes e de fazer com que os mesmos voltem inúmeras vezes, com a certeza de que terão novas razões para se divertir e, por que não, para se emocionar.

A revista Gerente de Cidade nº 56, de outubro/novembro/dezembro de 2010, apresenta uma matéria exatamente sobre esse aspecto, mencionando o enorme interesse despertado pelo Mundo Mágico de Harry Potter, uma das atrações mais impactantes, incorporada recentemente a um dos parques da Universal Studios.

Las Vegas

Se Orlando, na Flórida, se consagrou como a “capital mundial dos parques temáticos”, investindo pesadamente numa forma de entretenimento, Las Vegas, em Nevada, tornou-se conhecida como a “capital mundial do jogo”, com elevados investimentos em outros tipos de entretenimento, tendo à frente o intenso prazer que muitas pessoas sentem ao participarem de jogos de azar.

É exatamente isso que oferecem prioritariamente os imensos cassinos existentes em Las Vegas, a maior parte dos quais instalados nas dependências de hotéis luxuosos que disponibilizam milhares de quartos aos visitantes que chegam ininterruptamente à cidade.

E o que era Las Vegas antes da construção dos cassinos que a tornaram essa cidade pujante que é atualmente? Não passava de uma planície árida encravada em extensa e desértica região do estado de Nevada.

O jogo, legalizado em 1931, levou ao surgimento dos cassinos-hotéis que garantem parte da fama internacional da cidade. O êxito inicial dos cassinos na cidade está relacionado ao crime organizado. A maioria dos primeiros grandes cassinos era gerenciada ou financiada por figuras da máfia. No final da década de 1960, o bilionário Howard Hughes comprou muitos cassinos, hotéis e estações de televisão na cidade. Depois disso, corporações legítimas começaram a comprar hotéis-cassinos, e a máfia foi sendo exterminada pelo governo federal ao longo dos anos seguintes. O constante fluxo de dólares de turistas dos hotéis e cassinos também foi reforçado por uma nova fonte de capital federal. Esse capital veio com a criação da Base Área de Nellis. O fluxo do pessoal militar e a criação direta de empregos nos cassinos ajudaram a iniciar uma explosão imobiliária que continua até os dias de hoje. A era dos megaresorts cassinos teve início no dia 22 de novembro de 1989, com a abertura do The Mirage. Segundo o censo nacional de 2010, a cidade propriamente dita possui 583.756 habitantes e sua região metropolitana possui cerca de 1,9 milhão de habitantes.

Mas quem pensa que o sucesso e o interesse despertados por Las Vegas residem apenas nas maquininhas caça-níqueis ou nas mesas de roleta, blackjack (vinte e um) ou baccarat de seus cassinos está redondamente enganado. Milhões de pessoas acorrem anualmente à cidade sem qualquer interesse pelos diferentes tipos de jogo oferecidos por seus cassinos. Vão para lá atraídas por outras formas de entretenimento que a cidade oferece, como as convenções, os shows com alguns dos mais famosos astros internacionais, as lutas em disputa dos títulos mundiais de boxe ou os espetáculos de companhias como o Cirque du Soleil, que tem permanentemente à disposição dos visitantes de Las Vegas diversas de suas atrações, inclusive algumas das mais recentes, como os espetáculos em homenagem aos Beatles e a Michael Jackson.

Quem se dispuser a percorrer os cassinos ao longo da Strip, a avenida que concentra os principais hotéis e cassinos da cidade, certamente ficará impressionado com a intensa concorrência existente na cidade. Cada um desses hotéis-cassino se constitui num mega investimento que procura atrair o visitante oferecendo o melhor breakfast da cidade, o almoço com maior quantidade de opções, a melhor área de lazer, os mais atraentes passeios turísticos na região ou o artista mais consagrado para o show daquela noite.

O centro de Las Vegas, num dos extremos da Strip, com alguns dos cassinos mais antigos e tradicionais da cidade, também impressiona pela intensa luminosidade dos letreiros e das fachadas, num espetáculo eletrizante.

Mas ir a Las Vegas e não entrar – pelo menos para conhecer – em seus imensos cassinos é como “ir a Roma e não ver o Papa”. Com áreas enormes, ambientes escuros e artificialmente iluminados, tiram intencionalmente dos mais fanáticos a própria noção da separação entre o dia e a noite. E assim, infelizmente, muitos acabam se arruinando financeiramente. Afinal, a “casa nunca perde”!

Los Angeles

Mencionar Los Angeles como cidade criativa abre uma gama enorme de possibilidades. Mundialmente afamada por Hollywood e seus estúdios de cinema, poderia ser examinada especificamente por essa faceta. E, de fato, muita gente ainda é atraída à cidade por atrações diretamente relacionadas ao mundo do cinema, como a calçada da fama, as mansões de artistas famosos em Beverly Hills ou as lojas de grifes da Rodeo Drive, onde, de repente, acontece de se “esbarrar” com Demi Moore, Julia Roberts, Nicolas Cage ou Brad Pitt.

Minha preferência, no entanto, é no sentido de chamar a atenção de uma característica que pode ser observada em diversas cidades – não apenas norte-americanas – que tem seu núcleo nevrálgico em enormes centros de convenções e arenas multiuso. Em Los Angeles, particularmente, este núcleo se localiza no Staples Center, o local em que são realizadas as partidas de basquete das duas equipes locais, LA Lakers e LA Clippers, e da equipe de hóquei, LA Kings. Em poucas horas o espaço destinado à realização dos jogos é transformado de um rinque de patinação numa quadra de basquete e redecorada com as cores e símbolos de cada uma das equipes. Ao lado do Staples Center, situa-se o gigantesco Centro de Convenções, cuja agenda encontra-se ocupada em praticamente todos os dias do ano.

No entorno, além de milhares de vagas de estacionamento (Los Angeles também é conhecida por ter uma das maiores frotas de automóveis de todo o mundo), há um expressivo número de bares, restaurantes e hotéis, cada um deles com aproximadamente 1.000 quartos.

Essa mesma lógica pode ser vista em diversas outras cidades, algumas delas de porte bem menor do que Los Angeles, como é o caso Atlanta, na Georgia, e de San Antonio, no Texas.

Denver

Se as singularidades das cidades criativas até agora citadas residem em festas populares ou religiosas, em jogos de azar, em parques temáticos ou em convenções e espetáculos esportivos, a inclusão de Denver se justifica por uma razão diferente e, de certa forma recente, já conhecida como aerotrópole. A revista Gerente de Cidade nº 60, de Out/Nov/Dez de2011 traz excelente matéria a respeito.

Da mesma forma que ocorre em Denver, há em diversas partes do mundo exemplos de aeroportos que se transformaram em autênticos centros de negócios, oferecendo serviços inerentes não apenas à atividade aeroportuária, mas também uma série de outros serviços culturais, gastronômicos ou de entretenimento e lazer.

Ao se transformarem em centros fornecedores de múltiplos serviços, esses aeroportos se tornaram catalisadores de recursos e impulsionadores do desenvolvimento das regiões em que estão localizados, chegando mesmo, algumas vezes, a alterar o perfil geográfico e demográfico das mesmas.

Se, de certa forma, esse fenômeno já havia ocorrido no passado em Amsterdã, na Holanda, com o aeroporto de Schiphol, com muito maior frequência vem ocorrendo nos últimos tempos, graças à própria expansão da aviação e expressivo aumento do número de viajantes de avião. São exemplos disso aeroportos de cidades que são hubs de grandes companhias aéreas como Cincinnati ou Atlanta, ou mesmo de grandes cidades que tiveram as áreas próximas de seus aeroportos amplamente desenvolvidas tais como Washington, Hong Kong, Curitiba e tantas outras.

Paris

Paris é uma cidade tão espetacular e consegue atrair visitantes de todas as partes do mundo por tantas razões, que pode até parecer estranho incluí-la entre os exemplos de cidades criativas.

É claro que a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, a avenida dos Champs Elisées, a Ópera, as famosas casas noturnas da Praça de Pigalle, o Palácio de Versalhes e o glamour da Cidade Luz como um todo são e continuarão sendo, por si só, fatores de atração por muitos e muitos anos.

Porém, coerentemente com o conceito de cidades criativas, gostaria de indicar duas singularidades de Paris que justificam claramente sua inclusão nessa condição. A primeira está relacionada à cultura e às artes e pode ser visualizada num “circuito” dos museus, incluindo o Louvre, o Quai D’Orsay, o Grand Pallais, o Petit Pallais e o Les Invalides.

A segunda, relacionada ao fator religioso, incluiria visitas às igrejas de Notre Dame, Sacre Coeur, Madeleine e Saint Chapelle, esta última com seus incomparáveis vitrais. Nessas igrejas, além das atividades que lhe são inerentes, existem periodicamente apresentações musicais que atraem milhares de pessoas.

Capadócia

Outro exemplo de região criativa e que tive oportunidade de conhecer recentemente é a Capadócia, na Turquia. Não se trata propriamente de uma cidade, mas de uma região, cujo território é limitado pelas cidades de Nevsehir, Aksaray, Nigde, Kayseri e Kirsehir. A parte mais famosa e visitada é a zona rochosa, um estreito espaço que inclui os vilarejos de Uçhisar, Göreme, Avanos, Ürgüp, Derinkuyu, Kaymakli e os arredores do vale de Ihlara.

Pouco visitada até 1998 quando foi reconhecida pela UNESCO como patrimônio mundial, passando a receber uma série de incentivos, a Capadócia rapidamente se tornou um destino muito procurado, de tal forma que o turismo constitui-se atualmente na maior fonte de emprego e renda da região.

As formações rochosas, principal atração da Capadócia, são resultantes de milhões de anos de ação da natureza. Começando na era terciária com a erupção dos vulcões Erciyes, Hasandagi e Göllüdag, foi passando por inúmeras mudanças e a partir do Plioceno superior, a erosão causada pela água do Rio Kizilimark (Rio Vermelho), lagos e outros acidentes fluviais na superfície, foi modelando a paisagem até as interessantes formações rochosas atuais.

Fiquei alojado em Göreme, vilarejo situado no centro do triângulo formado pelas cidades de Nevsehir, Avanos e Ürgüp. O hotel em que me hospedei, como muitos outros no charmoso vilarejo, ficava escavado nas rochas no flanco de uma montanha, permitindo uma belíssima vista de parte do vilarejo.

Nos dois dias em que lá estive, tive oportunidade de conhecer localidades de rara beleza, como as igrejas com alguns de seus afrescos e pinturas, o canyon de Ihlara, a extraordinária cidade subterrânea de Derinkuyu e o Museu Aberto de Göreme.

Para coroar, talvez a maior atração da Capadócia, um passeio de balão de mais de uma hora num dia claro e gelado que me permitiu rever do alto a maior parte das belezas que havia visto em terra.

Referências e indicações bibliográficas

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