Economia Criativa V
Principais desafios
“A cidade criativa é um sentimento. É o sentimento
de que algo está acontecendo, de que algo poderia
acontecer, e de que esse algo será interessante.
É um sentimento de movimento, de momentum.
É um sentimento de energia; seja energia em
repouso, aguardando para ser liberada, seja
energia em ação, como ‘eletricidade solta’, que
estimula seus cidadãos. Tanto cidades grandes
quanto pequenas podem ter esse ambiente.”
Peter Kageyama
Encerro esta série de artigos sobre Economia Criativa alertando para alguns desafios que precisam ser superados, a fim de que a mesma passe a ser mais conhecida e valorizada, condição sine qua non para que venha a ter, no Brasil, a mesma importância com que já é reconhecida em outros países do mundo.
1. O ponto de partida para a formulação de uma política para a Economia Criativa é o mapeamento do setor, de forma a conscientizar a sociedade de sua importância em termos econômicos.
2. Aplicar os esforços e recursos necessários para transformar o setor em uma locomotiva do desenvolvimento, deixando de considerá-lo como algo marginal, secundário do ponto de vista macroeconômico e apenas como política de inclusão social ou política cultural.
3. O desafio não é só encorajar as indústrias criativas, é encorajar todas as indústrias a se tornarem criativas.
4. Para tanto, é necessário gerar condições para que as pequenas e médias empresas se utilizem da capacidade criativa, o que pode ser conseguido por meio da criação de um centro multidisciplinar de difusão e promoção de pesquisa, desenvolvimento e design, que combine estudos e trabalhos de administração, economia, arquitetura, engenharia, tecnologia e artes.
5. Identificar os setores capazes de ter um maior efeito multiplicador em termos de geração de emprego e renda e criar políticas específicas de financiamento.
6. Com esse objetivo, é preciso adequar as políticas fiscais e tributárias às necessidades dos setores criativos, que geralmente são muito diferentes dos setores considerados tradicionais.
7. Talvez seja necessário, para fazer a adequação sugerida no item anterior, revisar as leis de incentivo à cultura, dando maior relevância à Economia Criativa, o que não acontece no arcabouço legal vigente.
8. Pensando ainda no financiamento de projetos abarcados pela Economia Criativa, principalmente de empreendedores individuais que não dispõem do patrimônio normalmente exigido pelas instituições financeiras tradicionais, vale a pena considerar esquemas inovadores de concessão de crédito, muitos dos quais inspirados nas ideias e iniciativas de Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006.
Uma vez identificados esses desafios ao crescimento e aperfeiçoamento da Economia Criativa, seguem-se outros voltados ao surgimento e fortalecimento das cidades criativas.
Afinal, como observa o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, que foi por três vezes prefeito de Curitiba, “embora nem todas as cidades sejam criativas, todas têm potencial para sê-lo”. Justificando tal afirmação, continua Lerner: “Para mim, a própria essência da cidade criativa depende de sua habilidade para construir um sonho coletivo e mobilizar os esforços de seus cidadãos para transformar esse sonho em realidade – um esforço que pode ser realizado por qualquer cidade, pequena ou grande”.
Alguns desafios para favorecer o aparecimento das cidades criativas são:
1. Na formulação das políticas públicas, atuar para que as políticas de renovação urbana deem preferência à implantação de setores da Economia Criativa que fomentem a capacidade de multiplicar e gerir redes de contato, circulação de informação e formação de negócios incluídos nos projetos das operações urbanas da cidade.
2. Como transformar uma atração pontual ou momentânea, como um festival, uma exposição, uma romaria ou uma feira numa atração mais duradoura ou mesmo permanente?
3. Uma das maneiras de contribuir para a transformação apontada no item anterior é a criação de um sistema de incentivos à construção e manutenção de teatros, salas de cinemas, casas de espetáculos, galerias de arte, museus etc., favorecendo assim não apenas a formação de um público consumidor, mas também a geração de empregos e a qualificação da mão de obra.
4. Deve-se também adotar e manter políticas que estimulem a implantação de equipamentos culturais de uso coletivo, tais como bibliotecas, centros culturais, escolas de música e dança em regiões urbanas com baixa oferta desse tipo de serviços.
5. Por fim, considerando o enorme potencial da evolução tecnológica, os gestores municipais devem canalizar fundos públicos para negócios voltados à inovação, nas áreas em que se encontram as maiores oportunidades de crescimento futuro, entre os quais estão softwares, games e outros segmentos da Economia Criativa.
Referências bibliográficas
CAIADO, Aurílio Sérgio Costa (Coordenador). Economia Criativa na Cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidade. São Paulo: FUNDAP, 2011.
GOLDENSTEIN, Lídia. O desafio da economia criativa. Digesto Econômico LXV: 458 (maio 2010).
HOWKINS, John. The creative economy: how people make money from ideas. London: Penguin UK, 2001.
REIS. Ana Carla Fonseca e KAGEYAMA, Peter (Organizadores). Cidades criativas: perspectivas. São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011.
UNITED Nations. Creative Economy: A Feasible Development Option. Creative Economy Report 2010. Geneva/New York: UNCTAD/UNDP, 2010.
YUNUS, Muhammad e JOLIS, Alan. O banqueiro dos pobres: a revolução do microcrédito que ajudou os pobres de dezenas de países. Tradução de Maria Cristina Guimarães Cupertino. São Paulo: Ática, 2006.
YUNUS, Muhammad e WEBER, Karl. Um mundo sem pobreza: a empresa social e o future do capitalismo. Tradução de Juliana A. Saad e Henrique Amat Rêgo Monteiro. São Paulo: Ática, 2008.
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