A Copa do Mundo e a economia
O futebol e a economia mundial no rumo competitivo
Em 2010, por ocasião da Copa do Mundo da África do Sul, escrevi alguns artigos em parceria com o economista paraibano Paulo Galvão Júnior, relacionando o futebol e a economia. Em razão da grande repercussão daqueles artigos, decidimos reproduzir a parceria. Este é o primeiro artigo desta nova série. Formado pela UFPB, Paulo Galvão Júnior é chefe da DPTI, da Secretaria de Turismo da Prefeitura Municipal de João Pessoa e professor de Economia da Lumen Faculdades.
O presente artigo relaciona o futebol e a economia mundial. Conhecidas as 32 seleções da Copa do Mundo de 2014, focalizamos as nossas análises nos principais indicadores dos participantes, inicialmente englobando o PIB total e a competitividade internacional.
A 20ª Copa do Mundo de Futebol será no Brasil. A Copa será realizada de 12 de junho a 13 de julho de 2014 em 12 Cidades-Sede (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus e Cuiabá).
A seleção brasileira do técnico Luiz Felipe Scolari terá a histórica oportunidade de vencer pela primeira vez a Copa do esporte coletivo mais popular do mundo, em casa, exatamente no renovado Maracanã. Caso isso aconteça, terá certamente um impacto importante na autoestima dos brasileiros.
Será um grande desafio para o Brasil, assim como para as outras 31 seleções conquistar o troféu dourado da FIFA. Todos os oito campeões do mundo desde 1930 garantiram vaga para a Copa do Mundo de 2014. O Brasil (pentacampeão) se garantiu na condição de país-sede. A Alemanha (tricampeã), a Itália (tetracampeã), a Espanha (atual campeã mundial), a Argentina (bicampeã) e a Inglaterra (campeã) também não tiveram problemas para conseguir a classificação nas eliminatórias.
Já o Uruguai (bicampeão) e a França (campeã) precisaram da repescagem para conquistar a vaga. Coincidentemente, estes dois países já conseguiram vencer o Brasil numa final de Copa do Mundo. Até hoje, o fantasma da derrota para a seleção uruguaia, em 16 de julho de 1950, num episódio que se tornou conhecido como “Maracanazo”, nos provoca calafrios, sendo considerada a maior derrota da história do futebol brasileiro.
Além destas tradicionais seleções, o México e a Bélgica, com mais participações na Copa, também marcarão presença no Brasil. Outra importante seleção é a famosa Holanda (três vezes vice-campeã mundial). A Bósnia e Herzegovina (que pertencia à antiga Iugoslávia) será a única estreante na Copa do Mundo de 2014.
Os 32 países classificados para a Copa do Mundo de 2014 estão assim distribuídos: 13 países da Europa (Alemanha, Itália, Espanha, França, Inglaterra, Bélgica, Rússia, Holanda, Suíça, Portugal, Croácia, Grécia, e Bósnia e Herzegovina); 6 países da América do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia e Equador); 2 países da América do Norte (México e Estados Unidos); 2 países da América Central (Costa Rica e Honduras); 3 países da Ásia (Coreia do Sul, Japão e Irã); 1 país da Oceania (Austrália); e 5 países da África (Camarões, Nigéria, Argélia, Costa do Marfim e Gana).
Por um mundo mais justo precisamos nos engajar e buscar a inclusão dos mais pobres na economia globalizada. No presente momento, 1,1 bilhão de pessoas vivem com menos de 1,25 dólares americanos por dia, segundo dados do Banco Mundial. A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) estima que 842 milhões de pessoas, em todo o mundo, sejam vítimas de fome crônica, a maior parte das quais são mulheres e crianças. Podemos projetar uma economia mundial com rumos competitivos.
Desde 15 de setembro de 2008 muitas empresas foram à falência. Estas falências produziram desemprego. Estes desempregados são as vítimas da crise econômica. Portugal, Espanha, Grécia e Itália são países que pertencem à Zona do Euro e que estão em séria crise financeira. Todavia, suas torcidas estarão presentes nos estádios brasileiros em 2014.
O mercado do futebol mundial movimenta a economia global. Os gritos de gol geram milhões de dólares anualmente. As camisas de futebol atraem bilhões de dólares de empresas e organizações de todos os segmentos com seus respectivos patrocinadores.
Para o Brasil, os principais pontos positivos da Copa serão as imagens do nosso lindo país para mais de cinco bilhões de telespectadores em todo o planeta. A bola vai rolar nos gramados brasileiros e precisamos de marcação cerrada contra a corrupção e a exploração sexual de crianças e adolescentes. Não podemos admitir vendas de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade nem fazer vista grossa para o consumo de drogas dentro e fora dos 12 estádios de futebol da Copa.
Precisamos estudar inglês, espanhol e, se possível, outros idiomas, para atender bem os turistas de cinco continentes. Segundo dados de 2012 do Ministério do Turismo, o setor turístico movimentou cerca de 3,6% do PIB brasileiro e empregou cerca de 10 milhões de pessoas nas cinco regiões do País. As previsões para a Copa de 2014 variam, indicando que o Brasil deverá receber entre 400 e 600 mil turistas internacionais.
Precisamos também conhecer o PIB e o nível de competividade internacional destes 32 países. Afinal, o Brasil precisa evoluir em riqueza e em competitividade, dando um salto qualitativo nas condições de vida de sua população, calculada, atualmente, em 201 milhões de habitantes.
Quadro 1. Os 10 países mais ricos do mundo – 2012
Dos dez países mais ricos do mundo, apenas China e Índia estarão fora da Copa do Mundo de 2014. Já Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Brasil, Itália e Rússia participarão da 20ª Copa do Mundo.
Os Estados Unidos são o país mais rico do mundo. A China é a segunda maior economia do planeta, com enorme potencial para superar os Estados Unidos. O Japão é a terceira nação mais rica do globo. O Brasil é a sétima economia do mundo. O Brasil é um país muito rico, mas o problema da distribuição desigual dessa enorme riqueza, com certeza absoluta, joga o Brasil para o grupo dos países emergentes e distancia do grupo dos países desenvolvidos.
O Brasil tem um PIB de US$ 2,395 trilhões. É um grande produtor e exportador de café, laranja, açúcar, soja, tabaco, mate, carne bovina, carne de frango, carne suína, minério de ferro, alumínio, manganês, estanho, etanol, produtos químicos, veículos, produtos metalúrgicos básicos, produtos de plástico e borracha, produtos eletrônicos, e produtos de papel e celulose e aviões comerciais.
Apesar desses números, o Brasil continua registrando absurdas desigualdades. Os 10% mais ricos detêm 41,9% da renda nacional, enquanto os 40% mais pobres detêm apenas 13,3%, segundo dados de 2012 do IBGE. Em muitas cidades, mansões e casebres encontram-se lado a lado, revelando contrastes flagrantes.
Quadro 2. Os 10 países mais competitivos da economia internacional
Dos 10 países mais competitivos da economia mundial, apenas Singapura, Finlândia e Suécia estarão de fora da Copa do Mundo. Já Suíça, Alemanha, EUA, Holanda, Japão e Inglaterra participarão da Copa. Hong Kong não é um país, é uma das duas regiões administrativas especiais da República Popular da China, sendo a outra Macau.
Entre 148 países analisados pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o Brasil alcançou a 56ª posição no Ranking Global de Competitividade 2013, com escore de 4,33. No caso do Brasil, este processo de mudanças exige urgência para se alcançar posições de liderança no cenário competitivo da economia globalizada.
O Brasil, para ser mais competitivo, precisa melhorar o ambiente de negócios. Para tanto, precisa reduzir a burocracia para abrir e fechar empresas e repensar a sua política tributária. Na verdade, quem paga mais tributos (impostos, taxas e contribuições de melhoria) é o consumidor porque o tributo no Brasil é sobre o consumo. Existem cerca de 90 (noventa) tipos de tributos (federais, estaduais e municipais) em vigor no Brasil.
Países desenvolvidos como Alemanha e Itália concentram a maior parte de sua cobrança de tributos sobre o patrimônio e a renda do contribuinte e suas economias estão sempre entre as 10 mais ricas do planeta.
Surgem novas formas de agrupamento de países para serem mais competitivos, como é exemplo dos BRICS, que compartilham recursos escassos ou reservas financeiras. A criação de um Banco dos BRICS deverá ser definida em 2014 na próxima cúpula no Brasil.
Países emergentes estão se juntando para competir com países desenvolvidos. Como no futebol, a economia precisa ser competitiva para vencer o jogo. Portanto, a mais competitiva Copa do Mundo de todos os tempos deverá atrair a atenção de expectadores de todas as partes do mundo. Daqui a sete meses, os jogadores se esforçarão ao máximo para conquistar a vitória nos 90 minutos, com eventuais prorrogações e, quem sabe, das cobranças decisivas de pênaltis.
A maior torcida dentro e fora dos estádios será para o Brasil. O povo brasileiro vestirá a sua camisa verde e amarela, cantará o Hino Nacional e se emocionará com os lances de futebol. Muitos habitantes de outros países do mundo estarão torcendo também pela seleção brasileira, que reúne alguns dos melhores jogadores do planeta.
Em nosso próximo artigo, após o sorteio das chaves da Copa do Mundo, dia 6 de dezembro, na Costa do Sauípe, focalizaremos indicadores como população total, taxa de analfabetismo, PIB e IDH dos participantes de cada grupo. Então, novamente, com base nesses indicadores, apontaremos o campeão, o vice-campeão e o terceiro lugar na Tabela da Copa, além de sintonizarmos com o futuro da economia mundial.
Referências e indicações bibliográficas
DUARTE, Orlando. Enciclopédia de todas as Copas do Mundo. São Paulo: Makron. 2001.
MARTINEZ, André. Todas as Copas do Mundo. São Paulo: Ícone Editora, 2010.
SORIANO, Ferran. A bola não entra por acaso: estratégias inovadoras de gestão inspiradas no mundo do futebol. Tradução de Marcelo Barbão. São Paulo: Larousse do Brasil, 2010.
Referência webgráfica
FIFA. Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Disponível em: <http://pt.fifa.com/mm/document/tournament/ticketing/02/12/19/77/fwc2014-ticket-media-info-pt_portuguese.pdf>. Acesso em 23 nov. 2013.
No Comment