Confiança

 Difícil de conquistar, fácil de perder

“A confiança é um edifício difícil de ser construído, fácil de ser demolido e muito difícil de ser reconstruído.”                                          

 Augusto Cury

 

Minha intenção inicial era tratar de outro tema no artigo desta semana. Porém, em razão da repercussão do artigo anterior, inclusive por parte de professores e alunos que o utilizaram como material de aula, decidi voltar a um aspecto nele abordado, que é o da confiança na economia brasileira.

O trecho do artigo que gerou intenso debate, tanto com comentários críticos como com comentários favoráveis, foi o seguinte:

No plano interno, porém, a situação vem se deteriorando. Ainda carente de uma política econômica digna desse nome, o governo usou e abusou de intervenções que foram pouco a pouco minando a confiança conquistada a duras penas desde a redemocratização ocorrida nos anos 1980, complementada com a abertura econômica do início dos anos 1990 e com a estabilidade propiciada pelo Plano Real a partir de 1994. 

Mudanças constantes nas regras do jogo, uma série de medidas protecionistas, uma flexibilização crescente da política fiscal com desonerações sucessivas e sem critério, uma discutível criatividade na divulgação das contas públicas e uma enorme incapacidade para promover reformas que melhorassem o ambiente para a realização de negócios foram afastando cada vez mais os investidores – tanto os de fora como os de dentro.

Retomando a questão, começo pelo significado da palavra confiança. Ela deriva da palavra Fidúcia, do latim fidere, que significa confiar. Trata-se, portanto, de um signo linguístico que contém o significado de confiança.

Como qualquer amigo internauta sabe, a confiança é fundamental para o bom andamento de qualquer tipo de relacionamento, seja de ordem pessoal, seja de ordem profissional. Existindo confiança entre os dois ou mais lados envolvidos em qualquer relacionamento, cria-se um elo que dá consistência a ele, tornando-o capaz de resistir a ataques ou ameaças que seriam fatais se não houvesse o referido elo.

É assim no relacionamento entre marido e mulher, entre sócios de um empreendimento qualquer ou entre parceiros de negócios.

Também é assim na relação com investidores. Para aplicar numa empresa ou num país, o investidor analisa o histórico do país ou da empresa, a transparência das informações, a estabilidade e o respeito às “regras do jogo”, a coerência entre o discurso e as ações, além, é claro, da idoneidade das pessoas envolvidas.

Da reconquista da estabilidade econômica obtida no início da década de 1990 até o final do governo Lula, esses indicadores foram positivos no caso da economia brasileira. Excetuando-se um ou outro deslize, os investidores – assim como as empresas de análise de risco – ficaram satisfeitos com os sinais emitidos pelos responsáveis pela condução da nossa política econômica. Não ocorreram maiores solavancos, as regras foram seguidas, os contratos foram respeitados e, como consequência, os investimentos, sobretudo os diretos, entraram em volume bastante satisfatório.

Bastaram, porém, alguns indícios de mudança de comportamento para que os investidores manifestassem sua preocupação. Isso ocorreu já nos primeiros meses do governo de Dilma Rousseff, quando foram tomadas algumas medidas que contrariavam a orientação adotada anteriormente. O tempo foi passando e, em vez de sinais que transmitissem tranquilidade aos investidores, o que se viu foi a intensificação de medidas que iam exatamente na direção contrária.

É nesse estágio em que o País se encontra agora. Lamentavelmente, o governo continua não dando ouvidos aos alertas que têm recebido nesse sentido. Prefere desqualificar quem se atreve a criticar, acreditando que a boa situação da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais é suficiente para manter inalterado o rumo da política econômica.

Parece não se dar conta de que a cabeça do eleitor não é a mesma do investidor. Quem tem que tomar a decisão de aplicar ou não milhões de dólares na economia brasileira, não se deixa levar por promessas eleitoreiras ou por programas assistencialistas.

Na última semana, esteve na FAAP ministrando palestra para seus alunos e professores o economista Marcos Casarin, da Oxford Economics, onde responde pelo Brasil e Portugal. A exemplo de tantos outros analistas, ele mencionou essa perda de confiança em sua exposição, recomendando, especialmente, o aumento da transparência da política fiscal. “Desde 2009”, disse ele, “o Brasil embarcou num ciclo de expansão fiscal sem precedentes sob a desculpa de estimular a demanda e afastar riscos de uma recessão. Sem entrar no mérito de qual deveria ser a gestão apropriada da política fiscal, o governo deveria ser ao menos transparente e admitir que está perseguindo metas de superávit primário mais baixas. No entanto, a estratégia adotada foi mascarar os dados e usar contabilidade criativa para atingir tais metas. O resultado foi uma perda de credibilidade perante investidores internacionais sem que conseguisse evitar um aumento da dívida pública”.

Diante desse quadro, a Oxford Economics, assim como diversos outros analistas individuais ou institucionais, projeta um rebaixamento da nota de risco brasileira no ano que vem, aumentando o custo de rolagem da dívida pública e desencorajando o investimento estrangeiro.

Em outras palavras, a confiança na nossa economia deverá continuar escoando pelo ralo. E, como consta na epígrafe deste artigo, a reconstrução de algo tão sensível como é a confiança é extremante difícil!

Recomendações e indicações bibliográficas

CANUTO, Otaviano. ‘O Brasil não pode se fechar’. Entrevista a Denise Chrispim Marim. O Estado de S. Paulo, 17 de outubro de 2013, p. H 6.

LAZZARINI, Sergio. A volta do Estado Leviatã. Entrevista a Duda Teixeira. Veja, 16 de outubro de 2013, pp. 15-19.

RECOMENDAÇÔES do FMI vão bem além da política fiscal. Valor Econômico, 29 de outubro de 2013, p. A 14.

CHACHAMOVITZ, Solange Srour. Além do tripé, uma centopeia. Valor Econômico, 29 de outubro de 2013, p. A 15.