O cinema e a redemocratização do Brasil e da América do Sul
Por Luiz Alberto Machado,
vice-diretor da Faculdade
de Economia
Considerações iniciais
Numa das reformulações da grade curricular da Faculdade de Economia, foi introduzida uma disciplina intitulada Realidade Brasileira e, por alguns semestres, fui um dos professores incumbidos de lecioná-la.
Durante o período em que ministrei aulas desta disciplina, uma das constatações mais preocupantes dizia respeito ao baixíssimo nível médio do conhecimento dos alunos dos fatos de nossa história recente, fenômeno que se agravava semestre a semestre, à medida que ia se alargando o intervalo de tempo desses fatos.
Dentro dessa perspectiva geral, uma preocupação em particular chamava minha atenção: o descaso com que a maioria esmagadora dos alunos encarava as eleições, fossem elas gerais ou municipais.
Quando interpelados, muitos respondiam que havia eleições demais e que elas não adiantavam nada, pois os políticos são todos iguais e os partidos não têm qualquer significado, pois não possuem coerência nem ideológica nem programática.
Várias vezes, procurei argumentar com eles que essa não é a melhor maneira de contribuir para o aperfeiçoamento das instituições políticas e para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito. Contei, repetidas vezes, que apesar de reconhecer que existem efetivamente muitos políticos corruptos e mais interessados em seu próprio benefício do que em prestar bons serviços à sociedade, há também entre eles pessoas bem intencionadas. Além disso, diante da veracidade da observação referente à falta de coerência ideológica e programática dos partidos, políticos bem intencionados podem ser encontrados em praticamente todos os partidos.
O argumento que eu apresentava com a crença de que seria definitivo, capaz de exercer forte impacto nos alunos, era que pelo menos eles tinham o direito de escolher seus representantes, ao passo que eu, na idade deles, não tinha direito de votar nem para presidente da República, nem para governador do estado, nem para prefeito municipal. Quando atingi a idade mínima para votar, todos os ocupantes de cargos majoritários eram nomeados, sem qualquer participação popular.
Apesar de meu empenho, creio que consegui pouca coisa – se é que consegui “alguma” coisa…
Esta foi a principal razão para escrever um artigo para a revista da Faculdade de Comunicação e Marketing da FAAP intitulado O cinema e a redemocratização do Brasil e da América do Sul, agora transformado num curso livre que acaba de ter sua primeira edição encerrada com enorme aprovação daqueles que tiveram oportunidade de participar.
O curso foi divulgado pelo Núcleo de Cultura da FAAP com o objetivo de mostrar como o cinema focalizou o regime autoritário vigente no Brasil e em diversos países sul-americanos nas décadas de 1960 e 1970 e, a partir daí, chamar atenção para a impropriedade da expressão “década perdida”, como é conhecida a década de 1980 na região, quando a análise deixa de ser feita com base na ótica econômica e passa a ter por base a perspectiva política.
Um pouco de história
Desde que o mundo se reorganizou ao final da Segunda Guerra Mundial, tornou-se clara a divisão do mesmo em dois grandes blocos: de um lado, os países capitalistas e, de outro, os socialistas, liderados, respectivamente, pelos Estados Unidos e pela Rússia, que logo se transformou em União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Esse período, conhecido genericamente como “Guerra Fria”, estendeu-se até o final da década de 1980/início da de 1990, tendo seu término simbolizado pela queda do Muro de Berlim, acompanhada, quase imediatamente, pela queda dos líderes dos governos centralizados dos países da Cortina de Ferro, como Alemanha Oriental, Bulgária, Romênia, Hungria, Polônia e Albânia, além da Tchecoslováquia, que acabou se dividindo em dois países.
Ao longo das quase cinco décadas da Guerra Fria, a disputa entre as duas grandes potências alternou momentos de maior ou menor tensão política, atingindo alguns momentos de clímax nos quais o mundo esteve muito próximo de uma terceira guerra mundial, de consequências imprevisíveis, tal a capacidade de destruição dos aparatos bélicos desenvolvidos por soviéticos e norte-americanos.
Essa disputa se desenrolou em várias frentes e uma delas – talvez a mais relevante – foi o esforço empreendido de parte a parte para ampliar sua esfera de influência no mundo, o que acabou resultando na adesão a um ou outro bloco de países espalhados por todos os continentes, restando apenas um número relativamente reduzido de países imune a uma dessas linhas de influência, os chamados não-alinhados.
Em decorrência da Guerra Fria e do clima de permanente tensão por ela provocado, dada a acirrada disputa pela hegemonia por parte dos dois grandes blocos, o fator ideológico tornou-se um componente decisivo, atuando tanto no plano teórico como no plano real. Nesse sentido, nas universidades, a questão dos sistemas econômicos comparados assumiu papel preponderante, com um sem número de pesquisas e teses acadêmicas procurando demonstrar a superioridade de um ou outro sistema. Nos planos político e diplomático, por sua vez, muitos dos acontecimentos verificados tiveram origem – declaradamente ou não – nessa disputa entre as superpotências.
É exatamente nesse contexto que se inclui a tomada de poder por regimes políticos autoritários, não raras vezes sob influência direta ou indireta de alguma das superpotências, em países da África, da Ásia e da América Latina.
Foi o que aconteceu no Brasil e em diversos dos nossos vizinhos sul-americanos. Antes ou depois, mas quase sempre tendo por justificativa a necessidade de afastar a ameaça iminente do socialismo ou do comunismo, regimes autoritários acabaram assumindo o poder na Argentina, na Bolívia, no Brasil, no Chile, no Equador, no Peru e no Uruguai, fazendo com que essa parte do mundo ficasse famosa pela sucessão de golpes de Estado. O Paraguai não entra nessa lista porque lá o general Alfredo Stroessner já havia se antecipado, tirando Federico Chávez da presidência com um golpe de estado militar em 1954. Stroessner tornou-se presidente e foi reeleito, em pleitos marcados pela fraude, por sete mandatos consecutivos (em 1958, 1963, 1968, 1973, 1978, 1983 e 1988), desfrutando por 35 anos do mais longo governo na América Latina, no século XX, depois de Fidel Castro.
Uma vez no poder, os regimes autoritários – quase sempre liderados por militares – permaneceram por prazos variáveis no poder, praticando violências e arbitrariedades mais ou menos severas, até o retorno à democracia, durante a década de 1980.
A “década perdida”
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a necessidade de reordenar as relações internacionais, foram criados diversos organismos cuja influência foi decisiva para o futuro funcionamento da economia e da política. Nesse contexto, cabe destacar a criação das Nações Unidas (e de diversos organismos do chamado Sistema ONU) , do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e até, de certa forma, do Plano Marshall.
Graças, em parte, à existência desse arcabouço institucional, o mundo ocidental atravessou um período, que se prolonga até a década de 1970, marcado pelo crescimento econômico moderado mas constante, tendo como exceções a Alemanha, o Japão (que embora esteja no Oriente, é considerado integrante do chamado bloco ocidental), os Estados Unidos, o Brasil, o México e a Venezuela que tiveram crescimento superior ao da média.
As duas crises do petróleo da década de 1970 (1973 e 1979), que elevaram consideravelmente o preço do barril, com sérias implicações para a balança comercial de inúmeros países, acompanhadas por mudanças importantes na política monetária dos Estados Unidos, modificaram sensivelmente as condições de funcionamento da economia mundial, pondo fim às décadas de crescimento que haviam prevalecido até então.
A tabela 1, reproduzida do livro Qual democracia?, de Francisco Weffort (p. 67), explica por si só o significado da expressão “década perdida”.
Tabela 1 – A Década Perdida
1981 – 1989Crescimento do PIB por Habitante | |||
América Latina* | (8,3) | Chile | 9,6 |
Bolivia | (26,6) | Haiti | (18,6) |
Equador | (1,1) | Honduras | (12,0) |
México | (9,2) | Nicarágua | (33,1) |
Peru | (24,7) | Panamá | (17,2) |
Venezuela | (24,9) | Paraguai | 0,0 |
Argentina | (23,5) | Rep. Dominicana | 2,0 |
Brasil | (0,4) | Uruguai | (7,2) |
Colômbia | 13,9 | Guatelmala | (18,2) |
Costa Rica | (6,1) | El Salvador | (17,4) |
(*) O índice geral, elaborado pela CEPAL, inclui todos os países latino-americanos,
não apenas os aqui listados. Não considera os dados de Cuba porque
o conceito de produto social é diferente dos demais.
Como se pode observar, e deixando de lado o “economês”, cada cidadão latino-americano estava, no final da década de 1980, 8,3% mais pobre do que se encontrava no início da mesma. Nesse período, apenas três países, República Dominicna, Chile e Colômbia tiveram desempenho positivo. Todos os outros apresentaram desempenhos que vão de medíocres, casos de Paraguai, Brasil e Equador, a lastimáveis, casos de Argentina, Bolívia, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru e Venezuela, passando pelos que tiveram performance muito fraca como Costa Rica, México e Uruguai.
Em vários desses países, e no Brasil em particular, que havia tido, segundo Angus Maddison, um dos melhores desempenhos econômicos do mundo entre 1870 e 1986, assistiu-se à substituição do clima positivo que envolve os países com crescimento econômico por um clima completamente distinto, decorrente da perversa combinação de estagnação prolongada, inflação crônica e crise das dívidas, externa e interna.
Se, no entanto, no plano econômico a década de 1980 não deixou saudade, no plano político foi um período de grandes avanços, uma vez que quase todos esses países, incluindo os da América Central que também foram governados por regimes autoritários na(s) década(s) anterior(es), elegeram novos governos por meio de processos eleitorais livres, numa clara tendência de mudança em direção à democracia e ao fortalecimento de suas instituições.
Programação
Oferecido como curso livre, no período vespertino, o curso apresentou a seguinte dinâmica: nos primeiros trinta minutos era feita uma contextualização, durante a qual eram apresentadas as condições prevalecentes na época no país em que o filme foi realizado, bem como algumas informações referentes à própria produção cinematográfica.
Na sequência, o filme era projetado na íntegra, seguindo-se mais trinta minutos de debates, na maior parte das vezes com professores especialistas em diferentes assuntos, de acordo com a temática apresentada em cada filme. Nesse sentido, houve a participação de professores de direito, filosofia, ética, direitos humanos, semiótica, relações internacionais, economia, finanças e moda.
Data | Filme | Comentários | |
06/03 | Título: Estado de Sítio Título Original: État de Siege Direção: Costa-Gavras Elenco: Yves Montand, Jacques Weber, Renato Salvatori… Ano de produção: 1973Duração: 119 minutos |
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13/03 | Título: A História OficialTítulo Original: La Historia Oficial Direção: Luis Puenzo Elenco: Héctor Alterio, Norma Aleandro, Chela Ruiz, Chunchuna Villafane… Ano de produção: 1985Duração: 113 minutos |
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20/03 | Título: O ano em que meus pais saíram de fériasDireção: Cao HamburguerElenco: Michel Joelsas, Germano Haiut, Daniela Piepszyk, Simone Spoladore…Fotografia: Adriano GoldmanAno de produção: 2006 Duração: 106 minutos | Prof. Antonio Sergio Bichir | |
03/04 | Título: Desaparecido, um Grande MistérioTítulo Original: Missing Direção: Costa-Gravas Elenco: Jack Lemmon, Sissy Spacek, John Shea, Melanie Mayron…Ano de produção: 1982 Duração: 122 minutos |
Prof. Marcos Paulino | |
10/04 | Título: De Amor e de SombrasTítulo Original: Of Love and ShadowsDireção: Betty Kaplan Elenco: Antonio Banderas, Jennifer Connelly, Stefania Sandrelli …Ano de produção: 1994 Duração: 112 minutos |
Prof. Clemara Bidarra | |
17/04 | Título: Pra frente BrasilDireção: Roberto FariasElenco: Reginaldo Faria, Antonio Fagundes, Natália do Valle…Ano de produção: 1983 Duração: 104 minutos | Prof. Odilon Guedes | |
24/04 | Título: O que é isso, companheiro?Direção: Bruno Barreto Elenco: Alan Arkin, Fernanda Torres, Pedro Cardoso… Ano de produção: 1997 Duração: 105 minutos |
Profª Camila Asano | |
08/05 | Título: Batismo de SangueDireção: Helvecio Ratton Elenco: Caio Blat, Daniel de Oliveira, Cassio Gabus Mendes, Ângelo Antônio…Ano de produção: 2006Duração: 110 minutos |
Prof. José Maria Rodriguez Ramos | |
15/05 | Título: Zuzu AngelDireção: Sergio Rezende Elenco: Patrícia Pillar, Daniel de Oliveira, Luana Piovani, Alexandre Borges…Ano de produção: 2006 Duração: 104 minutos |
Professores Ivan Bismara e Ricardo Nicolau | |
22/05 | Título: NoDireção: Pablo Larraín Elenco: Gael García Bernal, Alfredo Castro, Antonio Zegers…Ano de produção: 2012 Duração: 115 minutos |
Profª Fernanda Magnotta |
Interesse dos alunos
Oferecido como curso livre e no período vespertino, a iniciativa despertou interesse de um número considerável de alunos de diversos cursos da FAAP, com predominância dos de Cinema e de Relações Internacionais.
No total, 391 alunos estiveram presentes às 10 sessões do curso, com média de 39,1 alunos por curso. Entre os participantes, três compareceram a todas as sessões, recebendo como reconhecimento um catálogo das exposições do Museu de Arte Brasileira da FAAP.
Segue-se a avaliação feita por esses três participantes:
“O curso, de uma forma geral, me pareceu muito interessante. O que seria legal é buscar filmes de países que não foram representados nesse curso. Outra ideia seria expandir o tema do curso para a ditadura em geral e não apenas a redemocratização. O que quero dizer é que seria bom entender como começou a ditadura nesses países”. (Daniela Caldas, do curso de Cinema)
“Acho que foi de grande valia esse curso, e despertou muito o meu interesse. Quem sabe não pode rolar um curso que tenha a música com a temática da ditadura. Na verdade toda a relação entre artes e ditadura. Obrigado por tudo”. (Guilherme Abud Villela de Andrade, do curso de Cinema)
“Foi muito proveitoso, enriqueceu muito o meu repertório sobre a “década perdida”; e aprofundou o meu ver sobre as ditaduras. Espero que tenham mais propostas dessa natureza no decorrer do curso. Não tenho qualquer ponto negativo a registrar”. (Larissa Fernandes Costa, do curso de Relações Internacionais)
Depoimentos dos professores
“‘Quem não conhece a história corre o risco de repeti-la’. Esse o mote da iniciativa de discutir o passado recente de nossa Indo-América. Os alunos da FAAP trazem em sua formação uma lacuna importante: muitas informações dispersas e pouca análise sobre os anos 1960 e 1970 (principalmente). O curso trouxe à tona, no campo dos afetos e da reflexão, um material valioso para começar a supri-la. Que seja um começo, apenas”. (Antonio Sergio Bichir, professor de Metodologia Científica em diversos cursos nas Faculdades de Economia e Artes Plásticas)
Professor Antonio Sergio Bichir
“Iniciativa de grande importância. Através da arte, de forma dinâmica e participativa, retratou-se a triste e dura realidade pela qual a sociedade brasileira e da América do Sul, atravessaram no período das ditaduras militares. É necessário que as novas gerações conheçam o que ocorreu para terem uma visão crítica e impedir que aqueles acontecimentos um dia retornem. A liberdade e a democracia são valores fundamentais e o curso – O cinema e a redemocratização do Brasil e da América do Sul – sem dúvida ajudou os alunos a entenderem melhor esses valores e a história recente do nosso continente”. (Odilon Guedes, professor de Finanças Públicas no curso de Ciências Econômicas da Faculdade de Economia e nos cursos de pós-graduação Gerente de Cidades)
“A oportunidade de discutir com os alunos do curso foi extremamente rica. Após terem assistido ao filme O que é isso companheiro, pudemos debater de forma franca as dificuldades e obstáculos na promoção e proteção dos direitos humanos, problematizando as perversas heranças da ditadura militar no Brasil, por exemplo. Pudemos também refletir sobre a forma como os meios de comunicação abordam os direitos humanos que, por vezes, acaba contribuindo para uma visão negativa e enviesada dos mesmos. O senso crítico e a inconformidade dos alunos com as injustiças que vivemos no Brasil e no mundo foi o ponto alto do debate”. (Camila Lissa Asano, professora de Direitos Humanos no curso de Relações Internacionais da FAAP)
“Chile, 1973, “estado de emergência permanente”. Ditadura militar, censura, desaparecimentos, torturas, enfim, De Amor e Sombras, traduz já em seu título, os signos que espelharam uma geração. A ficção que encontramos na tela cinematográfica não é uma simples historieta de amor ambientalizada num contexto político específico, uma falácia qualquer, mas sim, uma maneira nova de dizer o real, pois, a imagem não cessa de cair no estado de tópico. Como recorda Deleuze, ‘a imagem tenta permanentemente perfurar o tópico, sair dele (…) Às vezes, necessita restaurar as partes perdidas, reencontrar tudo o que não se vê na imagem, tudo o que se subtrai dela para fazê-la ‘interessante’. Mas às vezes, pelo contrário, há que fazer furos, introduzir vazios e espaços brancos, suprimir dela muitas coisas que se lhe haviam incorporado para nos fazer crer que se via tudo. Há que dividir ou construir o vazio para reencontrar o inteiro.’ ( A Imagem-Tempo, p.35) É isso que vislumbramos no filme de Betty Kaplan: não há realidade fora da narrativa ficcional, ou seja, ao tentar apreender o real, toda imagem rebenta, como diz João Cabral. O filme é a construção dessa ‘faca que é só lâmina’”. (Clemara Bidarra, professora de XXXX da Faculdade de Comunicação e Marketing)
“Poucas experiências são tão marcantes para um professor quanto ver um grupo de jovens estudantes dispostos, voluntariamente, a pensar e refletir sobre a sua história e sobre as suas próprias ideias e convicções. Participar de alguns dos debates realizados no curso O cinema e a redemocratização do Brasil e da América do Sul reforçou, para mim, a percepção de que ensinar e aprender constituem processos muito mais dinâmicos e sofisticados do que os métodos tradicionais efetivamente supõem. Variados temas de ordem política e ideológica marcaram as sessões em que estive presente. A partir da exibição dos longas Batismo de Sangue e Zuzu Angel transitamos por discussões conceituais que englobaram desde o clássico embate ‘Igreja versus Estado’ até a problematização sobre como é possível lidar com direitos políticos e civis durante regimes de exceção. Esta foi, sem dúvida, uma oportunidade inesquecível para todos aqueles que valorizam a busca por conhecimento, pois permitiu agregar repertório, cultura e diversão. Ensinar e aprender tornaram-se, nesta oportunidade, consequência daquilo que vimos, ouvimos, confrontamos e experimentamos. Nos filmes por vezes fomos surpreendidos pelo desconhecido, desafiados pelo diferente, intimidados pelo aterrorizante: marcas de um período de violência e repressão. Nos debates, o contraponto perfeito. Abertos e sem censura, fomos – sobretudo – livres para pensar”. (Fernanda Magnotta, professora de Política do curso de Relações Internacionais da Faculdade de Economia)
Professora Fernanda Magnotta.
“Diz o provérbio que ‘uma imagem vale mais que mil palavras’. Sem dúvida essa máxima se aplica ao recurso pedagógico de utilizar filmes em sala de aula. A imagem capta a atenção do aluno e ilustra situações que exigiriam muito tempo de aula para explicar. Essa impressão se confirmou no debate sobre o filme Batismo de Sangue, no curso O cinema e a redemocratização do Brasil e da América do Sul. Ao fim da projeção houve um interessante debate sobre o filme que, apesar de ter sido realizado em 2006 e lançado em 2007, era desconhecido da maioria dos alunos presentes, assim como também era pouco conhecida a temática abordada no filme”. (José Maria Rodriguez Ramos, professor de Ética e Metodologia Científica nos cursos de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da Faculdade de Economia)
Professor José Maria Rodriguez Ramos.
“Ao participar do curso O cinema e a redemocratização do Brasil e da América do Sul fiquei absolutamente surpreso com o vivo interesse dos alunos da FAAP na História Contemporânea do Brasil, mais precisamente nos chamados anos de chumbo. Essa participação desmonta a tese de que o jovem é ou esta alienado. Não, ao contrario, o jovem é e esta participativo, faltando apenas mais oportunidades de aprendizado com qualidade como a oferecida nesse curso. E a surpresa foi ainda maior, ao verificar que os mesmos jovens interessados na historia contemporânea do Brasil, estavam perfeitamente sintonizados com os acontecimentos atuais, fazendo menção com as Comissões da Verdade, hoje a nível Federal, Estadual e Municipal. Nosso tema foi sobre o filme Zuzu Angel onde a estilista mineira procurava o corpo do seu filho Stuart Angel, militante do MR-8, que teria sido preso pela Aeronáutica e morto nas dependências da Base Aérea do Galeão no Rio de Janeiro em 1971. Antes do filme o professor Ivan Bismara, coordenador do curso de Moda fez um breve perfil da importância da estilista Zuzu Angel na moda brasileira e sua projeção internacional, juntamente com Denner e Clodovil. Após o filme, nos debates, foi calorosa a participação dos alunos, considerando que consta do programa acadêmico o estudo do artigo 5º. da Constituição Brasileira que trata justamente dos Direitos e Garantias Individuais do Cidadão, aspecto absolutamente negado ao preso político Stuart e a sua mãe. O filme retrata muito bem a época da censura, da inexistência de habeas corpus, mandado de segurança, da inviolabilidade do lar, da integridade física do preso, da proibição de prisão sem ordem judicial, enfim direitos inerentes ao ser humano e hoje garantido pela nossa Carta Magna. Entretanto, os alunos, com muita propriedade, logo relacionaram esses direitos fundamentais do ser humano e que foram ali colocados como proteção ao crime de opinião, ao preso político, como elemento dificultador no combate ao crime comum, ao criminoso da pior estirpe. Foi um debate muito interessante e obviamente sem conclusão, visto a profundidade do tema. Em função do interesse despertado, recomendo e a repetição desse curso nos próximos semestres”. (Ricardo Nicolau, professor de Direito nas Faculdades de Direito e Economia)
Repercussão positiva
A repercussão amplamente positiva revelada na avaliação final realizada pelos alunos e o depoimento entusiasmado dos professores convidados a participar como debatedores serve de estímulo não apenas para novas edições deste curso, mas também despertou o interesse para a programação de cursos utilizando a mesma metodologia, porém tratando de temas diferentes. Nesse sentido, as professoras Fernanda Magnotta e Anapaula Iacovino Davila já estão planejando para o segundo semestre um curso focalizando a relação entre o cinema, a economia e as relações internacionais.
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