Não basta ser pai… 

    Tem que participar

nao basta ser pai

 

Meu artigo de hoje para estas Iscas Intelectuais foge às características das tradicionais análises, críticas ou resenhas econômicas. Espero contar com a compreensão dos amigos internautas que me prestigiam neste espaço.

Anos atrás, quando estava no segundo ou terceiro ano do curso de Publicidade e Propaganda na Faculdade de Comunicação da FAAP, meu filho disse que precisava ter uma conversa comigo. Na ocasião, disse ele:

“Pai, queria te dizer que não vou exercer a profissão de publicitário. Vou ser músico.”

Perguntei a ele se tinha noção de como é difícil ser de músico no Brasil e ele me respondeu de bate pronto:

“Pai, e o que é fácil ser no Brasil?”

Diante de resposta tão objetiva – e precisa, diga-se de passagem – arrisquei algumas perguntas: Então você vai estudar música? Pretende estudar aqui ou no exterior?

Resposta: “Não pai. Eu vou tocar. Se tiver que estudar, farei isso depois”.

Propus a ele então que começasse a tocar, mas que concluísse o curso de Publicidade e Propaganda.

Ele então me questionou: “Para quê?”

Argumentei com ele que seria bom ter um plano B, caso a carreira na música não desse certo. E completei. Um diploma pode não ser a solução para muitos problemas, mas sem diploma é muito pior.

Diante da concordância dele, achei por bem dizer mais duas ou três coisas: 1ª) conte com o apoio meu e da sua mãe; 2ª) porém, não espere muita ajuda, porque nem eu nem sua mãe temos qualquer conhecimento ou contato nessa área; 3ª) trate de tentar ser o melhor naquilo que vai fazer.

Permito-me agora discorrer sobre essas três coisas.

No que se refere ao apoio dos pais, procurei reproduzir com meu filho o exemplo que tive com meus pais, que sempre me apoiaram em todas as minhas atividades, principalmente na carreira esportiva. Enquanto ele jogou basquete e futebol, contou com a torcida e o apoio – às vezes exagerado – meu e da minha mulher. Quando enveredou pelo mundo da música, não foi diferente e, sempre que possível, prestigiamos com a nossa presença nas diferentes bandas de que participou. E não foram poucos os lugares em que fomos atrás dele…

Quanto à impossibilidade de oferecer ajuda na área musical, a primeira reação dele foi de estranheza: “Mas quem disse que eu quero depender de ajuda?” Tratei então de explicar a ele que não se tratava de viver de favor, mas sim de poder fazer alguns contatos e eventualmente conseguir uma ou outra oportunidade para ele mostrar o seu trabalho. Ele ouviu, ficou meio desconfiado, mas, como não tinha muita alternativa, acabou aceitando a minha resposta. No dia da colação de grau da turma de Publicidade e Propaganda, antes do início da cerimônia, fui até o camarim cumprimentar os professores, meus colegas na Faculdade da Comunicação. Lá chegando, dei de cara com Alex Periscinoto, um dos ícones da publicidade brasileira e patrono daquela turma. Tendo já participado de vários eventos ao seu lado, Alex Periscinoto me perguntou quando eu o cumprimentei: “O que você está fazendo aqui?”

Respondi: “Hoje, meu papel é o de pai e apresentei-lhe meu filho que estava ao meu lado”. Periscinoto imediatamente deu-lhe um cartão e pediu para que ele o procurasse na semana seguinte. Acho que então meu filho entendeu o que eu queria dizer com dar alguma ajuda. Lembro-me perfeitamente do seu comentário: “Puxa, pai, quantos colegas meus não dariam tudo por esse cartão!!!”

Sobre a terceira coisa, sou testemunha do esforço e do empenho com que ele tem se dedicado à carreira. Exigente e perfeccionista, fica irritadíssimo quando se depara com alguém que não tem a mesma atitude e não encara os desafios com a mesma responsabilidade. Seja num evento super badalado, seja numa apresentação para poucas pessoas, o comportamento é o mesmo: dar tudo de si, procurando fazer sempre o melhor.

Sendo assim, não posso deixar de manifestar meu orgulho com o que vem conquistando. Seu primeiro CD, Mafagafo Jazz, lançado em 2012, fez relativo sucesso, considerando ser quase integralmente de música instrumental, e deu origem a um espetáculo de balé contemporâneo produzido por uma companhia de dança do Rio de Janeiro, que tem se apresentado com frequência em diversas partes do País. O reconhecimento de seu trabalho também vem rendendo a oportunidade de trabalhar com nomes consagrados como, por exemplo, Paulo Ricardo e Tiago Abravanel.

Mas a emoção maior veio no último sábado, quando foi convidado por Toquinho para se apresentar com ele num show em tributo a Vinicius de Moraes no encerramento do 12th Brazilian Film Festival of New York em pleno Central Park.

Na plateia, na fila do gargarejo, como dois babões, eu e minha mulher éramos um misto de orgulho e de emoção.

Concluo este artigo de compartilhamento da minha alegria com um argumento tipicamente econômico, justificando sua publicação nesta coluna. Alguns conhecidos, ao tomarem conhecimento de que eu e minha mulher iríamos aos Estados Unidos para ver o show perguntaram se não era uma loucura. Só posso responder, plagiando um comercial de muito sucesso:

“Ver o filho se apresentar com o Toquinho no Central Park, não tem preço!!!”

   

Referências

 Mafagafo Jazz. Guga Machado. Selo Independente. Dist. Tratore.

Batuque Contemporâneo. Produção Companhia da Ideia. https://www.youtube.com/watch?v=yTdQ12-47jM.