Começo de ano agitado
Fatos e versões
“O famigerado 7 X 1 que a Alemanha impôs ao Brasil na semifinal da Copa do Mundo do já longínquo ano de 2014 marcou não somente pela goleada, mas também pela passividade da comissão técnica da seleção brasileira, que assistia àquela chuva de gols sem tomar qualquer atitude. Pois o mesmo vem ocorrendo com a economia brasileira no ano de 2015 que, felizmente, acabou de ser deixado para trás.”
David Kupfer
Quem gosta de fortes emoções não tem do que se queixar no que se refere ao noticiário econômico dos primeiros dias de 2016. Quer no plano interno, quer no externo, fatos relevantes vieram à tona, possibilitando interpretações bastante variadas. Diante da impossibilidade de cobrir a totalidade dos fatos e de suas versões, focalizo no presente artigo apenas alguns dos que considero mais importantes: a inflação, o saldo da balança comercial, o déficit com as swaps cambiais, o fraco desempenho econômico (principalmente da indústria) e a desaceleração da economia chinesa e sua consequência na economia brasileira.
Desaceleração da economia chinesa
Começo pela China, por ter sido a primeira notícia de grande impacto de 2016. Logo no primeiro dia útil do ano, o noticiário de todas as partes do mundo deu enorme destaque à desaceleração da economia chinesa que foi mais acentuada do que o esperado, e à forte queda verificada nas Bolsas de Xangai e Shenzen.
Evidentemente os dois fatos estão interligados, mas merecem uma análise em separado.
Quanto à desaceleração acima do previsto da economia chinesa, o que chama mais a atenção é o erro cometido pelos planejadores, uma vez que a desaceleração em si já era esperada para 2015.
O excepcional desempenho da economia chinesa a partir das reformas de Deng Xiaoping no fim da década de 1970 fez com que prevalecesse no mundo todo uma expectativa muito grande quanto à durabilidade desta trajetória tão positiva. Mesmo que as taxas de crescimento do PIB tenham se reduzido nos últimos 5 ou 6 anos, quase não houve abalo quanto à continuidade do crescimento do dragão asiático nem quanto à importância crescente da China na economia mundial. Paralelamente a isso, havia um sentimento – talvez até ingênuo – de que as autoridades chinesas acertavam sempre nas suas previsões.
Aí reside um dos pontos a realçar. Já em meados de 2015 as autoridades chinesas reconheciam que seria muito difícil alcançar a taxa de 7% de crescimento do PIB. Tanto é que admitiram publicamente que a taxa seria menor. O que aconteceu agora, embora o número definitivo ainda não seja conhecido, é que se constatou que a queda foi um pouco maior do que o previsto e, como o mundo se desacostumou com erros desta natureza, a repercussão acabou sendo exagerada.
Quem acompanha mais de perto – e com mais profundidade – o andamento da economia chinesa, porém, não se surpreendeu tanto. É o caso de André Soares, que é analista especializado em China do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ele vem enfatizando já há algum tempo o que chama de duas realidades da China, uma representada pela diminuição do nível de atividade nos setores da indústria e da construção civil, e outra, muito menos comentada, representada pela aceleração do consumo das famílias:
Existe a China em desaceleração, cada vez mais, com menor peso no PIB. Esta engloba o valor gerado a partir da produção industrial (crescimento de 8,3% em 2014 e 5,7% até setembro de 2015), exportações (de 5,5% para -3.7%) e importações (de 0,9% para -20,4%). […] E existe a China em aceleração. O carro-chefe desta é o consumo, representado por dados de vendas do varejo (crescimento entre 10-11%). As vendas foram impulsionadas pelo aumento da renda disponível das famílias, que sofreram aumentos reais entre 7-8%.
Fabiana D’Atri, coordenadora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco e diretora de Economia doConselho Empresarial Brasil-China (CEBC) também não vê muita novidade no noticiário recente:
Na nossa visão, não há muita novidade em relação ao que temos discutido: a acentuação da desaceleração concentrada na indústria e no setor imobiliário, combinada com a elevada alavancagem do sistema financeiro, acumulada nos últimos anos, aumenta a vulnerabilidade da economia como um todo. Com isso, a margem de manobra para intervenções vem se reduzindo e erros e/ou ruídos na condução da política econômica acabam por gerar movimentos voláteis e, muitas vezes, exagerados como os observados nos últimos dias em escala global. […] Não estamos dizendo que não há problemas e desafios vindos da China. Pelo contrário, entendemos que os riscos para a China são significativos – especialmente aqueles derivados da saída de capitais – mas ainda acreditamos que o governo tem instrumentos para amenizá-los, promovendo uma desaceleração mais suave e estimulando novas fontes de crescimento e avançando em reformas, que levarão tempo. Diferentemente do que acreditávamos, estamos assumindo uma depreciação mais intensa da moeda frente ao dólar e a pressão para a queda da bolsa continuará presente, mas será suavizada pelo governo. Mantemos nossa expectativa de crescimento do PIB de 5,5% neste ano, após expansão levemente abaixo de 7,0% no ano passado.
Já a forte queda das Bolsas chinesas coincidiu com um aspecto que era aguardado com grande ansiedade no país. O valor das ações despencou exatamente no dia em que estava sendo introduzido na Bolsa de Xangai o circuit breaker[1], mecanismo criado para interromper as quedas bruscas nas cotações de ações nas Bolsas de Valores. Embora se trate de um instrumento já bastante conhecido e utilizado em diversos outros países, na China, cujas Bolsas são ainda relativamente rudimentares, o sistema estava sendo introduzido apenas agora. E teve que ser acionado em seu primeiro dia de funcionamento, o que contribuiu para que a queda ganhasse dimensão ainda maior.
É evidente que, por ser o principal parceiro comercial do Brasil, um acompanhamento atento do que ocorre com a economia chinesa é indispensável. Por enquanto, é possível identificar dois aspectos. Como a tendência de queda é mais forte nos setores industrial e de construção civil, a demanda por minérios de ferro não deverá reagir no curto prazo. Por outro lado, como continua se verificando uma transferência – controlada – de habitantes do campo para a cidade, a demanda por alimentos não deverá sofrer maior impacto, em especial nos casos de soja e milho, em razão da forte restrição de água enfrentada pelos chineses.
Mesmo reconhecendo que a economia chinesa já viveu dias melhores, não há comparação com a situação da economia brasileira. Enquanto o problema dos chineses é ter de se conformar com um crescimento em torno de 5,5 a 6%, o dos brasileiros é de se adequar a um segundo ano consecutivo com provável crescimento negativo da economia.
Saldo na balança comercial
Talvez resida neste item uma boa justificativa para a afirmação de que “é mais fácil achar uma agulha no palheiro do que um consenso entre um grupo de economistas ou de analistas econômicos”.
O superávit de US$ 19,68 bilhões na balança comercial (e a consequente redução do buraco nas transações correntes) foi saudado positivamente por Celso Ming, que abriu sua coluna de O Estado de S. Paulo no dia 4 de janeiro afirmando que “o resultado da balança comercial em 2015 é o contraponto fortemente positivo a tantos resultados ruins”.
A notícia também foi efusivamente comemorada pelo ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira que postou em sua página do Facebook:
Enquanto os economistas ortodoxos ficam totalmente indignados porque o ajuste fiscal “não é suficiente para tirar o país da crise” e os economistas da esquerda igualmente ficam também totalmente indignados porque “o ajuste fiscal está aprofundando a crise”, eu tenho insistido que o ajuste principal o mercado (a lei da oferta e da procura) já fez – o da taxa de câmbio – e tenho previsto que logo a economia brasileira estará saindo da recessão. O pessimismo de um lado e de outro é mera incompetência. Pois bem, afinal as notícias começam a confirmar minha previsão. O superávit comercial de 2015 foi “surpreendentemente” maior do que se esperava. E hoje o Valor informa que os bens industrializados voltaram a liderar as exportações depois de um longo inverno de liderança das commodities. Um dia ortodoxos e a esquerda conseguirão revogar a lei da oferta e da procura, mas enquanto isto não acontecer vamos tratar de ver o que acontece com os preços macroeconômicos, principalmente com o mais estratégico (e mais esquecido porque mais temido) de todos: a taxa de câmbio. Ela já está além do equilíbrio competitivo, que estimo ser hoje de cerca de R$ 3,80 por dólar, [com o que] as boas empresas brasileiras voltaram a ser competitivas.
Nem todos, no entanto, concordam com essa visão positiva. O editorial do dia 6 de janeiro do mesmo O Estado de S. Paulo, tem como título Um superávit sem brilho e procura destacar o fato de que o resultado decorre muito mais da acentuada queda das nossas importações do que de uma vigorosa retomada das nossas exportações, razão pela qual não se justifica muito otimismo:
O Brasil só passou do déficit de US$ 4,05 bilhões em 2014 para o superávit comercial de US$ 19,68 bilhões em 2015 porque o valor importado diminuiu 24,3%, enquanto a receita das vendas encolheu 14,1%. As importações foram menores que as do ano anterior por causa da recessão e também da alta do dólar. Mas o valor total das exportações também recuou e isso se explica por dois fatores. O mais citado é a queda dos preções internacionais das commodities, isto é, das matérias-primas e dos bens semielaborados, atribuível em grande parte à desaceleração econômica da China, principal destino das commodities brasileiras. […] O outro fator, menos citado nos pronunciamentos oficiais, é o baixo poder de competição da indústria brasileira.
Outro que não se mostra muito impressionado com o saldo positivo da balança comercial é Roberto Ellery, que recorre aos primórdios da história do pensamento econômico para justificar sua posição:
Tenho visto algumas comemorações por conta do saldo da balança comercial que foi positivo e acima do previsto. Em termos gerais associar saldos positivos da balança comercial a progresso e crescimento econômico é um resquício da lógica mercantilista que ainda assombra o pensamento econômico. Nunca é demais lembrar que a obra geralmente aceita como fundadora da ciência econômica, Um Inquérito sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações de Adam Smith, tinha como objetivo central argumentar que a riqueza das nações não vinha de saldos comerciais positivos e sim de ganhos de produtividade.
Diante de posições tão díspares, só me resta concluir que não há porque deixar de reconhecer que o resultado da balança comercial foi um fato positivo, embora fosse muito melhor se esse saldo fosse decorrente de uma expansão das nossas exportações superior às nossas também crescentes importações, o que sinalizaria para uma economia em crescimento e não para uma economia em recessão.
Prejuízo com as swaps cambiais
Outra notícia que provocou considerável alvoroço foi a referente às perdas do BancoCentral (BC) com operações equivalentes à venda de dólares no mercado futuro, swaps cambiais, que chegaram a R$ 89,657 bilhões, em 2015, de acordo com dados divulgados no dia 6 de janeiro.
Criado em 2001, o swap cambial é uma ferramenta que permite ao Banco Central intervir no câmbio sem comprometer as reservas internacionais, além de contribuir para que os agentes econômicos tenham atenuados os efeitos de oscilações muito fortes no câmbio.
De forma resumida, o sistema funciona da seguinte forma, de acordo com matéria publicada pela Agência Brasil:
O BC vende contratos de troca de rendimento no mercado futuro. Apesar de serem em reais, as operações são atreladas à variação do dólar. No swap cambial, a autoridade monetária aposta que o dólar subirá mais que a taxa DI (taxa de depósito interbancário, ou seja, a cobrada em transações entre bancos). Os investidores apostam o contrário. No fim dos contratos, ocorre uma troca de rendimentos (swap) entre as duas partes. Quando o dólar sobe, o BC tem prejuízo proporcional ao número de contratos em vigor. Quando a cotação cai, os investidores deixam de lucrar. Nesses leilões, o BC retira dólares das reservas internacionais, mas apenas por um período. O dinheiro volta às reservas com a compra feita pelo BC na data estabelecida no leilão. Ao mesmo tempo que a alta do dólar gera perdas com operações de swap, ajuda a diminuir a dívida líquida do setor público (balanço entre o total de ativos e passivos dos governos federal, estaduais e municipais). Isso acontece porque as reservas internacionais, ativos da dívida pública, são em dólar.
Já no final do ano passado, antes, portanto, de ser conhecido o número definitivo do prejuízo, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, havia afirmado no Congresso Nacional que “a alta do dólar valoriza as reservas internacionais, num montante que supera as perdas com os swaps cambiais”.
Também neste item, está longe de haver consenso entre os especialistas. Enquanto alguns defendem a estratégia adotada pelo governo, como o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, outros fazem violentas críticas a ela, como é o caso do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, do diretor da Casa das Garças, Edmar Bacha, e da pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, Monica De Bolle.
Como se vê, tem gente de reconhecida competência de um lado e de outro.
Inflação elevada
Deixei para o fim os dois indicadores mais desfavoráveis, a perversa combinação de inflação elevada e fraco desempenho da economia, configurando o que os economistas chamam de estagflação.
O Índice de Preços ao Consumidor – Amplo (IPCA), a inflação oficial do País, ficou em 0,96% em dezembro, fechando o ano de 2015 em 10,67%, a maior taxa desde 2002, segundo informação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada no dia 8 de janeiro.
Longe de se constituir numa surpresa, já que os números divulgados mês a mês sinalizavam para algo entre 10 e 11%, o resultado é péssimo e recoloca o Brasil entre os países com taxa anual superior a dois dígitos. Evidentemente, os países que nos fazem companhia nesta relação não são os que ostentam boa imagem no cenário mundial.
Como bem observou Bruno Villas Bôas em matéria publicada na Folha de S. Paulo, além de ser a primeira vez desde 2003 que a inflação supera o teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), tratou-se da “maior escalada do IPCA desde 2002, quando foi de 12,53% em meio às incertezas do mercado financeiro sobre como seria um futuro primeiro governo do PT”.
Ficando muito acima do limite superior da meta (que é de 6,5%), a inflação de 2015 trouxe de volta ao dia a dia do brasileiro uma série de lembranças que muitos julgavam coisa do passado, entre as quais o encurtamento dos horizontes do processo decisório, a aleatoriedade nos cálculos de ganhos e perdas, o estímulo à especulação e o desestímulo à atividade produtiva.
Além disso, sempre é bom lembrar que a inflação funciona como uma espécie de imposto e, como qualquer imposto, penaliza a sociedade como um todo. Porém, o chamado “imposto inflacionário” penaliza mais fortemente as pessoas de baixa renda, sobretudo as que vivem exclusivamente de pensões e da renda do trabalho.
Vários fatores contribuíram para este horrível resultado, em especial os aumentos de energia elétrica e de combustíveis verificados ao longo do ano em função do congelamento praticado pelo governo em 2014 por razões eleitoreiras. Toda vez que me deparo com exemplos desse tipo me vem à memória um livro de Robert Lindsay Schuettinger, publicado no Brasil pela Editora Visão (e que é difícil de encontrar até em sebos). Intitulado, Quarenta séculos de controle de preços e salários, o referido livro tem o incrível subtítulo Como não combater a inflação.
Como práticas dessa natureza (sempre nefastas) não ocorreram em 2015 e como o nível de atividade deverá permanecer desaquecido nos próximos meses, é muito provável que a inflação de 2016 seja consideravelmente mais baixa do que a de 2015, recuando para um número próximo ao limite superior da meta. Nem mesmo as autoridades governamentais trabalham com a possibilidade de um recuo para o centro da meta este ano, hipótese considerada apenas para 2017.
Fraco desempenho econômico, em especial da indústria
De todos os aspectos aqui comentados o pior, seguramente, reside no medíocre desempenho da economia em 2015. Embora ainda não se conheça o resultado definitivo, sabe-se que o Produto Interno Bruto registrou um crescimento negativo superior a 3,5%, abaixo das expectativas mais pessimistas divulgadas na transição de 2014 para 2015.
Não que as expectativas fossem muito promissoras, pelo contrário. A esmagadora maioria das previsões apontava para um ano difícil, com um desempenho parecido com o de 2014, mas com a perspectiva de se criarem as condições para a retomada de um crescimento mais robusto a partir de 2016.
Qualquer previsão parte de premissas ou suposições. E entre as que serviram de base para as análises divulgadas no final de 2014/início de 2015 figurava uma que não se concretizou. Nos regimes democráticos, é esperado que o vencedor de uma disputa eleitoral inicie o novo mandato dispondo de um capital político que lhe permite adotar uma série de medidas que darão o tom da política econômica a ser seguida e poderão ser decisivas para o andamento da economia.
Foi o que muitos imaginaram quando a presidente Dilma Rousseff anunciou o nome de Joaquim Levy para assumir o Ministério da Fazenda, com um perfil bastante diferente do de Guido Mantega, que ocupara o cargo desde o governo Lula, mas que se encontrava muito desgastado, principalmente em razão dos fracos resultados obtidos pela chamada nova matriz econômica.
Com justa razão, os analistas consideraram que Dilma Rousseff daria a Joaquim Levy, possuidor de uma linha de pensamento muito diferente do preferido pelos integrantes do Partido dos Trabalhadores, o respaldo necessário para que ele adotasse uma política econômica com razoável grau de independência.
Mal o novo mandato se iniciou e veio a constatação de que não só Dilma Rousseff não dispunha do capital político imaginado, como também que não conseguia sequer o apoio do PT e dos partidos da base governista em torno da proposta de política econômica apresentada por Joaquim Levy, que dava prioridade a um profundo ajuste fiscal como fator sine qua non para a posterior retomada do crescimento em bases sustentáveis.
Tão logo se aperceberam disso, os analistas começaram a alterar suas previsões sobre o desempenho da economia. Exemplo claro disso veio do Boletim Focus, divulgado semanalmente com as estimativas do mercado financeiro. Durante todo o ano, semana após semana, o referido Boletim revia suas previsões elevando invariavelmente para cima a expectativa de inflação e para baixo a expectativa de crescimento econômico.
O ano foi avançando, a indefinição permanecendo e as dificuldades aumentando. O Brasil perdeu a condição de grau de investimento por duas das três grandes agências internacionais de avaliação de risco e fechou o ano sendo capa da revista The Economist de forma lamentável.
Paralelamente á falta de coordenação na área econômica, verificava-se o agravamento da crise política, com sucessivas novas revelações por parte da Operação Lava-Jato dando conta do envolvimento de figuras importantes do Executivo, do Legislativo e do empresariado em casos de corrupção envolvendo a Petrobras e outras empresas públicas.
As manifestações populares pedindo o impeachment da presidente da República – e posteriormente também do presidente do Congresso, Eduardo Cunha – também contribuíram para que o clima de tensão se tornasse dominante, configurando um imbróglio que está longe de ser superado.
Com exceção do superávit da balança comercial e do bom desempenho da economia criativa (lamentavelmente ainda incipiente no Brasil), os resultados referentes à produção foram fraquíssimos, com queda acentuada em todos os setores de atividade, sendo o do setor industrial o mais pronunciado.
Foi com esse cenário que chegamos ao final do primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff. Com um quadro de recessão que já apresenta sinais de depressão, com a compreensível substituição do ministro da Fazenda, com um terrível impasse no plano político e com um descrédito generalizado, que afugenta novos investimentos internos e externos.
Era normal considerar a influência da economia sobre a política. Não raras vezes, o andamento da economia era determinante para as vitórias e derrotas eleitorais. Com a economia funcionando bem, a chance de vitória dos ocupantes do governo era enorme. Por outro lado, o mau desempenho da economia favorecia as candidaturas de oposição. Hoje, estamos vivendo uma situação inversa, em que a política está tendo uma influência determinante na economia. Sendo assim, concluo com a convicção de que enquanto o imbróglio político não for desfeito, dificilmente veremos a economia destravar.
Referências e indicações bibliográficas
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MING, Celso. A China tosse. O Estado de S. Paulo, 8 de janeiro de 2016, p. B 2.
SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.
SCHUETTINGER, Robert Lindsay. Forty centuries of wage and price controls: how not fight inflation.Heritage Foundation, 1979.
UM SUPERÁVIT sem brilho. O Estado de S. Paulo, 6 de janeiro de 2016, p. A 3.
Referências e indicações webgráficas
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BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Confirma-se que o Brasil está saindo da crise. Disponível em https://www.facebook.com/bresserpereira/?fref=nf.
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ELLERY, Roberto. Balança comercial e crises: não há motivos para festas. Disponível em http://www.institutoliberal.org.br/blog/balanca-comercial-e-crises-nao-ha-motivo-para-festas/.
MARTELLO, Alexandro. BC tem perda de quase R$ 90 bilhões com intervenções no câmbio. Disponível em http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/bc-tem-perda-de-quase-r-90-bilhoes-com-intervencoes-no-cambio-em-2015.html.
MING, Celso. A primeira surpresa do ano. O Estado de S. Paulo. Disponível em http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-primeira-surpresa-do-ano,10000006170.
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[1] CIRCUIT BREAKER. Expressão em inglês que significa literalmente “interruptor de circuito” e é utilizada quando ocorrem oscilações muito fortes na Bolsa de Valores, fazendo com que a cotação das ações ou outros títulos que estão baixando muito seja interrompida para evitar que efeitos momentâneos possam desencadear o pânico. Este dispositivo foi utilizado pela primeira vez no Brasil na crise do final de outubro de 1997, provocada pela crise das Bolsas dos países asiáticos. Em Bolsas mais importantes, com a de Nova York e Londres, o sistema já é utilizado há mais tempo. (SANDRONI, 2005)
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