Competitividade do Brasil segue em decadência

A política comprometendo a nossa competitividade

 

“É como uma maratona, se você não corre, a turma toda passa na sua frente. E fomos ultrapassados por muitos porque ficamos parados.”

Carlos Arruda

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Duas instituições suíças, o Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) e o  IMDInternational Institute for Management Development elaboraram em parceria aquela que se tornou a mais aguardada e respeitada pesquisa sobre competitividade mundial. Após vários anos de parceria, as duas entidades separaram-se e passaram a publicar separadamente o resultado de suas pesquisas. Ao longo de sua existência, ambas as instituições alteraram não apenas o tamanho de suas amostras, mas também os critérios levados em conta em seus estudos. Diversos foram incorporados ou ganharam relevo com o passar dos anos, da mesma forma que outros desapareceram ou tiveram sua importância reduzida, o que reflete a própria evolução da compreensão do fenômeno do desenvolvimento.

No dia 27 de setembro, o Fórum Econômico Mundial – que conta no Brasil com a parceria da Fundação Dom Cabral (FDC) – divulgou os resultados do levantamento deste ano. Este estudo considera que a competitividade é resultado da interação de muitos fatores em diversas áreas de um país, entre as quais a econômica, a política, a jurídica, a científica e outras. Alguns desses fatores são mais facilmente reconhecidos como determinantes para o aumento da produtividade e, por extensão, da competitividade, como é o caso, por exemplo, da estabilidade macroeconômica. Outros, porém, cuja relação de determinação para a competitividade nacional não é tão direta, como é o caso o acesso e da eficiência da justiça, também têm influência marcante na avaliação da capacidade competitiva.

Dada essa explicação preliminar, o que se constata é que os dados do relatório deste ano não foram nada bons para o Brasil, uma vez que numa amostra contendo 138 países, o País ficou na 81ª posição, a pior desde que o levantamento passou a ter as atuais características.

A tabela que se segue revela o desempenho do Brasil a partir de 2005.

Ano

Classificação do Brasil

2005

65ª

2006

66ª

2007

72ª

2008

64ª

2009

56ª

2010

58ª

2011

53ª

2012

48ª

2013

56ª

2014

57ª

2015

75ª

2016

81ª

 

A tabela revela que o Brasil obteve este ano a pior classificação desde que o levantamento passou a ser feito pelo Fórum Econômico Mundial em parceria com a Fundação Dom Cabral. Mostra, também, que após uma fase ascendente – com pequenas interrupções – que se estende até 2012, quando o País obteve sua melhor classificação (48ª), inicia-se uma decadência que acumula 33 posições nos últimos quatro anos e que foi mais acentuada de 2014 para 2015 quando 18 posições foram perdidas.

Uma leitura atenta do relatório permite um sem número de conclusões. Diante da natureza deste artigo, permito-me destacar três delas:

1ª. Há evidente contaminação da economia pela política, cujas instituições e representantes desfrutam – na sua esmagadora maioria – de baixíssimo grau de confiabilidade, o que foi confirmado pelo elevadíssimo índice de abstenções e votos nulos e brancos nas eleições municipais do último domingo. A propósito, no quesito confiança dos políticos o Brasil ficou com a 138ª e última posição entre todas as nações avaliadas.

2ª. Reafirmando um fenômeno já observado quando da divulgação do levantamento do ano passado – quando foi ainda mais perceptível – a piora concentra-se mais nos indicadores que envolvem o setor público, como fica claro ao verificarmos a posição do Brasil em dois quesitos: ambiente institucional, em que ficamos na 120ª posição; e apuração dos efeitos da regulamentação para as empresas, em que ficamos no penúltimo lugar, com 137ª posição.

3ª. Um dos poucos itens em que o País teve uma melhora foi na percepção da independência do Judiciário, em que o Brasil aparece na 79ª colocação, o que se deve, inegavelmente, às ações da operação Lava Jato.

Na outra ponta da tabela, embora tenham ocorrido pequenas alterações na classificação, os 10 melhores posicionados são os mesmos do levantamento anterior: Suíça, Cingapura, Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Suécia, Reino Unido, Japão, Hong Kong e Finlândia.

Um último registro a meu ver digno de destaque diz respeito à ascensão da Índia, que pulou do 55º lugar em 2015 para o 39º em 2016, escalando, portanto, 16 posições. Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral e coordenador da pesquisa no Brasil, aponta as reformas levadas a efeito recentemente pelo governo indiano como responsáveis por essa ascensão e, seguindo essa linha de raciocínio, acredita que se a agenda de reformas que o Brasil tem pela frente, incluindo mudanças na Previdência, controle nos gastos públicos, reforma da legislação trabalhista e nas concessões de infraestrutura for executada, poderá ter um efeito positivo na apuração dos resultados já a partir do próximo ano.

Como há uma série de outros indicadores, pesquisados por diferentes organismos multilaterais – independentes ou integrantes do sistema das Nações Unidas – é recomendável estar atento a eles à medida que vão sendo divulgados. No mínimo, para ter uma noção de como está o Brasil em comparação com outros países.

 

 Referências e indicações bibliográficas

MACHADO, Luiz Alberto. A dança dos números. São Paulo: Instituto Liberal, Série Ideias Liberais, Ano 5, Nº 87, 1998.

SCHELLER, Fernando. Competitividade do País atinge ‘fundo do poço’. O Estado de S. Paulo, 28 de setembro de 2016, p. B 7.

Referências e indicações webgráficas

 

ALVARENGA, Darlan. Brasil cai para a 81ª posição em ranking de competitividade de países. Disponível em http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/09/brasil-cai-para-81-posicao-em-ranking-de-competitividade-de-paises.html.

 

BRASIL cai seis posições em ranking de competitividade internacional. Disponível em http://www.institutomillenium.org.br/blog/brasil-cai-seis-posies-em-ranking-de-competitividade-internacional/

FUNDAÇÃO Dom Cabral. Brasil chega à sua pior posição competitiva em 20 anos. Disponível em http://www.fdc.org.br/professoresepesquisa/nucleos/Documents/inovacao/Competitividade/Relat%C3%B3rio_Ranking_Competitividade_WEF_FDC_2016.pdf.

MACHADO, Luiz Alberto. Queda no ranking mundial de competitividade. Disponível em http://www.institutomillenium.org.br/artigos/queda-ranking-mundial-de-competitividade/.