Homenagem aos Economistas 2017

 

Memoráveis citações

 

“Quando foi criada a Faculdade de Ciências Econômicas da USP, em 1945, eu decidi fazer Economia. Fiquei muito feliz com a Economia, me ajustei bastante. Tive uma sorte louca. Foi a profissão que me escolheu, eu não escolhi a profissão.”

Antonio Delfim Netto

 

No dia 13 de agosto, quando se comemora o Dia do Economista, tendo como estímulo os exemplos de Eduardo Giannetti e do ex-presidente do Corecon-PB, Celso Mangueira, presto, pelo oitavo ano consecutivo, minha homenagem aos colegas economistas. Foi no dia 13 de agosto de 1951 que o presidente Getúlio Vargas promulgou a Lei 1.411, regulamentando a profissão. Desde então, os economistas vêm tendo papel relevante, não apenas no plano macroeconômico, contribuindo na formulação das políticas econômicas do País, mas também no plano microeconômico, sendo fundamentais na gestão de empresas de dimensões variadas, em diferentes segmentos de atividade. Minha homenagem se expressa na forma de citações que foram pacientemente colhidas ao longo de um ano – desde a publicação da homenagem do ano anterior – em livros, jornais, revistas e sites da internet. A busca dessas citações tem me proporcionado enorme satisfação, a mesma que espero proporcionar ao amigo internauta com a sua leitura.

 

Brasil

 

Pobre Keynes. Reviveria no túmulo ao ver o seu nome associado à política econômica de Dilma Rousseff e sua calamitosa mistura de subsídios insensatos, pedaladas fiscais e corrupção sistêmica. Menções a Keynes serviram para justificar políticas anticíclicas para enfrentar a crise em 2008. Depois disso, Keynes serviu de biombo para tentativas de justificar políticas econômicas que levaram o País à ruína. Ou alguém ainda acha que não levaram?

ABREU, Marcelo de Paiva

A versão brasileira da chamada maldição dos recursos naturais veio à tona com a descoberta das reservas de petróleo do pré-sal. Ao governo Lula, o céu pareceu então ser o limite e as reformas fiscais foram definitivamente abandonadas.

BACHA, Edmar

De certa feita o governador Orestes Quércia teria dito: “quebrei o Banespa, mas elegi meu sucessor”. Dilma Rousseff poderia parafraseá-lo: quebrei o País, mas me reelegi presidente.

BACHA, Edmar

As crianças, ao aprenderem as primeiras operações – adição e subtração – aprendiam também duas maneiras de testar a correção dos resultados: a “prova real” e a “prova dos nove”. A primeira consiste em refazer a operação em sentido inverso. A segunda implica somar os algarismos em cada “linha” e ir eliminando os totais que perfaziam nove. Como no ano que passou. Ao se somar os algarismos de 2016 e fazer “noves fora” não sobra nada.

BAUMANN, Renato

Sem reforma da Previdência, é esperar pelo precipício.

DELFIM NETTO, Antonio

A privatização/redução do patrimônio e dos serviços públicos – iniciada ainda no Governo Collor, ampliada no primeiro Governo FHC e continuada, embora não admitida enquanto tal, no Governo Lula – é um processo amplo que não se resume apenas à venda de empresas públicas, em grande medida já efetivada; agora focaliza o estratégico e bilionário setor de petróleo, os bancos públicos, aeroportos, infraestrutura, a educação, a saúde e a previdência social.

FILGUEIRAS, Luiz

Incorporar a economia criativa como base de desenvolvimento é fundamental para que saiamos da recessão em um patamar mais elevado, seja qual for a esfera de governo. Mas é no âmbito das cidades que estão as maiores chances de reinvenção, valendo-se da preciosa simbiose entre economia criativa e cidade criativa. É nisso que nossos futuros gestores municipais devem atentar – e nós, ao votarmos neles.

FONSECA, Ana Carla

O que tudo isso está revelando é o grau de deformação do nosso Estado patrimonialista. O encontro entre Temer e Joesley é emblemático. De um lado, temos o patronato político buscando a perpetuação no poder e, do outro, o empresariado procurando atalhos de enriquecimento. Isso mão é criação recente. Foi esse tipo de encontro, dos conluios, nos subterrâneos, que transformou a nossa democracia em um lamentável mal entendido e fez da nossa economia de mercado uma caricatura. Aquele encontro mostra como estão deformadas as instituições fundamentais da nossa convivência na política e na economia. Saber como as coisas aconteceram nos dá a oportunidade de transformá-las. E tem um detalhe que permeia todo o encontro. Fica claro que retrata a máxima: para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei. Isso é a República Velha que é aplicada por todos. PT, PMDB, PSDB. Como são inimigos, a lei deveria ser aplicada igualmente a todos.

GIANNETTI, Eduardo

Quando já nos anos 90, as cidades europeias e americanas se defrontavam com a quebra de paradigma que levou ao processo de desindustrialização, o Brasil, até então uma economia fechada e “protegida”, ainda se debatia com os problemas não resolvidos e acumulados desde o início da industrialização: educação, distribuição de renda, saneamento, moradia, transporte público etc. Agora, quase na segunda década do século 21, sem termos solucionado os problemas do velho paradigma, enfrentamos os novos desafios decorrentes de um mundo em permanente transformação.

GOLDENSTEIN, Lidia

Estou convencida de que o debate atual no Brasil está envelhecido. Tanto os economistas considerados desenvolvimentistas quanto seus críticos mais conservadores pensam em economia no velho paradigma. Quer para criticar a indústria, quer para defendê-la, todos pensam a indústria dos anos 50. Se você olhar o Portomídia como uma indústria do século 21, do século 22, você vai entender que isso é uma política industrial moderna. É de criação de valor que nós estamos falando.

GOLDENSTEIN, Lidia

O custo Brasil se manifesta de várias formas: insuficiência e baixa qualidade da infraestrutura, baixa qualificação da mão de obra e difícil ambiente de negócios. Este último é particularmente afetado pela complexidade de regras tributárias e regulatórias nos vários mercados – como crédito e trabalho – e pela insegurança jurídica. Ainda há mudanças constantes e sem critérios das regras, piorando a cada ano o ambiente de negócios no País.

LATIF, Zaina

A estratégia nacional—desenvolvimentista teve outros efeitos colaterais. O sucesso de vários empreendimentos do setor privado passou a ser determinado pelo acesso aos gabinetes de Brasília, e não por ganhos de produtividade no chão de fábrica.

LISBOA, Marcos

O Estado nacional-desenvolvimentista acredita no papel do poder público de, discricionariamente, preservar empresas e empregos – sem perceber que, paradoxalmente, o resultado de suas ações é o inverso do desejado: a não criação de emprego e a não utilização dos ativos por outros produtores mais eficientes.

LISBOA, Marcos

Em uma economia de mercado e republicana, em que iguais são tratados como iguais, os ganhos privados são determinados pelo sucesso das decisões individuais que se revelam bem-sucedidas no mercado. Nessas economias, a política pública prioriza o acesso à educação e o cuidado com os mais pobres. No nacional-desenvolvimentismo, por outro lado, destaca-se a relevância do poder público para conceder benefícios para grupos privados, como crédito subsidiado e medida de proteção contra a concorrência externa.

LISBOA, Marcos

O resgate do nacional-desenvolvimentismo permitiu o fortalecimento do patrimonialismo e o agravamento de seu corolário, a corrupção. O Estado que oferece benefícios ao setor privado discricionariamente é conduzido por servidores, alguns dos quais podem optar por serem indevidamente remunerados pelos privilégios que concedem. A corrupção é o efeito colateral do poder público que pode escolher vencedores, conceder isenções tributárias selecionadas ou outras formas de proteção.

LISBOA, Marcos

Os governos de Fernando Henrique Cardos e de Lula, no primeiro mandato, produziram o que mais se aproximou de uma agenda social-democrata para o Brasil. Por um lado, foram colocadas em prática políticas horizontais para o setor produtivo, estímulo à concorrência e uma agenda de melhoria do ambiente de negócios, com intervenções setoriais localizadas. Por outro, houve ênfase na expansão das políticas sociais. O Brasil apresentou imensos avanços na condução da economia e na política social nos vinte anos entre a Constituição e 2008, não obstante alguns retrocessos e ainda o muito que restava por fazer. Pouco depois da crise de 2008, contudo, o petismo se perdeu, para não mais se reencontrar, abraçando-se ao nacional-desenvolvimentismo. Os intelectuais do PT parecem ter confundido bem-estar social com a defesa de interesses corporativos – e ainda estão por fazer o acerto de contas em relação aos resultados dessas escolhas.

LISBOA, Marcos

Desde logo, é claro que o desempenho modesto do nosso crescimento nas últimas décadas só ocorre porque a evolução da produtividade tem sido limitada, uma vez que não temos grandes restrições nos recursos naturais (ao contrário), na população e na disponibilidade de mão de obra e na possibilidade da utilização de máquinas e equipamentos.

MENDONÇA DE BARROS, José Roberto

O agronegócio é hoje o único setor relevante da economia brasileira a ter o centro de seu modelo de negócios baseado no aumento de produtividade. Isto foi possível pela sistemática utilização da ciência no desenvolvimento de novas tecnologias, aprimoradas pela contínua interação com o sistema produtivo. Ademais, a inserção internacional e a expansão das exportações adicionam informações e pressão para que a produtividade siga crescendo de forma a manter a competitividade. O sucesso desse sistema acabou por tornar a melhoria tecnológica endógena, isto é, as novas necessidades do setor são rapidamente traduzidas na agenda de pesquisa do sistema, inclusive dos fornecedores de insumos.

MENDONÇA DE BARROS, José Roberto

A tragédia da indústria naval talvez seja o mais acabado exemplo no que se transformou a política industrial: criar uma demanda irrealista por plataformas via Sete Brasil, colocar estaleiros em locais onde nunca existiu atividade do setor, com baixa disponibilidade de mão de obra mais básica (soldadores e outros) e gerenciados por empresas de construção sem experiência industrial foi uma temeridade que nos saiu muito mal. É preciso, pois, recomeçar, por arejar ideias e a envelhecida liderança industrial, bem como a política de governo, para que a manufatura possa retomar protagonismo. Neste sentido, a experiência do agro deve ser objeto de profunda reflexão.

MENDONÇA DE BARROS, José Roberto

A rejeição da reforma da Previdência pode detonar uma grave crise inflacionária. Os pobres serão os grandes perdedores, pois têm escassa capacidade de se defender dos males da inflação. Mesmo assim, a oposição continua lutando contra a reforma, por populismo, ignorância ou má-fé.

NÓBREGA, Maílson da

A recente reforma trabalhista pode constituir o início de uma necessária modernização da respectiva e obsoleta legislação. Ao eliminar custos de milhões de causas, deve aumentar a produtividade ao longo do tempo e, assim, elevar o emprego e o bem-estar. A substancial queda nessas causas terá um benefício adicional: evitar decisões judiciais geradoras de incentivos que provocam efeitos opostos aos imaginados. […] Ao contribuir para eliminar maus incentivos, a reforma trabalhista beneficiará os trabalhadores.

NÓBREGA, Maílson da

É difícil supor que, em algum país do mundo, qualquer governo viesse a propor um congelamento dos gastos públicos, ou melhor, das chamadas despesas correntes – primárias (aí não compreendidos os juros) – por 20 anos. Para ser mais preciso, essa limitação é calculada com relação à inflação do ano anterior, o que significa que não poderá haver aumento real das despesas, mesmo que o PIB volte a crescer. Isso é mais ou menos como dizer que se pretende bloquear o crescimento ou a melhoria dos serviços prestados pelo Estado, independentemente das necessidades da população ou das abertas pelo desempenho econômico do País.

PISCITELLI, Roberto Bocaccio

O que mais irrita quando se tem acesso a certos indicadores de atividade econômica é constatar, primeiro, que a culpa da crise atual é exclusivamente nossa e, mais precisamente, da desastrada gestão petista que desabou recentemente sobre o País. Gestão essa que, aliás, deveria ser testada mais uma vez nas urnas em 2018 e, quem sabe, erradicada para sempre por um candidato que representasse o novo (de verdade) em todos os sentidos.

VELLOSO, Raul

 A melhor maneira de enfrentar o avanço na desigualdade de renda é através da redução da desigualdade de oportunidades. Com certeza o principal nó no caso brasileiro está na educação. Se duas pessoas têm um bom nível educacional, há uma grande probabilidade de não existir uma disparidade expressiva na renda de ambas. A ironia, no Brasil, é que a educação elementar pública é ruim, e são os mais ricos que chegam às melhores universidades públicas, uma situação que contribui para aprofundar a desigualdade. A primeira iniciativa que eu adotaria no Brasil, com o objetivo de reduzir efetivamente a desigualdade nas oportunidades, seria aprimorar a educação básica nas escolas públicas. Isso vale para outros países também, entre eles alguns desenvolvidos. Nos Estados Unidos, a qualidade do ensino básico e médio caiu profundamente nos últimos anos. Cuidar da educação, e, portanto, agir no sentido de reduzir a desigualdade nas oportunidades, é um passo fundamental para diminuir a injustiça social.

ZINGALES, Luigi

 

Capitalismo

 

A história das sociedades humanas foi marcada por uns poucos cidadãos muito ricos e uma aplastante maioria de pobres. 99,9% dos cidadãos de todas as sociedades da história, desde os caçadores e coletores da Idade da Pedra, até os camponeses fenícios, gregos, etruscos, romanos, godos ou otomanos da Antiguidade, passando pelos agricultores da Europa medieval, a América dos incas, dos aztecas ou dos maias, a Ásia das dinastias imperiais ou a África pré-colonial, viveram em situação de pobreza extrema. Todas, absolutamente todas essas sociedades tinham a maioria da população no limite da subsistência até o ponto que, quando o clima não acompanhava, uma parte importante deles morria de inanição. Tudo isto começou a mudar em 1760 quando um novo sistema econômico nascido na Inglaterra e na Holanda, o capitalismo, provocou uma revolução econômica que alterou as coisas para sempre: em pouco mais de 200 anos, o capitalismo fez com que um trabalhador médio de uma economia de mercado média não só deixou de viver na fronteira da subsistência, como também teve acesso a prazeres que o homem mais rico da história, o imperador Mansa Musa I, não podia nem imaginar[…] O capitalismo não é um sistema econômico perfeito. Porém, quando se trata de reduzir a pobreza no mundo, é o melhor sistema econômico que o homem jamais viu.

SALA-I-MARTIN, Xavier

 Acredito que a onda contrária ao capitalismo e ao livre mercado não tenha perdido intensidade. Em muitos países desenvolvidos, esse sentimento é ainda mias forte por causa da queda no ritmo de crescimento e também do aumento na desigualdade de renda ocorrido nos últimos anos. Compreendo, em parte, essa reação. Mas, para mim, a questão crucial está no aumento do chamado capitalismo corporativista e de compadrio, um sistema no qual as grandes empresas possuem ligações muito próximas com o governo e também com os congressistas, favorecendo a aplicação de políticas contrárias à concorrência. Um sistema assim, na minha avaliação, não cria um ambiente que incentive a igualdade de oportunidades e a competição na economia.

ZINGALES, Luigi

 

Criatividade/Economia criativa

 

Karl Polanyi [pensador húngaro, 1886-1964], em “A Grande Transformação”, fala de como três mercadorias fictícias, que não nasceram para ser commodities, precisam então da regulação do Estado para que funcionem como mercadorias. Uma é a terra, a outra é o capital e a terceira é o trabalho. Aqui estamos falando de uma quarta mercadoria fictícia, o conhecimento, que não nasceu para ser mercadoria, não podendo portanto ser deixado ao sabor das livres forças de mercado.

CASTRO, Lavínia Barros de

Foi graças a ela que a roda foi inventada, obras de arte sublimes foram concebidas e descobertas científicas revolucionárias vieram à luz. Ingrediente básico da inovação, a imprescindível criatividade move a humanidade desde tempos imemoriais.

FONSECA, Ana Carla

 Criatividade só se converte em inovação, em larga escala, quando dois outros requisitos estão presentes: educação e acesso a informações. Em outras palavras: uma política de desenvolvimento que tenha por base a economia criativa requer uma integração íntima com a política educacional e com a política de ciência e tecnologia. Países como Hong Kong e Cingapura, que têm pequeno mercado doméstico, não dispõem de recursos naturais e, portanto, se voltam ao único ativo econômico possível – seus trabalhadores – já promoveram a revisão de seu sistema educacional, da pré-escola à universidade. Temos de vencer ao mesmo tempo e rapidamente desafios dos séculos XIX, XX e XXI nas áreas de educação, da alfabetização digital e do acesso gratuito às novas tecnologias.

FONSECA, Ana Carla

O reconhecimento da abrangência da economia criativa lança por terra a ideia de que criatividade é apanágio de artistas e cientistas, e traz novas justificativas para valorizar a criatividade de todos os trabalhadores, expandindo suas possibilidades de emprego e satisfação, em uma aspiração muito próxima do que se entende por desenvolvimento.

FONSECA, Ana Carla

 Cidades que adotaram a economia criativa como estratégia vêm reconhecendo a importância de investir em um locus urbano que nutra, estimule e atice essa efervescência criativa, não apenas para somar novos ingredientes às receitas que cada trabalhador criativo pode inventar, mas também porque é nesses locais que quem respira e transpira criatividade quer estar.

FONSECA, Ana Carla

Constatar que o brasileiro é criativo é trivial; converter essa criatividade em ativo econômico e base de transformação urbana é mais instigante e tremendamente gratificante.

FONSECA, Ana Carla

Uma estratégia de economia criativa requer conscientização, vontade política e capacidade de articulação dentro do governo e entre este e os demais atores da sociedade. Afinal, economia criativa não se faz sem a participação de quem gera riqueza (o setor privado), de quem a administra (o governo) e de quem a compõe (os trabalhadores).

FONSECA, Ana Carla

Criatividade não pode ser vista como dádiva de alguns privilegiados. Deve permear a lógica de todos os negócios, públicos ou privados, e ser exigida por consumidores de bens e serviços. Mas chegar a essa dimensão exige uma mudança cultural, a qual depende fortemente de um sistema educacional moderno, que ensine a pensar o mundo sob um novo ângulo.

GOLDENSTEIN, Lidia

 Dos diferentes setores que compõem a economia criativa, o design é talvez um dos mais abrangentes, pois perpassa todos, inclusive os que não integram o setor. O design é um instrumento essencial na criação do “caldo de cultura” necessário ao desenvolvimento da economia criativa. Não só por sua capacidade de modernizar e alavancar tanto os setores considerados tradicionais como os demais, mas também por incentivar um olhar novo e mais exigente do consumidor. Design e criatividade são quase sempre associados a questões de estética, aparência e estilo. Porém, eles são muito mais do que isto, pois constituem as ferramentas necessárias à manufatura de produtos e serviços inovadores e com qualidade e valor agregado elevados.

GOLDENSTEIN, Lidia

 Em resumo, uma crítica radical às velhas políticas protecionistas, que coloque o debate de fato em um novo patamar, passa pela compreensão do que é a manufatura no mundo moderno e a sua indissociabilidade do setor de serviços. Vários países perceberam este novo cenário e começaram a redirecionar suas políticas públicas para o incentivo dos setores criativos e ligados às novas tecnologias. Alguns já haviam perdido suas manufaturas para a Ásia. Outros, como a própria China, mesmo tendo se tornado a grande fornecedora de manufaturas do mundo, investe cada vez mais em design, novas tecnologias e outros intangíveis, como forma de elevar o valor agregado produzido no país e garantir a manutenção da indústria em seu território. Em seu último plano quinquenal, a China colocou explicitamente a opção de apoiar a economia criativa como estratégia de crescimento para deixar de ser uma economia conhecida por produtos made in China e tornar-se conhecida por produtos designed in China.

GOLDENSTEIN, Lidia

 

Desenvolvimento

 

[A Grande Saída, título do livro cuja edição brasileira acaba de ser lançada] é a libertação de milhões de pessoas que antes viviam na condição de prisioneiras da pobreza, com privação material, baixa expectativa de vida, doenças. Em todo o mundo, nos últimos 250 anos, milhões e milhões de pessoas ascenderam a padrões de vida mais elevados, com avanços na saúde e na educação. Os padrões de vida hoje são significativamente melhores que os de um século atrás. Um número maior de pessoas se livrou do risco de morte prematura e vive o bastante para usufruir a prosperidade. Além disso, o rápido crescimento econômico em muitos países desde a II Guerra Mundial ajudou a tirar centenas de milhões de pessoas da miséria. Recentemente, a China e a Índia são os maiores exemplos disso.

DEATON, Angus

 Sou um discípulo de Amartya Sen (indiano que ganhou o Nobel de Economia em 1998). Ele passou a maior parte da vida tentando fazer as pessoas entenderem que o bem-estar não é apenas uma questão de dinheiro. A lista do que faz a vida valer a pena certamente inclui dinheiro, mas também muitas outras coisas. Saúde é uma delas, assim como educação, participação na sociedade, amizades, tudo aquilo que faça alguém sair da cama pela manhã e amar a vida.

DEATON, Angus

O desenvolvimento econômico exige um contrato social entre o governo e a população. Essa é a base para o desenvolvimento. Isso se dá por meio da cobrança de impostos e dos gastos públicos. Por esse contrato, o governo tem a função de fazer algo pela população. Se esse governo é total ou amplamente financiado pela ajuda de outros países, então os políticos não terão incentivos para prestar atenção às reivindicações da população. O desenvolvimento não vai acontecer nessas circunstâncias. É o que vemos em países pobres.

DEATON, Angus

 

Desigualdade

 

A questão da desigualdade é muito complexa, porque pode ter aspectos positivos e negativos. Alguém pode ficar rico graças a alguma inovação maravilhosa, mas essa mesma pessoa pode usar esse dinheiro de maneira política para prejudicar terceiros. Essa pessoa será um exemplo de boa e má desigualdade. Boa parte da desigualdade social nos Estados Unidos, e no mundo, tem a ver com indivíduos que buscam fazer o que chamamos de rent seeking, ou seja, persuadir o governo a lhes conceder favores especiais e privilégios. Pense na indústria farmacêutica fazendo lobby no Congresso americano e em como os seus executivos ficam ricos obtendo leis favoráveis aos seus negócios.

DEATON, Angus

 

Economia/Teoria Econômica/Economista

 

Nós, os economistas – profissão, hoje, tão contagiosa como o sarampo –, abusamos, sem dúvida, do direito de desnortear o comum dos mortais.

CAMPOS, Roberto

 

Economia compartilhada

 

[A economia compartilhada] vem de centenas de anos, quando as cidades eram pequenas e seus moradores compartilhavam suas posses com os vizinhos.

DANA, Samy

 Ninguém sabe para onde vai, mas teremos mudanças. É um caminho sem volta, criado pela tecnologia.

DANA, Samy

 

Eugênio Gudin

 

Nunca construí ‘modelo econômico’ algum, nem formei ‘escola’ alguma. O que procurei fazer foi tentar esclarecer o que era confuso ou corrigir o que me parecia errado.

GUDIN, Eugênio

 Se eu não estivesse aqui preso com essa bengala, eu me levantaria, porque não se pronuncia o nome de [Johan Knut] Wicksell sentado.

GUDIN, Eugênio

 

Globalização

 

A globalização trouxe enormes benefícios para milhões, bilhões de pessoas ao redor do mundo. Trouxe grandes benefícios também para os países ricos, como produtos que se tornaram muito mais baratos e acessíveis. Quem poderia imaginar, alguns anos atrás, que o avião mais comum em Newark, aeroporto da região de Nova York, seria fabricado no Brasil?

DEATON, Angus

 

Hayek

 

Por favor, não se tornem hayekianos, pois cheguei à conclusão que os keynesianos são muito piores que Keynes e os marxistas bem piores que Marx.

HAYEK, Friedrich

 

Incentivos

 

A teoria econômica é em grande parte uma questão de incentivos para trabalhar, fabricar produtos de boa qualidade, estudar, investir, poupar. Instituições que asseguram bons incentivos para os agentes econômicos tornaram-se tema central da teoria.

LAFFONT, Jean-Jacques e MARTIMORT, David

Pessoas reagem a incentivos. O resto é nota de rodapé.

LANDSBURG, Steven E.

Indústria infante

 

O argumento de proteger as indústrias infantes é uma cortina de fumaça. Os assim chamados infantes nunca crescem. Uma vez impostas, as tarifas raras vezes  são eliminadas. Mais ainda… o argumento é utilizado para proteger infantes que podem exercer pressão política.

FRIEDMAN, Milton e Rose

 

Inovação

 

Nosso grande desafio é colocar no DNA de nossos negócios, das nossas indústrias, dos nossos empresários a questão da inovação.

GOLDENSTEIN, Lídia

 

Intervenção governamental

 

Em primeiro lugar, o governo deve ser um árbitro da economia. Ou seja, deve agir para que a disputa ocorra de maneira limpa e justa. Deve ser o juiz, mas não um dos jogadores. Além disso, o Estado deve também prover uma rede de amparo e proteção social. Acredito que um Estado de bem-estar com boas políticas seja vital para a criação de oportunidades, o que, ao final, acabará incentivando a competição e o aumento da produtividade na economia.

ZINGALES, Luigi

 O fundamental, para o desenvolvimento de uma economia, é que o governo propicie um ambiente favorável à competição, em vez de criar ainda mais distorções e desigualdade de oportunidades. Dos países escandinavos chegam os melhores exemplos. Eles possuem um Estado de bem-estar notável, seus gastos públicos são elevados, mas o objetivo central de suas políticas é proteger os trabalhadores, e não as empresas. Considero importante essa rede de proteção, porque ela contribuiu para manter a economia saudável e preservar o crescimento a longo prazo. Em outros países – entre eles, em muitos aspectos, o Brasil –, boa parte dos recursos públicos é usada para ajudar grandes empresários, por meio, muitas vezes, da concessão de subsídios. Portanto, o tamanho do Estado em si é um indicador insuficiente para definir sua adequação. É preciso verificar se ele cumpre sua função de estimular a competição, se age em benefício do mercado, e não apenas de algumas grandes empresas.

ZINGALES, Luigi

 

Mudança climática

 

Uma das questões sobre as quais eu não falo de forma suficiente no livro [A Grande Saída], mas deveria fazê-lo, é a mudança climática. Ela terá efeitos ruins para os mais pobres e provavelmente vai exacerbar a desigualdade. Os países ricos têm maior capacidade de mitigar as consequências negativas do que as nações mais pobres.

DEATON, Angus

 

Quarta Revolução Industrial (ou Indústria 4.0)

 

As tecnologias da computação e os avanços digitais estão fazendo pelo nosso cérebro o mesmo que as máquinas a vapor fizeram pelos nossos braços na Revolução Industrial.

BRYNJOLFSSON, Erik

A crescente substituição do trabalho humano pelas máquinas deverá fazer com que metade das ocupações que existem hoje desapareça no prazo de uma ou duas décadas.

BRYNJOLFSSON, Erik

Nem todas as indústrias estão no mesmo ponto de ruptura, mas todas estão sendo levadas a uma curva de transformações pelas forças da quarta revolução industrial. Existem diferenças dependendo do tipo de indústrias e do perfil demográfico da base de clientes. Mas em um mundo caracterizado pela incerteza, a capacidade de adaptação é fundamental – quando uma empresa é incapaz de mover-se na curva, ela corre o risco de ser lançada para fora dela.

SCHWAB, Klaus

 Como um primeiro passo vital, precisamos continuar a aumentar a conscientização e a compreensão em todos os setores da sociedade. Devemos parar de pensar de maneira compartimentada na tomada de decisões – particularmente porque os desafios que enfrentamos estão cada vez mais interligados. Somente uma abordagem inclusiva poderá engendrar a compreensão necessária para abordar as muitas questões levantadas pela quarta revolução industrial. Isso exigirá estruturas colaborativas e flexíveis, que reflitam a integração dos vários ecossistemas e que levem em conta todas as partes interessadas, reunindo o público e o privado, bem como as mentes de todas as origens e mais informadas do mundo.

 SCHWAB, Klaus

Todas as empresas serão potencialmente uma empresa de software.

SCHWAB, Klaus

Roberto Campos

Contudo, a história lhe reservou um lugar junto aos “vencedores” cujo pensamento e cuja atuação continuavam moldando o Brasil de hoje. Por causa disso, Roberto Campos constitui uma referência fundamental para a compreensão dos atuais pilares da agenda de desenvolvimento neoliberal. No quadro das transformações estruturais do sistema capitalista mundial, o movimento de adequação do Brasil às novas exigências da ordem global revelou que suas ideias situavam-se à frente do seu tempo. Neste sentido, a sua defesa de estratégias para a viabilização da economia de mercado – nos moldes das diretrizes neoliberais do assim chamado “Consenso de Washington” – reflete a vanguarda do seu pensamento e de sua influência no atual processo de transformação da economia e da sociedade do Brasil.

MADI, Maria Alejandra Caporale

 

 

Referências bibliográficas e webgráficas

 

ABREU, Marcelo de Paiva. Um Keynes inverossímil. O Estado de S. Paulo, 28 de setembro de 2016, p. B 2.

BAUMANN, Renato. 2016 foi um ano “noves fora” zero. E 2017? Jornal dos Economistas. Órgão Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ, Nº 331, fevereiro de 2017, pp. 11-12.

BRYNJOLFSSON, Erik. Um turbilhão vem aí. Entrevista a Pieter Zalis. Veja, 2 de novembro de 2016, pp. 15-19.

CASTRO, Lavínia Barros de. Novas políticas em debate. Em GOLDENSTEIN, Lidia e ROSSELLÓ, Pablo (coordenadores). Novas direções na formulação de políticas para a economia criativa. São Paulo: British Council Unidade de Economia Criativa, 2014, pp. 112-118.

DEATON, Angus. Marcha para o progresso. Entrevista a Marcelo Sakate. Veja, 9 de agosto de 2017, pp. 15-17.

DELFIM NETTO, Antonio. É preciso avançar. Entrevista para Diário do Poder. Disponível em http://www.diariodopoder.com.br/noticia.php?i=78965619766.

FILGUEIRAS, Luiz. O golpe e as contrarreformas neoliberais. Jornal dos Economistas. Órgão Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ, Nº 333, maio de 2017, pp. 3-4.

FONSECA, Ana Carla. Economia Criativa na Bahia – uma relação que amadurece. Em SEBRAE Bahia. Economia criativa e cidades criativas da Bahia: oficinas criativas. Salvador, 2013.

FONSECA, Ana Carla. Economia criativa e o futuro do (nosso) trabalho. O Estado de S. Paulo, E&N – Economia & Negócios Especial da Semana da Economia Criativa, 29 de setembro de 2016, p. H 6.

FRIEDMAN, Milton e Friedman, Rose. Free to choose. Orlando: Harvest Books, 1990.

GIANNETTI, Eduardo. ‘É uma conversa de parceiros do ilícito, não tem cabimento’. Entrevista a Alexa Salomão. O Estado de S. Paulo, 21 de maio de 2017, p. B 4.

GOLDENSTEIN, Lidia. Economia criativa vem crescendo no Brasil. Jornal da Globo, 25 de julho de 2017. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=V_WPB3L3Qr4.

GOLDENSTEN, Lidia. Cultura como instrumento de regeneração das cidades. Em GOLDENSTEIN, Lidia e ROSSELLÓ (coordenadores). Regeneração urbana através da cultura funciona? São Paulo: British Council Unidade de Economia Criativa, 2014, pp. 134-138.

GOLDENSTEIN, Lidia. Enfrentando velhos problemas e novos desafios. Em GOLDENSTEIN, Lidia e ROSSELLÓ (coordenadores). Qual o papel do design na política de inovação? São Paulo: British Council Unidade de Economia Criativa, 2014, pp. 124-128.

GOLDENSTEIN, Lidia e ROSSELLÓ, Pablo (coordenadores). Novas direções na formulação de políticas para a economia criativa. São Paulo: British Council Unidade de Economia Criativa, 2014.

GUDIN, Eugênio. O pensamento de Eugênio Gudin. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1968.

LAFFONT, Jean-Jacques e MARTIMONT, David. The Theory of Incentives. February 6, 2001. Disponível em https://gnunet.org/sites/default/files/Laffont%20%26%20Martimort%20-%20The%20Theory%20of%20Incentives.pdf.

LANDSBURG, Steven E. The Armchair Economist. Free Press, 2012. Disponível em https://www.slideshare.net/jagifahonu/free-pdf-the-armchair-economist-economics-and-everyday-life-books-online.

LATIF, Zaina. O irmão do meio. O Estado de S. Paulo, 10 de agosto de 2017, p. B 6.

LISBOA, Marcos. Outra história: uma resposta a Fernando Haddad. Piauí, agosto de 2017, pp. 26-31.

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