A caminho de ser o maior de todos
Com a vitória no Masters (que reúne os oito jogadores de melhor desempenho nos quatro torneios do Grand Slam e nos doze da série Master) realizado na China, Roger Federer fechou com chave de ouro uma fantástica temporada, que só não foi perfeita por ele não ter conquistado o Aberto da França, em Roland Garros, com o que teria conquistado o Grand Slam – conjunto dos quatro mais importantes torneios do mundo: Austrália, França, Inglaterra e Estados Unidos.
Seu desempenho extraordinário ao longo do ano é claramente expresso pelos números. Durante a temporada de 2006 ele conquistou 12 torneios, registrando a impressionante marca de 92 vitórias contra apenas 5 derrotas! Com isso, manteve-se no topo do ranking da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), com ampla vantagem sobre o segundo colocado, o espanhol Rafael Nadal, que, aliás, foi o responsável por quatro das cinco derrotas sofridas por Federer durante o ano.
Com esse retrospecto, o suíço caminha a passos largos para se transformar no maior tenista de todos os tempos, lugar ocupado por Pete Sampras, de acordo com uma enquete realizada entre jornalistas especializados há alguns anos. Com seus resultados, Federer vem quebrando recordes e mais recordes, alguns dos quais vinham perdurando por muito tempo.
Exemplos disso são: Federer já superou, matematicamente, uma das marcas mais expressivas da história do tênis, as 160 semanas de Jimmy Connors como número 1 do mundo, já que está garantido no topo do ranking até março, tempo suficiente para superar Connors; com a vitória sobre sobre James Blake e a conquista do Masters, tornou-se o único tenista da história a alcançar a marca de US$ 8 milhões em uma temporada – exatos US$ 8,343,885 -, além de estabelecer um novo teto para pontos em um único ano: 8.370; também é o primeiro homem desde Ivan Lendl em 1982 a vencer mais de 90 partidas em uma mesma temporada; se isso não bastasse, com 12 troféus no ano, ele é o único tenista na Era Profissional a ganhar 10 ou mais títulos em três temporadas seguidas.
A lista, porém, não pára aí. Federer superou a seqüência invicta na grama de Bjorn Borg com o tetracampeonato de Wimbledon, foi primeiro homem a vencer o US Open e Wimbledon em três anos consecutivos e o primeiro a chegar a seis finais seguidas de Grand Slam.
Lembro-me que, no final de 2005, logo após ser derrotado pelo argentino David Nalbadian na final do Masters, muitos analistas previram que dificilmente Federer conseguiria, em 2006, repetir os resultados das duas excepcionais temporadas de 2004 e 2005, nas quais venceu 11 torneios em cada uma, incluindo os três do Grand Slam: Austrália, Inglaterra e Estados Unidos. Concluída a temporada, constatamos que ele não apenas conseguiu igualar a incrível performance, mas foi além, superando-a.
Todas essas conquistas, no entanto, não têm sido suficientes para alterar o comportamento do suíço, que permanece com uma postura sóbria, tanto dentro como fora das quadras, razão pela qual é merecedor do respeito de seus adversários e da crônica do mundo todo.
Os dois grandes desafios de Federer são: ganhar o Aberto da França, em Roland Garros, e conquistar o Grand Slam, vencendo os quatro grandes torneios na mesma temporada. A tarefa, entretanto, não é fácil, pois para conquistar o Aberto da França terá de vencer Rafael Nadal na quadra de saibro, superfície em que o espanhol é considerado o rei, substituindo Gustavo Kuerten, o nosso Guga, também considerado por um bom tempo o melhor jogador em quadras de saibro. Contraste interessante é que enquanto Federer já venceu por três vezes os outros torneios do Grand Slam, Guga venceu apenas o da França, também por três vezes.
Como bem observou o jornalista Fernando Franco, “o provável maior inimigo de Federer nos próximos torneios está ironicamente nele mesmo: encontrar a motivação para seguir em um circuito que não o desafia”.
Quem acompanha o nível de precisão atingido na modalidade, pode aquilatar o significado dessa fantástica supremacia de Federer. Ao contrário do que ocorre em algumas outras modalidades esportivas, em que a superioridade de um campeão pode estar baseada em fatores externos, como a máquina, por exemplo, no caso do automobilismo e do motociclismo, no tênis, a máquina é o próprio jogador.
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