Criatividade: indispensável, mas ainda desconhecida
“Existe criatividade sem inovação, mas não existe inovação sem criatividade”.
Bill Shephard
Dois fatores levaram-me a escrever este breve artigo. O primeiro foi a leitura de dois livros que estimulam a reflexão: 21 lições para o século 21, de Yuval Harari, e O novo iluminismo, de Steven Pinker. Ambos enfatizam a rapidez com que as mudanças ocorrem no mundo contemporâneo, chamam a atenção para o fato de que os alunos que estão sendo formados nos dias de hoje viverão sua vida profissional numa realidade em grande parte ainda desconhecida e destacam a importância de saber aprender a aprender, única forma de se reinventar permanentemente, que será uma exigência para qualquer indivíduo já a partir da próxima década.
O segundo foi o Dia Mundial da Criatividade, comemorado no dia 21 de abril. Como este ano o referido dia coincidiu com o Domingo de Páscoa, sua repercussão foi naturalmente prejudicada.
A ponte que liga esses dois fatores diz respeito ao caráter indispensável da criatividade para a capacidade das pessoas se reinventarem e, no plano empresarial, para a inovação, uma das principais ferramentas não só para a obtenção de diferencial competitivo, mas, de certa forma, para a própria sobrevivência num mundo em que a concorrência é cada vez mais acirrada.
Minha preocupação se deve ao fato de que a maioria das pessoas continua acreditando que a criatividade é um atributo inato, ou seja, que nasce com qualquer pessoa. A rigor, mesmo reconhecendo que algumas pessoas, por sua personalidade, podem ter mais facilidade de externalizar sua criatividade, ela se constitui numa área de conhecimento como qualquer outra, havendo diversas linhas de pesquisa a seu respeito nas diversas gerações que têm se dedicado ao seu estudo, como pode se ver no quadro 1.
Quadro 1 – Principais linhas de pesquisa sobre criatividade
Geração | Denominação | Ênfase | Expoente(s) |
1ª) Anos 1950 | Pensamento criativo | Desenvolvimento de habilidades | J. P. Guilford |
2ª) Década de 1960 | Solução criativa de problemas | Produtividade | Alex Osborn e Sidney Parnes |
3ª) Década de 1980 | Viver criativo | Autotransformação | David de Prado |
4ª) Década de 1990 | Criatividade como valor social | Solução de problemas sociais, aberta à vida, e ao cotidiano | Saturnino de la Torre |
5ª) Início do século XXI | Economia criativa | Geração e exploração da propriedade intelectual | John Howkins e Richard Florida |
Elaboração do autor
É possível identificar uma importante mudança: até a terceira geração, os estudos e pesquisas sobre criatividade estavam mais voltados para a dimensão individual; a quarta e a quinta gerações, por sua vez, revelam uma preocupação mais ampla, marcada pela busca de soluções para questões sociais e para a formulação de políticas públicas.
Lamentavelmente, porém, são raríssimas as escolas e faculdades que oferecem alguma formação sistemática sobre esta indispensável área do conhecimento.
Referências bibliográficas
FLORIDA, Richard. A ascensão da classe criativa. Tradução de Ana Luiza Lopes. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011.
HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Tradução de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
HOWKINS, John. A economia criativa: como ganhar dinheiro com ideias criativas. Tradução de Ariovaldo Griesi. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda., 2013.
OSBORN, Alex F. O poder criador da mente – Princípios e processos do pensamento criador e do “brainstorming”. São Paulo: IBRASA, 1972.
PARNES, Sidney J. The magic of your mind. Buffalo, NY: The Creative Education, Inc., 1981.
PINKER, Steven. O novo iluminismo: em defesa da razão, da ciência e do humanismo. Tradução de Laura Teixeira Motta e Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
PRADO, David de. Técnicas creativas y lenguaje total. Madrid: Narcea, 1988.
TORRE, Saturnino de la. Creatividad plural: sendas para indagar sus múltiples perspectivas. Barcelona: PPU, 1993.
PPU, 1993.
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