A herança maldita e capacidade de reação do governo

 Eduardo José Monteiro da Costa[1]

Tenho observado muitos analistas nos últimos dias avaliarem a reação do governo federal à crise econômica atual. Mas têm temas que tenho notado ausentes em seus comentários.

Um deles é o fato de que a “herança maldita” dos governos anteriores, o déficit fiscal crônico das contas públicas brasileiras, limita significativamente a capacidade atual de alavancagem por meio de políticas macroeconômicas expansionistas. Em que pese isso, chama atenção o fato de estarem sendo mobilizados R$ 750 bilhões para reagir à crise, cerca de 2,6% do PIB.

Alguns dizem que é pouco. Essa questão é relativa. Porém se os governos anteriores tivessem construído escolas e hospitais em vez de estádios, se não tivessem cometido tantos esquemas de corrupção e se tivessem gerido melhor os recursos públicos, provavelmente estaríamos em situação melhor e a capacidade de alavancagem do governo atual certamente seria muito maior.

Em síntese, algo que já sabemos, mas a COVID-19 nos lembra tragicamente: corrupção e má gestão matam muito mais do que uma pandemia.

[1] Doutor em Economia pela Unicamp e professor da UFPA. Correio eletrônico: ejmcosta@gmail.com