O IDH no mundo em 2019
Paulo Galvão Júnior*
Há 30 anos, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da Organização das Nações Unidas (ONU), mensura o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de países e territórios, localizados em cinco continentes, e divulga anualmente o Relatório de Desenvolvimento Humano desde 1990.
O IDH é um relevante índice de comparação nas condições básicas de vida dos habitantes em diferentes países. O IDH é formado por três pilares, a saúde (vida longa e saudável), a educação (acesso ao conhecimento) e a renda (padrão de vida decente). O IDH foi criado em 1989 pelos economistas asiáticos, o paquistanês Mahbub Ul Haq (1934-1998) e o indiano Amartya Sen, o Prêmio Nobel de Economia de 1998. O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer um contraponto a indicadores econômicos como o Produto Interno Bruto (PIB) e o PIB per capita. O PIB é o “valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico de um país” (SANDRONI, 2014, p.649[1]). Já o PIB per capita é o PIB total dividido pela população total de um país.
O IDH (em inglês, Human Development Index – HDI) varia numa escala de 0 (sem desenvolvimento humano) a 1 (o mais alto desenvolvimento humano). A ONU, através do PNUD, observa anualmente que não existe nenhum país com IDH igual a zero. Nem tão pouco existe algum país com IDH igual a um. Quanto mais próximo de 1, mais alto é o desenvolvimento humano do país. Existem 193 países membros da ONU, com sede em Nova York, nos Estados Unidos da América (EUA). No total, foram avaliados o IDH de 189 países e divulgados no RDH 2020. Em 2019, o IDH não pôde ser calculado em países e territórios como a Coreia do Norte, Mônaco, Nauru, San Marino, Somália e Tuvalu.
É possível observar os extremos opostos do IDH no mundo, baseado no melhor e pior IDH na América (América do Sul, América Central e América do Norte), Europa, África, Ásia e Oceania. No IDH, os países são classificados deste modo: (i) Quando o IDH de um país encontra-se entre 0 e 0,549, é considerado um país de desenvolvimento humano baixo; (ii) Quando o IDH de um país entre 0,550 e 0,699, é apontado como um país de desenvolvimento humano médio; (iii) Quando o IDH de um país entre 0,700 e 0,799, é um país de desenvolvimento humano alto; (iv) Quando o IDH de um país entre 0,800 e 1, é um país na categoria de desenvolvimento humano considerado muito alto.
Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2020, são 66 países de desenvolvimento humano muito alto (de Noruega a Maurício). São 53 países de desenvolvimento humano alto (de Seychelles ao Gabão). São 37 países de desenvolvimento humano médio (de Quirguistão a Comores). E são 33 países de desenvolvimento humano baixo (de Mauritânia a Níger). A Noruega é o país com o melhor IDH do planeta, com 0,957 e o Níger é o pior IDH do mundo, com 0,394.
O IDH é mensurado por quatro indicadores de cada país: expectativa de vida ao nascer, média de anos de estudo, anos esperados de escolaridade e renda nacional bruta (RNB) per capita. A esperança de vida ao nascer significa o número de anos que um recém-nascido pode esperar viver, se prevalecendo padrões das taxas de mortalidade específicas por idade no momento do nascimento e permanecer durante toda a vida (PNUD).
A média de anos de estudo é o número médio de anos de educação recebidos por pessoas entre 25 anos ou mais de idade. Já os anos esperados de escolaridade significam o número de anos que uma criança de idade escolar pode esperar receber se os padrões de taxas de matrícula persistir por toda a vida (PNUD). A RNB per capita é a renda agregada da economia gerada pela sua produção e sua propriedade de fatores de produção (FP), menos os rendimentos pagos pela utilização de FP do resto do mundo, convertidos para dólares em paridade de poder de compra (PPC), dividido pela população do país (PNUD).
Na comparação entre os 12 países da América do Sul, o Chile é o país com o melhor IDH, e a Guiana com o pior IDH, com 0,851 e 0,682, respectivamente. A Argentina lidera os indicadores sul-americanos de educação, com 10,9 anos em média de estudo e com 17,7 anos esperados de escolaridade. Enquanto, a Guiana tem 11,4 anos esperados de escolaridade e o Brasil encontra-se em último lugar na média de anos de estudo da população adulta no subcontinente América do Sul, com apenas oito anos (PNUD, 2020).
O IDH do Brasil ficou em 0,765 no ano de 2019, mas avançou modestamente 0,003 no IDH comparando com o de 2018 (0,762). Em 2019, a expectativa de vida ao nascer dos brasileiros era de 75,9 anos (PNUD, 2020). Os anos esperados de escolaridade alcançaram 15,4 anos. A RNB per capita foi de US$ 14.263 PPC. Destaca-se a evolução do IDH do Brasil nos últimos trinta anos, passou de IDH de 0,613 em 1990 para IDH de 0,765 em 2019, ou seja, um aumento absoluto de 0,152 e um crescimento relativo de 24,79%.
Na América Central, com 20 países, o melhor IDH é o do Panamá, com 0,815. Já o pior IDH é o do Haiti, com 0,510. Na América do Norte, com três países, o melhor IDH é o do Canadá, com 0,929 e o pior IDH é o do México, com 0,779. Chama muito atenção que os EUA, o país mais rico do mundo, a melhor média de anos de estudo (13,4 anos) da América. No Novo Mundo, com 35 países, o Haiti apresenta os piores indicadores, a esperança de vida ao nascer foi de 64 anos, e a média de anos de estudo era de 5,6 anos.
Já no Velho Mundo, com 50 países, a Noruega segue na liderança do IDH, com uma elevada esperança de vida ao nascer, de 82,4 anos, com 18,1 anos esperados de escolaridade e o tempo de estudo da população norueguesa adulta já chega a 12,9 anos, além disso, a RNB per capita é uma das dez mais altas do planeta, já alcançou US$ 66.494 PPC. Vale a pena enfatizar que o pior IDH da Europa é o da Moldávia, antiga república da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), com 0,750 (PNUD, 2020).
No seleto grupo dos países de desenvolvimento humano muito alto, destacam-se os cinco países nórdicos, a Noruega, Islândia, Suécia, Dinamarca e Finlândia. A Noruega é o país com o maior IDH da Europa e do mundo, com 0,957. A Islândia encontra-se no quarto lugar no mundo, com IDH de 0,949. A Suécia é o sétimo melhor IDH global, com 0,945. Já a Dinamarca e a Finlândia são a décima e a décima primeira posições, com IDH de 0,940 e 0,938, respectivamente.
No continente africano com 54 países, o líder é Seychelles, com IDH de 0,796. É na África que observamos os piores indicadores do planeta Terra. Observa-se que a população da República Centro-Africana apresentava esperança de vida ao nascer de 53,3 anos. Em Burkina Faso, a média de anos de estudo é de 1,6 anos. Os anos esperados de escolaridade da Eritréia foram de 5,0 anos. Em Burundi, a RNB per capita é de US$ 754 PPC, conforme os dados oficiais do RDH 2020, do PNUD.
Os três últimos colocados do ranking do IDH global 2019 são países africanos: Níger (0,394), República Centro-Africana (0,397) e Chade (0,398). Já os três primeiros lugares do ranking do IDH global são países europeus: Noruega (0,957), Irlanda (0,955) e Suíça (0,955). A diferença entre o melhor IDH europeu e do mundo e o pior IDH africano e do planeta é de exatamente 0,563, o IDH de Camarões, um país africano de IDH médio.
Na Ásia, o continente mais populoso, mais extenso e mais rico do planeta, o melhor IDH é o de Hong Kong com 0,949. Já o pior IDH asiático é o de Iêmen, com 0,470 (PNUD, 2020). No continente asiático, com 50 países, a melhor média de anos de estudo é o de Israel, com 13,0 anos, e a maior RNB per capita é a do Qatar, com US$ 92.418 PPC.
Na Oceania, com 16 países, o melhor IDH é o da Austrália, com 0,944. A Austrália tem os melhores indicadores do Novíssimo Mundo, com expectativa de vida ao nascer de 83,4 anos, os 22 anos esperados de escolaridade (o melhor do mundo) e uma RNB per capita de US$ 48.085 PPC. Já Papua Nova Guiné tem o pior IDH da Oceania, com 0,555, além dos piores indicadores, a média de anos de estudo é de apenas 4,7 anos.
O Brasil e o mundo têm graves problemas socioeconômicos, mas nos últimos 30 anos evoluímos, porque “As pessoas são a verdadeira riqueza de uma nação”, diz PNUD. No ranking mundial de 2019, o Brasil regrediu cinco posições, passou da 79ª para a 84ª colocação, com certeza, no ranking de 2020, do RDH 2021, que será mensurado os impactos socioeconômicos da pandemia da COVID-19, cairá mais, só que a trajetória desta vez, infelizmente, o Brasil e outros 188 países provavelmente despencarão no IDH.
[1] SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2014.
Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp.
Artigo publicado no Portal MaisPB em 12 de fevereiro de 2021.
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