O Brasil e o Dia do Professor

Aulinha de dois mil réis

Apesar das frequentes notícias que vêm a público, dando conta do elevado grau de corrupção existente em nosso país, e da terrível consequência disso em termos de desvio de recursos que poderiam ser aplicados em educação, saúde, segurança, infraestrutura etc., gostaria de homenagear a todos os professores pela passagem do seu dia.

Reconheço a validade das constantes reivindicações de professores por melhor remuneração e condições de trabalho mais favoráveis. As condições vividas pelos docentes, sobretudo nas regiões mais carentes, exigem deles muito esforço  e motivação para bem desempenhar seu importantíssimo papel na formação da nossa juventude.

O problema, porém, é muito antigo e, par ilustrá-lo, recorro a uma passagem que já faz parte de nosso folclore. Não se sabe se real ou não, mas ideal para bem demonstrar a antiguidade do problema.

Ainda no Império, numa homenagem à figura do Imperador Pedro II, determinado colégio da então capital – o Rio de Janeiro – foi batizado com seu nome. Tratava-se de uma das escolas mais respeitadas da época, frequentada por filhos da aristocracia local. Entretanto, havia um determinado professor no quadro docente da escola que era famoso por sua conduta nada elogiável: faltava constantemente, não respeitava horários, dava aulas mal preparadas e outras coisas desse gênero. Isso fez com que diversas reclamações chegassem, inclusive, aos ouvidos do Imperador. Este, para certificar-se, fez uma visita de surpresa ao colégio. Recebido pelo diretor, foi logo dizendo que gostaria de assistir a uma das aulas do referido professor. O diretor, conhecedor da situação, procurou dissuadi-lo, convidando-o a assistir a outras aulas. Como o Imperador permaneceu irredutível, dirigiram-se à sala em que o professor se encontrava.

 O que se assistiu a seguir foi uma aula extraordinária, capaz de ser ministrada apenas por professores de alto gabarito. Os dois ilustres visitantes, assim como os alunos, presenciaram brilhante exposição.

 O diretor da escola e o Imperador, estupefatos, deixaram o recinto antes do término da aula, comentando, entre si, a improcedência das acusações feitas ao professor.

 Na sala, após certificar-se de que os visitantes já se haviam retirado, o professor disse a seus alunos:

 – “Bem, vamos voltar à aulinha de dois mil réis!”.

É triste pensar que enquanto milhares de professores se esforçam para tirar leite de pedra, exercendo condignamente a sua profissão em condições adversas, e recebendo baixíssimos salários por seu trabalho, recursos públicos consideráveis são desviados em decorrência de desmandos e maracutaias. Consequência: nossos estudantes ocupam as últimas posições nos rankings internacionais de educação, ao passo que o Brasil é um dos países com mais alto índice de percepção da corrupção.

Apesar de tudo isso, o Brasil resiste. Já imaginaram o que seria deste país se apenas o dinheiro que é desviado fosse utilizado para remunerar melhor os nossos professores, construir, manter e equipar nossas escolas? Com certeza, os bons resultados não demorariam a aparecer.

Meu respeito e minha saudação a todos os professores!