Duas janelas de oportunidades para 2022

“Com um bom planejamento, o Brasil pode transformar a sua vantagem competitiva em soluções inovadoras de baixo carbono para o mundo, atraindo investimentos em tecnologia, gerando empregos de qualidade, exportando créditos de carbono e agregando valor a suas matérias-primas.”

Marina Martins Mattar

 

Como ocorre todos os anos, o mercado de previsões sobre o desempenho da economia no ano seguinte está repleto de ofertas. Instituições financeiras, empresas de consultoria, economistas e jornalistas, especializados ou não, têm disponibilizado suas respectivas visões a respeito das perspectivas da economia brasileira para 2022.

Mesmo reconhecendo a existência de divergências maiores ou menores nesse diversificado mercado de apostas, há certo consenso quanto a dois indicadores fundamentais da economia: o crescimento do PIB será pífio e a inflação permanecerá acima da meta. Em outras palavras, o Brasil continuará distante do bom desempenho do passado, especialmente daquele verificado entre 1870 e 1986, período em que teve o melhor desempenho em termos absolutos entre 10 grandes economias, de acordo com estudo de Angus Maddison, considerado um dos grandes especialistas em ciclos longos de desenvolvimento[1].

Esse provável desempenho pouco auspicioso em 2022 poderia ser parcialmente melhorado caso o Brasil aproveitasse as janelas de oportunidade em setores de que dispõe de reconhecidas vantagens competitivas, mas que, por diversas razões, não o tem feito até agora.

A primeira dessas janelas encontra-se na área ambiental e, mais especificamente, na economia de baixo carbono. Como aponta Marina Martins Mattar, fundadora e CEO da Perspectiva Comunicação & Relações Institucionais, com base nas conclusões da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, realizada em Glasgow no início de novembro:

A COP26 mostrou ao mundo o protagonismo e esforço do setor privado em torno da agenda da economia de baixo carbono, demonstrando que esse é um caminho sem volta para as empresas. Com o impacto cada vez maior na economia, na sociedade e nas relações internacionais, a economia de baixo carbono será um dos temas centrais em 2022. O país precisa crescer e, para crescer, precisa ser com uma agenda sustentável, que considere os três pilares da sustentabilidade: ambiental, econômico e social.

Dando continuidade à sua argumentação, afirma Marina Mattar:

A COP26 não deve ser vista como limitadora da economia, mas sim como um mapa de oportunidades, especialmente para o nosso país, que tem vocação natural para a economia de baixo carbono. Com planejamento, o Brasil tem a capacidade de ser um dos grandes líderes nesse cenário. Além de uma matriz elétrica renovável e uma agricultura de baixo carbono, o país conta com biocombustíveis em larga escala, que tornam o transporte no país potencialmente mais limpo que os carros elétricos em países que dependem de usinas movidas a combustíveis fósseis. O país tem ainda o potencial para liderar a produção de hidrogênio verde, um dos combustíveis do futuro.

A segunda janela reside na chamada economia criativa, um dos segmentos que mais cresce no mundo de acordo com pesquisas de organismos multilaterais como a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e a UNICEF (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

De forma bastante simplificada, pode-se dizer que a economia criativa, conhecida também como economia do intangível, reúne as atividades que têm, na cultura e na criatividade, a sua matéria-prima.

Mesmo nos dois atípicos anos de 2020 e 2021, em que a pandemia do coronavírus teve impacto devastador sobre as economias do mundo todo, alguns segmentos da economia criativa, como os de software e jogos eletrônicos, continuaram apresentando sólidos desempenhos.

Por essa razão, é natural supor que com as coisas retomando a normalidade, a economia criativa readquira seu papel de setor fundamental de geração de emprego e renda, além de combinar fatores de importância inquestionável no Brasil contemporâneo, como diversidade cultural, inovação, sustentabilidade e inclusão social.

Lamentavelmente, no Brasil, o reconhecimento da relevância da economia criativa é ainda limitado. Por diferentes razões, entre as quais a falta de continuidade das políticas públicas – comum também em diversas outras áreas –, a economia criativa segue sendo vista por muita gente como um segmento menor, de importância marginal, e não com o potencial de ser um dos carros-chefes do nosso desenvolvimento. Por isso, o País está desperdiçando uma enorme oportunidade de desempenhar papel de protagonismo no cenário mundial, fenômeno que se repete, como já apontado, no campo do meio ambiente e das mudanças climáticas.

 

Referências

MATTAR, Marina Martins. Perspectivas para 2022. Em Perspectiva Comunicação & Relações Institucionais. 7ª Edição, Dezembro/2021, p. 5.

RICUPERO, Rubens. O Brasil e o dilema da globalização. São Paulo: Editora SENAC, 2001.

 

[1] No consagrado trabalho World Economic Performance Since 1870, Angus Maddison, um dos mais respeitados analistas de ciclos longos de desenvolvimento, identificou o Brasil como o país que apresentou melhor desempenho de 1870 a 1986, numa amostra que reunia os cinco maiores países da OCDE (EUA, Alemanha, Reino Unido, França e Japão) e os cinco maiores de fora da OCDE (Rússia, China, Índia, México e Brasil). Nesse estudo, publicado em 1987 e apontado pelo embaixador Rubens Ricupero como “o mais impressionante de todos, por comparar grandes economias, portanto entidades pertencentes mais ou menos à mesma ordem de grandeza, e por cobrir duração de tempo tão extensa”, Maddison concluiu que “o melhor desempenho tinha sido o brasileiro, com a média anual de 4,4% de crescimento; em termos per capita, o Japão ostentava o resultado mais alto, com 2,7%, mas o Brasil, não obstante a explosão demográfica daquela fase, vinha logo em segundo lugar, com 2,1% de expansão por ano”.