A renda per capita na Coreia do Sul nos últimos 60 anos
Paulo Galvão Jr.*
Em 15 de agosto de 1948 foi proclamada a República da Coreia. Após o final da Guerra da Coreia (25 de junho de 1950 a 27 de julho de 1953), a economia estava arrasada e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita era de US$ 158 em 1960, segundo o Banco Mundial. Em plena Guerra Fria, a Coreia do Sul, pobre em recursos naturais, era um país agrícola (produção de arroz, cevada, trigo, milho e batata) e com forte captura de toneladas de peixe nos rios Han, Nakdong e Tuman e no Mar do Japão, no Mar Amarelo e no Mar da China Oriental.
A Coreia do Sul é um país situado na Ásia, na Península da Coreia e com única fronteira terrestre com a Coreia do Norte. Em 1960, com 25 milhões de habitantes, era uma das rendas per capita mais baixas do mundo, ao lado de Quênia, Cabo Verde, Bangladesh e Paquistão. Então, o presidente Park Chung-hee (16 de maio de 1961 a 26 de outubro de 1979) iniciou os planos quinquenais (1962-1966, 1967-1971, 1972-1976 e 1977-1981) para acabar com a pobreza no país e modernizar a estrutura industrial, que, posteriormente, resultaram no PIB per capita de US$ 31.489 em 2020, conforme o Banco Mundial.
Tendo em vista as informações acima, então, surge uma relevante pergunta: Como a renda per capita sul-coreana cresceu 19.830% nos últimos 60 anos? Em minha opinião, os cinco principais fatores da prosperidade econômica da Coreia do Sul nas últimas seis décadas são: (i) A educação de qualidade; (ii) Os Chaebols; (iii) O Estado empreendedor e inclusivo; (iv) A inovação tecnológica; e (v) As exportações de produtos Made in South Korea de qualidade.
A prioridade dos investimentos sul-coreanos foi na educação básica, no combate ao analfabetismo, para alcançar a universalização do ensino fundamental em todo o país. Ocorreram grandes investimentos na capacitação técnica de seus professores, planos de carreira e altos salários na educação básica obrigatória e gratuita.
Atualmente, a Coreia do Sul é um país integrante do seleto grupo de 66 países com índice de desenvolvimento humano (IDH) muito elevado, ou seja, com um IDH superior a 0,800. O IDH da Coreia do Sul é de 0,916, de acordo com os dados de 2019 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da Organização das Nações Unidas (ONU). E a República da Coreia tem o 23º melhor IDH do planeta e o quinto melhor IDH da Ásia, conforme o ranking dos 189 países avaliados pelo PNUD.
Entre 1990 e 2019, o IDH da Coreia do Sul aumentou de 0,732 em 1990 para 0,916 em 2019, ou seja, um aumento absoluto de 0,184 e um crescimento relativo de 25,13% nos últimos 30 anos. E a República da Coreia tem esperança de vida ao nascer de 82,8 anos, média de anos de escolaridade de 12,2 anos, anos de escolaridade esperados de 16,4 anos e Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita de $ 36.757 PPC (paridade de poder de compra), conforme o Relatório de Desenvolvimento Humano 2019 do PNUD.
Na montanhosa Coreia do Sul existe a valorização dos professores nos ensinos fundamental, médio e superior e os docentes recebem bons salários, frequentam modernas bibliotecas, incentivam a leitura de livros, eBooks e utilizam telões, TVs, computadores e notebooks com acesso à internet mais veloz do mundo. É preciso ressaltar que o índice de violência contra os professores em sala de aula é de 0%.
Os professores e os alunos são respeitados e disciplinados e os docentes são estimulados a oferecer aulas particulares em hagwons pela internet ou presencial para os discentes do ensino fundamental e, sobretudo, do ensino médio. Assim, eles se preparam melhor para o vestibular nacional, uma prova de oito horas, no mês de novembro, tendo por objetivo ingressar nas três melhores universidades sul-coreanas, a Seoul National University, a Korea University e a Yonsei University (universidade privada mais antiga do país) ou nas 42 universidades nacionais ou nas 144 universidades privadas.
No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA, na sigla em inglês), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma prova internacional e trienal entre alunos de 15 anos de idade, que avalia a qualidade da educação, a Coreia do Sul encontra-se na 7ª colocação, com 519,7 pontos, de acordo com os dados de 2018 de 79 países avaliados pela OCDE. E os estudantes sul-coreanos ficaram em 7° lugar em Matemática (526 pontos), em 8° lugar em Ciências (519 pontos) e 9° lugar em Leitura (514 pontos).
Segundo o Banco Mundial, o PIB da Coreia do Sul é de US$ 1,5 trilhão, sendo a décima primeira maior economia do mundo e a quarta maior economia da Ásia, atrás da China, Japão e Índia. A Coreia do Sul é um país membro do Grupo dos Vinte (G20), da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC), da Organização Mundial do Comércio (OMC), da ONU e da OCDE. A República da Coreia tem 51,7 milhões de habitantes, com nove províncias (Chungcheong do Sul, Chungcheong do Norte, Gyeongsang do Sul, Gyeongsang do Norte, Jeolla do Sul, Jeolla do Norte, Gangwon, Gyeonggi e Jeju) e seis cidades autônomas (a capital Seul, Busan, Incheon, Daegu, Daejeon e Gwangju).
A moeda é o won sul-coreano desde 1962. A indústria corresponde a 32,8% do PIB e o setor de serviços a 57,1% do PIB sul-coreano. Já a taxa de desemprego é de 3,7% e a taxa básica de juros é de 2,25% a.a., segundo o Bank of Korea. Mas, é preciso destacar que as exportações sul-coreanas atingiram US$ 32,8 milhões em 1960, posteriormente, os bens Made in South Korea (aço, carros, computadores, chips, elevadores, equipamentos, máquinas, navios, nylons, notebooks, televisores, robôs, smartphones, semicondutores etc.) alcançaram US$ 512,4 bilhões em 2020, sendo os três maiores parceiros comerciais a China, os Estados Unidos e o Japão.
Chama muita atenção a taxa de crescimento do PIB sul-coreano entre 1961 e 2021, com apenas três anos não consecutivos de recessão econômica, as retrações de 1,9% em 1980, de 5,7% em 1998 e de 1,2% em 2020, decorrentes do segundo choque do petróleo em 1979, da crise asiática em 1997 e da crise da Covid-19, respectivamente. É preciso revelar que a taxa média de crescimento do PIB sul-coreano no período 1961-1979 foi de 9,5% ao ano; depois, de 7,5% a.a. no período 1980-1998; em seguida, de 4,0% a.a. no período de 1999-2021.
Da pobreza rural para uma indústria moderna destacam-se os maciços investimentos em educação de qualidade. Em 2018, o investimento total por aluno dos 6 aos 15 anos de idade na Coreia do Sul era de US$ 112,60, o 2º maior do planeta, atrás de Macau (China), com US$ 149,23, conforme a OCDE. E a educação é tão prioritária que o ministro da Educação é indicado pelo presidente Yoon Suk-yeol e aprovado na Câmera Legislativa e o secretário de Educação é eleito pelo povo sul-coreano. Em plena Quarta Revolução Industrial, de acordo com o Índice Global de Inovação 2021, da Bloomberg, entre 60 países analisados em sete métricas, a Coreia do Sul é o país mais inovador do mundo, na frente de Singapura, Suíça e Alemanha, pois investe 4,3% do seu PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Os Chaebols são conglomerados empresariais mundialmente conhecidos controlados por famílias sul-coreanas como a Samsung, Hyundai, SK, LG, Posco, Kia, Hanjin e Lotte Group. Desde 1961, os Chaebols recebem financiamentos, benefícios, subsídios e reservas de mercado do governo sul-coreano para gerar riquezas, empregos e renda e exportar bens de consumo duráveis para o resto do mundo. E os atuais 45 Chaebols contribuem com o círculo virtuoso do crescimento econômico de uma das nações tecnologicamente mais avançadas do planeta.
A Coreia do Sul vinha atraindo um volume crescente de turistas, aspecto que foi interrompido pela pandemia. Um dos principais pontos turísticos da capital sul-coreana é um arranha-céu, o Lotte World Tower, de 123 andares e 555 metros de altura, no famoso Gangnam District.
Em suma, com educação, inovação tecnológica, exportação e elevada produtividade do trabalho, aliada à cultura milenar, a Coreia do Sul modernizou a sua economia de mercado e tornou-se um dos quatro Tigres Asiáticos. Os sucessivos governos erradicaram o analfabetismo no início da década de 1980 e colocaram 82% dos jovens nas universidades, o maior percentual do planeta, transformando a Coreia do Sul num país rico, desenvolvido, industrializado e de alta renda, onde o 1% dos mais ricos detém 12,2% da riqueza do país e o Índice de Gini é de 35,5, conforme os dados da OCDE.
Finalizo com um sábio provérbio coreano, “Ao levantar algo, é melhor fazer junto com alguém. Até uma folha de papel”.
* Paulo Galvão Jr. é economista, graduado em Ciências Econômicas pela UFPB, com especialização em Gestão em Recursos Humanos pela FATEC Internacional. Professor do Curso de Graduação em Ciências Contábeis e em Administração nas disciplinas de Economia e de Economia Brasileira no UNIESP. E-mail: paulogalvaojunior@gmail.com.
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