Cultura e economia criativa em destaque

 

“A cultura não tem e nem deve ter ideologia. Ela é da esquerda, da direita, é de todo mundo.”

Marília Marton

 

No dia 23 de fevereiro, fiz uma visita à secretária de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Marília Marton, com o objetivo de entregar um exemplar do livro  Economia + Criatividade = Economia Criativa (figura 1), que terá, em breve, uma nova edição revista e ampliada, e de conhecer os planos da Secretaria voltados à disseminação da cultura e da economia criativa.

Figura 1 – Capa do livro “Economia + Criatividade = Economia Criativa”

Confesso que fiquei muito bem impressionado com o que vi e ouvi da secretária e de dois de seus principais assessores, Frederico Mascarenhas, secretário-executivo, e Christiano Braga, coordenador da Unidade de Difusão, Bibliotecas e Leitura (UDBL), ambos com ótima qualificação e amplo envolvimento com a cultura e a economia criativa.

O que mais me agradou foi constatar que os novos projetos surgidos na gestão de Tarcisio de Freitas não implicarão no abandono de iniciativas em curso consideradas promissoras, evitando um verdadeiro cancro na gestão pública no Brasil que é o da descontinuidade administrativa. Uma das prioridades da nova gestão é levar a cultura a todas as regiões do estado. Como diz Marília Marton, “Uma das prioridades do governo será a interiorização da cultura. Outra será desenhar a cadeia produtiva da cultura com o olhar da empregabilidade. Hoje a cultura chega muito esparsa no interior. Isso sempre foi um problema”.

Entre os projetos que terão continuidade e que se enquadra nessa prioridade destaca-se  o Cria SP, que foi criado em 2022 para estimular determinados municípios do estado de São Paulo a adotarem políticas públicas locais capazes de priorizar a cultura e a economia criativa nas estratégias de desenvolvimento urbano e sustentável. O Cria SP está em perfeita consonância com os quatro princípios norteadores da economia criativa brasileira definidos no Plano da Secretaria da Economia Criativa (figura 2), publicado na profícua gestão de Cláudia Leitão, responsável pela criação da Secretaria e sua primeira gestora de 2011 a 2013.

Figura 2 – A economia criativa brasileira e seus princípios norteadores

Por meio de mentoria especializada, os municípios participantes do projeto recebem apoio para elaboração de planos participativos para a economia criativa, tendo também suporte para a estruturação de potenciais candidaturas à Rede de Cidades Criativas da UNESCO.

Num primeiro momento, 10 municípios que atenderam à chamada pública realizada pelo Programa Juntos pela Cultura enviando informações básicas sobre o setor criativo local foram selecionados. Essas informações incluíram indicações dos principais ativos, os traços identitários, os patrimônios materiais e imateriais e as iniciativas de cada cidade. Um dos subprodutos concretos dessa trabalho é a criação, por cada um dos 10 municípios, de um Plano Municipal Participativo de Desenvolvimento da Economia Criativa, no qual consta a descrição detalhada da metodologia utilizada na elaboração do plano, um amplo diagnóstico do município com dados numéricos atualizados e apresentação das principais forças, fraquezas, oportunidades e ameaças (matriz SWOT) e, finalmente, uma agenda estratégica composta de planejamento estratégico, planejamento tático, plano de ações e mapa estratégico e de governança (figura 3).

Figura 3 – Planos Municipais Participativos de Desenvolvimento da Economia Criativa

Os 10 municípios selecionados – número que não será modificado num primeiro momento – foram Bauru, Cubatão, Itanhaém, Presidente Prudente, Ribeirão Preto. Santa Bárbara d’Oeste, Santa Fé do Sul, São Caetano do Sul, São Luiz do Paraitinga e Sertãozinho, Como se pode perceber, tratam-se de municípios de diferentes tamanhos, localizados em diversas regiões do estado de São Paulo, que se emprenharam durante o segundo semestre de 2022 em ampla agenda de atividades.

Cada um desses municípios recebeu orientação técnica para a identificação e caracterização do campo criativo em que se destaca dentre aqueles sete segmentos identificados pelo programa da Rede de Cidades Criativas da UNESCO como decisivos para estimular a vitalidade econômica e a inovação, bem como reforçar a inclusão e a diversidade de expressões culturais como forma de enfrentar os desafios que surgem permanentemente.

Os sete segmentos contemplados pela Rede de Cidades Criativas da UNESCO são: Artesanato e Artes Folclóricas, Artes Midiáticas, Cinema, Design, Gastronomia, Literatura e Música. Até o presente momento, o Brasil possui 12 cidades integrando a Rede da UNESCO: Brasília, Curitiba e Fortaleza, no segmento design; Belém, Belo Horizonte, Florianópolis e Paraty, no segmento gastronomia; Salvador e Recife, no segmento música; Santos, no segmento cinema; João Pessoa, no segmento artesanato e artes folclóricas; e Campina Grande, no segmento artes midiáticas. O Brasil só não tem integrante na Rede no segmento literatura.

Periodicamente, a UNESCO realiza conferências nas quais avalia a entrada de novas cidades para a Rede, assim como a prorrogação da validade do selo de qualidade das cidades que já o possuem.

Evidentemente, nem todas as cidades participantes do Programa da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo apresentarão candidatura nas próximas conferências da UNESCO. E mesmo que o façam, não há nenhuma garantia de que sejam aceitas. Esse aspecto, porém, não deve ser entendido como o mais importante no esforço que estão realizando, mas sim o de estarem utilizando a metodologia da UNESCO na elaboração de suas estratégias de planejamento, podendo se valer de exemplos de cidades bem sucedidas de várias partes do mundo como uma espécie de benchmark, exatamente um dos objetivos perseguidos pela agência das Nações Unidas ao criar a Rede de Cidades Criativas. Além desse objetivo, a UNESCO propõe o diálogo entre o segmento em que cada cidade se destaca com os outros segmentos da economia criativa no que se constitui, em si mesmo, num belo exercício de ação criativa.

Certamente o esforço que já vem sendo desenvolvido em caráter local pelas 10 primeiras cidades participantes do projeto coordenado pela Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa contribuirá para o aprimoramento e para a disseminação das ideias e ações voltadas à cultura de uma forma geral e à economia criativa em particular, não só no estado de São Paulo, mas em todo o Brasil, uma vez que outros estados poderão se inspirar no exemplo de São Paulo para desenvolverem projetos semelhantes.

Apenas para se ter uma noção do potencial do setor, concluo lembrando que a cultura é um dos principais ativos de São Paulo, gerando 3,9% do PIB estadual e 1,5 milhão de empregos diretos, além de possuir elevada capacidade de geração de renda, emprego, inclusão e desenvolvimento. Se isso não bastasse, deve-se considerar seu poder de reforçar a identidade, qualificar os cidadãos e ter impactos positivos sobre a educação, a saúde, a segurança pública, o turismo e outros diversos setores e áreas da vida social.

 

 Referências

DAVILA, Anapaula Iacovino; MACHADO, Luiz Alberto; PAULA, Mauricio Andrade de; SANTOS, Sonia Helena. Economia + Criatividade = Economia Criativa. São Paulo: Scriptum, 2021. 

Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014. Brasília: Ministério da Cultura, 2011.