Tributo a Robert Lucas

“A teoria de Lucas está na fronteira entre o behaviorismo (estudo do comportamento humano) e a economia, porque lida com as expectativas racionais que as pessoas desenvolvem a partir das informações”

 Carl-Olof Jacobsson

(Real Academia de Ciências da Suécia)

 

A ciência econômica está de luto. Faleceu no dia 15 de maio, aos 85 anos, Robert Lucas, um de seus expoentes contemporâneos mais notáveis.

Nascido no estado de Washington, em 1937, Lucas graduou-se em História na Universidade de Chicago em 1959, obtendo seu PhD em Economia pela mesma universidade. Foi professor na Universidade Carnegie-Melon de 1963 a 1974, quando retornou à Universidade de Chicago, onde escreveu seu nome no panteão dos maiores economistas de todos os tempos.

Depois de amplo domínio das ideias keynesianas na formulação das políticas econômicas dos países ocidentais implementadas nas décadas de 1940, 1950 e 1960, a ponto de justificar o uso da expressão “consenso keynesiano”, os anos 1960 assistiram ao acirramento do debate entre os keynesianos e os monetaristas, que, liderados por Milton Friedman, acabaram prevalecendo a partir da década seguinte, favorecidos pela aceleração da inflação no final da década de 1960 e à drástica redução do ritmo de crescimento das economias desenvolvidas no início da década de 1970.

Portanto, como observou o Prof. Benito Salomão, da Universidade Federal de Uberlândia, em artigo publicado pelo Correio Braziliense, o período compreendido entre 1940 e 1960 foi marcado pela predominância de modelos teóricos de natureza keynesiana e monetarista, que são até hoje ensinados nos cursos de graduação. Esses modelos têm a vantagem de serem acessíveis ao público, pois não é difícil compreender que a inflação é uma função direta do volume de moeda em circulação, ou que o PIB guarda relação direta com o gasto público e inversa com a taxa de juros.

Porém, quer naquela época, quer nos dias de hoje, o fato de ser acessível não garante a qualquer modelo teórico a eficácia necessária, mas permite que seja capturado por narrativas políticas desconectadas do interesse coletivo. Aí entra, talvez, o grande mérito de Lucas, que no artigo Econometric Policy Evaluation: a Critique – consagrado na literatura como “Crítica de Lucas” -, publicado em 1976, teceu sofisticada crítica aos modelos então predominantes, promovendo uma revolução na macroeconomia.

Além disso, Lucas incorporou nos modelos teóricos o conceito de expectativas racionais em substituição aos modelos que faziam uso de expectativas estáticas ou do tipo adaptativas. Essa contribuição ficou conhecida como Hipótese (ou Escola) das Expectativas Racionais, também chamada de Escola Novo Clássica  ou Nova Economia Clássica.

A ideia básica da Hipótese das Expectativas Racionais, que valeu a Lucas o Prêmio Nobel de Economia em 1995, é bastante atrativa. Considera que os participantes do mercado não ignoram nem desprezam a informação e as previsões sobre o curso futuro da economia e sobre a atividade econômica. Eles antecipam racionalmente os efeitos das políticas governamentais e reagem no presente de acordo com as expectativas que se formaram.

Quando o nome de Robert Lucas foi anunciado como ganhador do Nobel de Economia, Delfim Netto fez um comentário que aqui reproduzo como tributo ao grande economista: “Poucos economistas terão a honra de serem identificados como criadores de uma ‘escola’. Esse é o destino de Lucas: ser definitivamente associado à criação da Nova Economia Clássica”.

 

Referências e indicações bibliográficas 

MACHADO, Luiz Alberto. Viagem pela economia. São Paulo: Scriptum, 2019. 

SALOMÃO, Benito. Regras fiscais, monetárias e a crítica de Lucas. Correio Braziliense, 26.03.2023. Disponível em https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2023/03/5082965-artigo-regras-fiscais-monetarias-e-a-critica-de-lucas.html.