Releituras
“Quando um país é capaz de contar com as instituições preservadoras da autonomia individual (Estado de Direito e economia de mercado), de melhorar a qualificação de seus cidadãos com investimentos em saúde e educação e aumentar seus coeficientes de poupança e investimento, ele se coloca no caminho da prosperidade.”
Og Leme
Em minha intensa atividade de leitor neste começo de ano, incluem-se três releituras dignas de comentário.
A primeira delas é do livro Polegarzinha que li, pela primeira vez em 2015. Por ter recebido um breefing inadequado, devo ter criado uma falsa expectativa que comprometeu minha avaliação do livro. Porém, ao ler recentemente o livro Sempre Paris, da jornalista Rosa Freire D’Aguiar, constatei que um dos entrevistados por ela foi o filósofo Michel Serres, autor de Polegarzinha. Reestimulado, voltei a ler o referido livro, tendo agora uma excelente impressão. Dividido em três partes, o texto aborda as mudanças que vêm ocorrendo nos últimos tempos em função do extraordinário acesso ao conhecimento possibilitado pela internet e outros avanços da tecnologia da informação. Tais mudanças têm impacto direto na vida de diversos atores da vida social, como na de professor, ocupação do Serres por muitos anos. No livro, ele busca resposta para a crise do ensino que afeta todos os países, inclusive os desenvolvidos.
As salas de aula vêm de uma época em que os homens e o mundo eram o que não são mais. O saber dos antigos professores se encontra à disposição on-line, explicado e documentado, sem maiores erros do que as velhas enciclopédias. As salas de aula não despertam interesse, e a balbúrdia reinante anuncia o fim da era do saber magistral, com uma reviravolta da “presunção de incompetência”.
De acordo com Serres, O que transmitir? A quem transmitir? e Como transmitir? passam a ser as questões fundamentais nessa nova realidade.
O que transmitir? O saber? Ele está agora por todo lugar, na internet, disponível, objetivado. Transmiti-lo a todos? O saber inteiro passou a estar acessível a todo o mundo. Como transmitir? Pronto. É coisa feita.
A segunda não é propriamente uma releitura, pois é de uma coletânea de editoriais de autoria do prof. Og Leme, nos anos em que ele esteve à frente do Instituto Liberal do Rio de Janeiro. Muitos desses editoriais, eu li à medida que iam sendo publicados no boletim IL Notícias, de dezembro de 1991 a setembro de 1997. Com sua habitual franqueza, Og Leme não esconde suas convicções de um autêntico liberal com afirmações do tipo: “Liberalismo social não existe; ou é liberalismo ou não é. Da mesma forma que não existe democracia social; ou é democracia ou não é”. Ao reler os editoriais, na reedição do livro patrocinada por Salim Mattar, fiquei impressionado com o grau de atualidade de muitos deles, o que evidencia a longevidade de uma série de problemas que obstaculizam o desenvolvimento do Brasil.
A terceira não é também uma releitura nos moldes tradicionais. Fiz a revisão da segunda edição ampliada e atualizada do livro Economia + Criatividade = Economia Criativa, do qual sou um dos autores, e que será brevemente colocado à disposição pelo Espaço Democrático. Com prefácio de Rafael Greca, prefeito de Curitiba, um comentário adicional de Mauricio Andrade de Paula sobre o impacto da inteligência artificial na economia criativa e a inclusão de novas cidades em sua última parte, o livro passa a incluir todas a cidades brasileiras integrantes da Rede de Cidades Criativas da Unesco.
Só de pensar que a maioria dos brasileiros sequer lê três livros no decorrer de um ano, lamento o que estão perdendo.
Referências
D’AGUIAR, Rosa Freire. Sempre Paris: Crônica de uma cidade, seus escritores e artistas. São Paulo: Companhia das Letras, 2023.
DAVILA, Anapaula Iacovino; MACHADO. Luiz Alberto; PAULA, Mauricio Andrade de; SANTOS, Sonia Helena. Economia + Criatividade = Economia Criativa. 2ª ed. São Paulo: Scriptum Editorial, 2024.
LEME, Og Francisco. Editoriais – Og Leme. Organizado por Arthur Chagas Diniz. Rio de Janeiro, Instituto Liberal, 2012.
SERRES, Michel. Polegarzinha. Tradução de Jorge Bastos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
No Comment