Visão geral dos economistas canadenses ganhadores do Prêmio Nobel de Economia 

Paulo Galvão Júnior (*)

Luiz Alberto Machado (**)

Enquanto o Brasil, com população estimada de 203,0 milhões de habitantes, não possui nenhum brasileiro laureado com o Prêmio Nobel, o Canadá, com população estimada de 40,5 milhões de habitantes, possui mais de duas dezenas de laureados com o Prêmio Nobel, sendo quatro dos quais na categoria de ciências econômicas.

O presente artigo fornece informações sobre os quatro economistas nascidos no Canadá, o segundo maior país do mundo em extensão territorial, laureados com o Prêmio Nobel de Economia: William Vickrey (1996), Myron Scholes (1997), Robert Mundell (1999) e David Card (2021).

O Prêmio Nobel de Economia é oficialmente conhecido como Prêmio do Banco Real Sueco de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel e outorgado anualmente pela Academia Real das Ciências da Suécia a intelectuais do campo das ciências econômicas[1]. O primeiro prêmio foi entregue em Estocolmo, em 1969, aos economistas Ragnar Frisch e Jan Tinbergen, por terem desenvolvido e aplicado modelos dinâmicos para a análise dos processos econômicos. Cada premiado leva uma medalha, um diploma e um prêmio em coroas suecas que tem variado conforme os anos.

William Vickrey, que nasceu em 21 de julho de 1914, em Vitória, a capital da província de British Columbia (BC), no Canadá, recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1996 juntamente com o economista americano James Mirrlees, “por suas contribuições fundamentais para a teoria econômica dos incentivos sob a informação assimétrica”, através da teoria dos leilões, com aplicações significativas em diversos campos, incluindo finanças públicas, e na sua pesquisa em economia da informação assimétrica.

Depois de obter seu bacharelado em Matemática na Universidade de Yale em 1935, Vickrey concluiu seu mestrado em 1937 e doutorado em 1948 em Ciências Econômicas na Universidade de Columbia, onde permaneceu durante a maior parte de sua carreira.

Curiosamente, William Vickrey morreu três dias antes do anúncio do Prêmio Nobel de Economia de 1996. Vickrey morreu de insuficiência cardíaca enquanto viajava para uma conferência de acadêmicos. Seu colega do Departamento de Economia da Universidade de Columbia, C. Lowell Harriss aceitou o prêmio póstumo em seu nome.

Chamam muita atenção as reflexões críticas do pensamento do professor William Vickrey: “Os déficits não produzem por si mesmo inflação, nem um orçamento equilibrado garante um nível de preços estável”. Em seguida, “Quase todas as despesas educacionais devem ser consideradas uma despesa de capital, quer proporcione um retorno futuro sob a forma de renda tributável aumentada ou em termos de uma qualidade de vida melhorada”.

Myron Scholes, que nasceu em 1º de julho de 1941 em Timmins, na província de Ontário, no Canadá, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia em 1997, juntamente com o economista americano Robert C. Merton, por seu trabalho revolucionário na área de finanças, “pela nova metodologia para determinação do valor de derivativos”, especificamente, pela criação de um modelo para precificação de opções financeiras, conhecido como o Modelo de Precificação de Opções de Black-Scholes.

O economista e matemático Myron Scholes é PhD pela Universidade de Chicago, onde lecionou de 1973 a 1983. Nessa época dá aulas também no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e lá conhece o professor Fischer Black. Passa a pesquisar com ele uma fórmula para estimar o valor de opções de ações nos mercados financeiros. Denominada de Black-Scholes, sobrenome dos dois pesquisadores, ela é publicada em 1973 e, posteriormente, aperfeiçoada por Robert Merton. A partir de 1983, Scholes assumiu o cargo de professor titular de finanças da Escola de Negócios, dando aulas de legislação na Escola de Direito na Universidade de Stanford. Deixou a universidade em 1996, para dedicar-se integralmente à Long Term Capital Management, empresa especializada em gerenciar investimentos criada por ele em 1994.

O Modelo de Black-Scholes tornou-se uma ferramenta fundamental na avaliação de derivativos financeiros, proporcionando uma abordagem matemática para estimar o valor de opções de compra e venda. E a contribuição de Scholes e Merton foi crucial para o desenvolvimento da teoria financeira moderna e teve um impacto significativo nos mercados financeiros.

O professor Myron Scholes é consultor em várias instituições financeiras e continua a partilhar a sua experiência e o seu vasto conhecimento por meio de palestras para grupos acadêmicos e organizações empresariais em todo o planeta.

Robert Mundell, que nasceu em 24 de outubro de 1932, em Kingston, na província de Ontário, no Canadá, recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1999, por sua análise das políticas monetárias e fiscais sob diferentes regimes cambiais e pela análise das áreas monetárias ótimas.

Ao longo de sua carreira acadêmica, Mundell foi professor da Universidade de Stanford, da Universidade Johns Hopkins, da McGill University, do Brookings Institute e da Universidade de Chicago, tendo lecionado desde 1971 na Universidade de Waterloo e desde 1974 na Universidade de Columbia, em Nova York.

Mundell se tornou conhecido por seu trabalho em economia internacional e, em particular, por suas contribuições para a teoria das áreas monetárias ótimas, que examina as condições sob as quais a adoção de uma moeda única em uma região geográfica pode ser economicamente eficiente. Suas ideias e pesquisas tiveram impacto significativo nas políticas econômicas globais e nas discussões sobre integração econômica e moedas comuns como o euro na União Europeia (UE).

David Card, nascido em 1956, na cidade de Guelph, na província canadense de Ontário, foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2021, dividindo o prêmio com o norte-americano Joshua Angrist e o holandês Guido Imbens, “por suas contribuições para a pesquisa empírica em economia do trabalho”, particularmente por seus estudos sobre o impacto do salário mínimo e da imigração.

O economista David Edward Card é professor de Economia na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, e suas pesquisas abrangem o salário mínimo, educação, desigualdade, formação profissional, questões relacionadas com o gênero e imigração, sobretudo na comparação entre os Estados Unidos e o vizinho Canadá. Além disso, escreve artigos e participa de palestras sobre Economia Comportamental.

Dos quatro economistas canadenses, Robert Mundell (1932-2021), que não se naturalizou americano como William Vickrey, Myron Scholes e David Card, é o mais conhecido pelos economistas brasileiros, por ser o mentor intelectual do euro e da macroeconomia aberta. Ele foi o terceiro economista canadense a ganhar o Prêmio Nobel de Economia e sua visão macroeconômica é muito conhecida através do Modelo Mundell-Fleming.

Em suma, esses quatro economistas canadenses foram reconhecidos por suas notáveis contribuições para a compreensão e o avanço da teoria econômica em diversas áreas, entre as quais destacam-se finanças, teoria dos leilões, políticas monetárias e fiscais, taxas de câmbio e economia do trabalho.

 

[1]Entre os ganhadores do Prêmio Nobel de Economia encontram-se alguns não economistas, entre os quais destacam-se o matemático John Nash, que dividiu o Prêmio em 1994 com John Harsanyi e Reinhard Selten, pela análise pioneira de equilíbrio na teoria de jogos não cooperativos, e o psicólogo Daniel Kahneman, que dividiu o Prêmio em 2002 com Vernon Smith, por ter integrado insights de pesquisa psicológica em Ciência Econômica, especialmente sobre o julgamento humano e tomada de decisão sob incerteza.

(*) Economista brasileiro, formado pela UFPB (1998), especialista em Gestão de RH pela UNINTER (2009), professor de Economia no UNIESP, conselheiro efetivo do CORECON-PB, sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, autor de 12 e-books de Economia pela Editora UNIESP, autor e co-autor de centenas de artigos de Economia. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.

 

(**) Economista brasileiro, formado pela Universidade Mackenzie (1977), é mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal, 2012). Sócio-diretor da empresa SAM – Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas e assessor da Fundação Espaço Democrático. Autor e co-autor de centenas de artigos nas áreas de Economia e Criatividade e dos livros Viagem pela Economia (2019) e Economia + Criatividade = Economia Criativa (2022), ambos publicados pela Scriptum Editorial. WhatsApp: 55 (11) 99905-6445.