A estreita ligação entre liberdade e criatividade

 

“Tudo que é realmente grande e inspirador é criado pelo indivíduo que pode trabalhar em liberdade.”

Albert Einstein

 

De acordo com pesquisa sobre o futuro do trabalho, feita em 2020 pelo World Economic Forum, a criatividade é uma das habilidades mais valorizadas no mundo de hoje, devendo assim permanecer por um bom tempo, razão pela qual aparece como uma das 15 habilidades mais importantes no futuro[1].

Os relatórios anuais posteriores divulgados pela instituição continuam apontando a relevância cada vez maior da criatividade num mundo complexo e em constante mudança em que alguns trabalhos deixarão de existir enquanto outros surgirão. Diante disso, qualquer indivíduo deve estar preparado para mudar de cargo ou, ao menos, para se adaptar a novos processos e formas de trabalhar. Afinal, é possível que seja necessário fazer isso diversas vezes ao longo de uma carreira. Essa constante requalificação para ocupar novos postos de trabalho, que exige uma evolução permanente dos métodos de aprendizagem, foi chamada pelo World Economic Forum de reskilling.

Embora seja quase unanimidade, pouca gente tem noção do que é criatividade, quais são suas dimensões, sua profunda relação com o empreendedorismo e a inovação, bem como sua estreita ligação com a liberdade.

Das diversas definições de criatividade as que mais me agradam são: “a capacidade de olhar a mesma coisa que todos os outros, mas ver algo diferente nela”; e, numa versão mais empresarial ou de mercado:  “a capacidade de fazer existirem coisas novas ou únicas e que agreguem valor”.

Considerando que a criatividade é absolutamente transdisciplinar e resulta de fatores inter-relacionados, uma abordagem esquemática favorece a compreensão da natureza e do cultivo da criatividade, quer do ponto de vista da pesquisa quer da aplicação. Nesse sentido, foi fundamental a contribuição de Mel Rhodes, que num artigo de 1961 dividiu a criatividade em quatro dimensões: pessoa, processo, produto e ambiente. Essa divisão é chamada normalmente de 4Ps, sendo que o quarto “p”, decorrente de ambiente, justifica-se pela pressão que o ambiente pode exercer no desenvolvimento da criatividade.

Rhodes estabeleceu que criatividade é um fenômeno em que uma pessoa comunica um novo conceito – produto. A pessoa chega até esse produto por meio de um processo mental. Como nenhum ser humano vive ou opera num vácuo, precisamos considerar também o ambiente. […] Rhodes observou que, até então, as pesquisas tinham se centrado em apenas uma das dimensões – em geral a pessoa ou o processo. No entanto, afirmava ele, o fenômeno só seria plenamente entendido se estudássemos suas quatro dimensões constitutivas.

Apesar de ser possível identificar diferentes exemplos de transformação de uma ideia criativa num bem ou serviço criativo, ela ocorre, basicamente, de duas formas: inovadora, caracterizada por mudanças radicais ou disruptivas, quando há quebra de paradigma, com o surgimento de algo totalmente novo ou desconhecido; ou adaptadora, caracterizada por mudanças incrementais, que os japoneses chamam de kaizen.

Por fim, para que haja criatividade − pessoal ou empresarial − um pré-requisito fundamental é a existência de liberdade, quer para que o indivíduo tenha estímulo para agir e empreender visando satisfazer seus interesses e maximizar seus ganhos, quer para que as empresas utilizem as ideias criativas para produzir qualquer bem ou serviço inovador que atenda os interesses dos consumidores num ambiente marcado pela concorrência e pela competição, e não por excesso de regras que servem apenas para aumentar os custos de transação, definidos por Douglass North como aqueles a que estão sujeitas todas as operações de um sistema econômico.

 

Referências 

ACADEMIA PEARSON. Criatividade e inovação. Consultoria técnica de João G. Monteiro Jr. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.

CHRISTENSEN, Clayton M. O dilema da inovação. Tradução de Edna Emi Onoe Veiga. São Paulo: Makron Books, 2001.

DAVILA, Anapaula Iacovino; MACHADO, Luiz Alberto; PAULA, Mauricio Andrade de; SANTOS, Sonia Helena. Economia + Criatividade = Economia Criativa (2ª edição revista, ampliada e atualizada). São Paulo: Scriptum, 2024.

DIAS, Guilherme. 15 habilidades do profissional do futuro: veja como desenvolvê-las. Disponível em https://www.gupy.io/blog/habilidades-do-futuro.

FOX, Jon Michael. Mel Rhodes: The Man Behind the Four P’s of Creativity. International Center for Studies in Creativity. Disponível em http://facultyicsc.blogspot.com/2012/03/mel-rhodes-man-behind-four-ps-of.html.

KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. Tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. São Paulo: Perspectiva, 1982.

NORTH, Douglass C. Custos de transação, instituições e desempenho econômico. Tradução de Elizabete Hart. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1994.

RHODES, Mel. An Analysis of Creativity. Phi Delta Kappan, n.42, april 1961, pp. 305-310.

SANMARTIN, Stela Maris. Criatividade e inovação na empresa: do potencial à ação criadora. São Paulo, Trevisan Editora Universitária, 2012. 

THOMPSON, Charles “Chic”. Grande ideia! Tradução de Ricardo Gouveia. São Paulo: Saraiva, 1993.

 

[1] As 15 habilidades relacionadas pelo World Economic Forum foram:aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado; pensamento analítico e inovação; criatividade, originalidade e iniciativa; liderança; inteligência emocional; pensamento crítico; resolução de problemas complexos; resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; programação; ser orientado aos serviços para o cliente; raciocínio lógico; experiência do usuário; uso, monitoramento e controle de tecnologias; análise e avaliação de sistemas; persuasão e negociação. Essas 15 habilidades podem, segundo Guilherme Dias, ser agrupadas em quatro grandes áreas: 1ª) Estratégias de aprendizagem; 2ª) Tecnologia; 3ª) Competências interpessoais e intrapessoais; 4ª) Pensamento crítico guiado para resolução de problemas.