Lições de viagem
Congresso de Criatividade e Inovação no Espírito Santo
“Você não pode esgotar a criatividade. Quanto mais você usa, mais você tem.”
Maya Angelou
Em artigos anteriores com a denominação “Lições de viagem”, limitei-me a comentar aspectos da localidade visitada, chamando a atenção para seus aspectos geográficos, históricos, políticos, econômicos ou socioculturais.
Neste artigo, porém, vou fazer uma exceção e, além de breves comentários sobre o estado do Espírito Santo, vou mencionar também o congresso de que participei entre os dias 12 e 14 de novembro, no qual pude aprender valiosas lições.
O 4° Congresso Internacional de Criatividade e Inovação (CICI) foi promovido pela Associação Brasileira de Criatividade e Inovação – Criabrasilis e teve lugar nas instalações da Universidade Federal do Espírito Santo.
Na tarde do dia 12, houve uma seção destinada ao lançamento de livros, entre os quais a segunda edição revista, ampliada e atualizada do livro Economia + Criatividade = Economia Criativa, Mulheres brasileiras criativas e Intuição e criatividade na tomada de decisões.
Na noite deste mesmo dia, a palestra inaugural “Criatividade em Ação: Três Décadas de Pesquisa”, foi proferida por Denise de Souza Fleith, professora da UnB e uma das mais respeitadas pesquisadoras do Brasil nas áreas de psicologia, criatividade e educação.
Nos dias 13 e 14, renomados especialistas do Brasil e do exterior tiveram oportunidade de expor novas abordagens teóricas sobre diferentes facetas da criatividade e da inovação[1], bem como relatar experiências concretas e bem sucedidas, entre as quais a da Fundação Casa Grande, com sede em Nova Olinda, na região do Cariri, no Ceará, apresentada por Decio Coutinho.
Em razão da simultaneidade das seções, foi impossível acompanhar algumas palestras que me pareciam muito interessantes. Das que tive chance de acompanhar, fiquei muito bem impressionado com as palestras “Societies of the Possible”, de Vlad Glaveanu, professor da Dublin City University, e “Creativity and Innovation 4.0: Fostering Renewal Through Possibility Thinking”, de Margaret Mangion, do Edward de Bono Institute for Creative Thinking and Innovation, University of Malta, que aliás, possuíam considerável grau de complementaridade.
Na tarde do dia 14, juntamente com Decio Coutinho. participei da mesa redonda sobre Criatividade e Inovação Social nas Instituições, na qual apresentei a palestra “Evolução dos Estudos sobre Criatividade’.
Tomando por base o exposto no livro Economia + Criatividade = Economia Criativa, reproduzi o quadro que apresenta as cinco gerações de estudos sobre criatividade iniciados quando os mesmos se tornaram sistemáticos após o encerramento de Segunda Guerra Mundial.
Denominação | Ênfase | Expoente(s) | Época |
Pensamento criativo | Desenvolvimento de habilidades | J. P. Guilford | Década de 1950 |
Solução criativa de problemas | Produtividade e competitividade | Alex Osborn
Sidney Parnes |
Década de 1960 |
O viver criativo | Autotransformação | David de Prado | Década de 1980 |
Criatividade como valor social | Solução de problemas sociais, aberta à vida, à juventude, ao cotidiano | Saturnino de la Torre | Década de 1990 |
Economia criativa | Geração e exploração da propriedade intelectual; economia do intangível | Richard Florida
John Howkins |
Década de 2000 |
Fonte: MACHADO, Luiz Alberto (Viagem, pela economia. São Paulo: Scriptum Editorial, 2019, p. 339).
Nessa evolução, verifica-se uma importante mudança: até a terceira geração, os estudos e pesquisas sobre criatividade estavam mais voltados para a dimensão individual; a quarta e a quinta gerações, por sua vez, revelam uma preocupação mais ampla, marcada pela busca de soluções para questões sociais e para a formulação de políticas públicas.
Encerrando minha exposição e considerando a extraordinária influência assumida nos dias de hoje pela tecnologia da informação (TI) e pela inteligência artificial (IA), mencionei alguns autores que passaram a se debruçar sobre esses temas atualizando as análises sobre a criatividade, no que pode – quem sabe? – se constituir numa sexta geração de estudos sobre a mesma, reafirmando a transição das abordagens individualistas para as dotadas de preocupação social e formulação de políticas públicas.
Muito boa também a palestra de encerramento, “O futuro não é o que costumava ser: uma perspectiva sistêmica para a construção de conhecimento”, ministrada por Felipe Zamana, pesquisador brasileiro que reside há vários anos em Portugal, autor do livro Criatividade a Sério: Por que suas ideias são mais sobre nós do que sobre você.
Quanto ao Espírito Santo, trata-se de um estado situado na região sudeste, cuja capital, Vitória, já tive oportunidade de visitar diversas vezes, muitas das quais em rápidas passagens para ministrar palestras e/ou participar de congressos ou seminários.
Com população estimada em 369 mil habitantes (IBGE, 2021), Vitória é apenas a quarta mais populosa do estado, ficando atrás dos municípios limítrofes de sua região metropolitana Vila Velha, Serra e Cariacica.
Com belas praias, como a de Camburi, a Curva da Jurema e a Praia do Canto, Vitória oferece boas opções de hotéis e farta rede de restaurantes, onde se pode apreciar as delícias da culinária local, como a Torta Capixaba e as famosas moquecas que, diferentemente da baiana, não leva azeite de dendê.
O artesanato é bem desenvolvido em várias partes do estado, principalmente na produção de cerâmica, valendo citação especial as Paneleiras de Goiabeiras, mulheres que fabricam artesanalmente panelas de barro e que atraem volume considerável de visitantes.
Vitória tem o 5° melhor índice de desenvolvimento humano (IDH) entre todos os municípios brasileiros e tem sido considerada em diversas pesquisas uma das melhores capitais brasileiras para se viver.
Em Vila Velha, do outro lado da Terceira Ponte (em cujos acessos são temidos os congestionamentos em horários de rush), merece uma visita o Convento da Penha, um dos santuários mais antigos do Brasil, localizado num penhasco de 154 metros de altitude. O monumento arquitetônico, peculiar na singeleza e sobriedade, apresenta em sua trajetória histórica muitas reconstruções como a excepcional concepção arquitetônica do Convento, incrustado na rocha do morro, abrindo as janelas de suas celas para o magnífico panorama da barra de Vitória e do oceano Atlântico, enquanto de sua fachada se tem bela vista panorâmica de Vila Velha.
Entre os portos do Espírito Santo se sobressai o Complexo Portuário de Tubarão, localizado na ponta do mesmo nome, na parte continental do município de Vitória. O complexo reúne cinco terminais, é operado pela Vale e se transformou no mais eficiente terminal de exportação de pelotas e de minério de ferro do mundo.
Contando com municípios importantes como Cachoeiro do Itapemirim, Linhares, Guarapari, São Mateus e Colatina, além dos quatro já citados da Grande Vitória, o Espírito Santo se constitui num dos raros exemplos de estado com taxas sucessivas de crescimento econômico, contas controladas e satisfatória condição socioeconômica, o que se deve em boa parte a bons governantes, entre os quais Max Mauro (recentemente falecido), Paulo Hartung e Renato Casagrande.
Referências
DAVILA, Anapaula Iacovino; MACHADO, Luiz Alberto; PAULA, Mauricio Andrade de; SANTOS, Sonia Helena. Economia + Criatividade = Economia Criativa (2ª edição revista, ampliada e atualizada). São Paulo: Scriptum, 2024.
FARIAS, Eliana Santos de; WECHSLER, Solange Muglia (organizadoras). Mulheres brasileiras criativas. São Paulo: Vetor Editora, 2024.
SANMARTIN, Stela Maris; ABRANTES, Ana. Intuição e criatividade na tomada de decisões. São Paulo: Trevisan Editora, 2017.
ZAMANA, Felipe. Criatividade a Sério: Por que suas ideias são mais sobre nós do que sobre você. Editora Câmara do Livro, 2022.
[1] Na edição especial da revista Farol, dedicada ao 4° Congresso Internacional de Criatividade e Inovação, constam diversos textos de autores que lá fizeram apresentações. Disponível em https://periodicos.ufes.br/farol/issue/view/1726/1147.
No Comment