Poder e Progresso
“Argumentamos que essa visão de que a nova tecnologia, incluindo máquinas inteligentes, liderada por empreendedores talentosos, conduz inexoravelmente a benefícios não passa de ilusão − a ilusão da IA.”
Daron Acemoglu e Simon Johnson
Poder e progresso é o título do mais recente livro de Daron Acemoglu, em parceria com Simon Johnson, que dividiu o Prêmio Nobel de Economia deste ano com ele e também com James Robinson, que foi co-autor nos outros livros de Acemoglu, Por que as nações fracassam e O corredor estreito.
Em Por que as nações fracassam, os autores enfatizam a importância das instituições para o desenvolvimento, dividindo-as em instituições inclusivas e extrativistas. Em O corredor estreito, a ênfase recai sobre a existência ou não da liberdade, a partir das diversas formas de relação entre Estado e sociedade.
Em Poder e progresso, que tem por subtítulo “uma luta de mil anos entre a tecnologia e a prosperidade”, os autores focalizam um tema que está sempre na ordem do dia e que ganhou destaque com a emergência da tecnologia da informação e, sobretudo, da inteligência artificial.
A rigor, o pano de fundo para as análises recai sobre o impacto das chamadas revoluções tecnológicas sobre a oferta de trabalho e, por extensão, o padrão de vida da sociedade.
Na primeira, conhecida como revolução industrial, que teve origem na Inglaterra no século XVIII, houve a substituição da energia animal ou hidráulica pela energia a vapor e o surgimento de diversos processos mecânicos, muitos dos quais provenientes de pessoas que não atuavam em pesquisas ou atividades acadêmicas[1]. Foram os casos de Abraham Darby, criador do ferro-gusa em altos-fornos alimentados a coque em 1709, Thomas Newcomen, criador do motor a vapor em 1712, Richard Arkwright, criador da máquina de fiar em 1769, e James Watt, que aperfeiçoou o motor a vapor em 1776. Esses pioneiros, como quase todos que moldaram a tecnologia pelo menos até 1850, eram homens práticos sem grande instrução formal, que começaram de baixo e ascenderam com o tempo, à medida que investidores e clientes passavam a apreciar o que tinham a oferecer. A introdução de suas criações nas diferentes indústrias provocou enorme receio nos trabalhadores, que temiam o desaparecimento dos empregos. Houve até o movimento dos luditas na Inglaterra, que invadiam fábricas e destruíam máquinas. O tempo mostrou, porém, que o desaparecimento de algumas ocupações foi amplamente compensada pelo surgimento de novas oportunidades que tornaram o padrão médio de vida muito superior.
O mesmo, de certa forma, ocorreu na segunda revolução tecnológica, simbolizada pela introdução do petróleo e da eletricidade como fontes de energia, e na terceira, caracterizada pelo surgimento dos computadores. Passado o susto inicial, verificou-se sensível melhora do nível de vida.
A dúvida levantada pelos autores de Poder e progresso é se o mesmo ocorrerá agora ou se o impacto decorrente do surgimento e da aplicação da inteligência artificial e de suas ramificações será diferente, trazendo terríveis consequências na oferta de trabalho e em sua remuneração.
É aguardar para ver.
Referências bibliográficas e webgráficas
ACEMOGLU, Daron e JOHNSON, Simon. Poder e progresso: uma luta de mil anos entre a tecnologia e a prosperidade. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2024.
ACEMOGLU, Daron e ROBINSON, James A. Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução de Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
_______________ O corredor estreito: estados, sociedades e o destino da liberdade. Tradução de Rosiane Correia de Freitas e Rogerio W. Galindo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022.
BAIROCH, Paul. Revolução industrial & subdesenvolvimento. Tradução de José Augusto Guilhon de Albuquerque. Revisão ortográfica de Antonio Sérgio Guimarães e Geraldo Andreasi Fantin. São Paulo: Editora Brasiliense, 1976.
MACHADO, Luiz Alberto. Viagem pela economia. São Paulo: Scriptum, 2019.
_______________ Procurando entender as turbulências no Brasil e na América Latina. Disponível em https://portalcafebrasil.com.br/procurando-entender-as-turbulencias-no-brasil-e-na-america-latina/.
[1] Excelente argumentação nesse sentido, ou seja, a falta de relação entre ciência e técnica no período e o caráter não científico das ocupações exercidas por Arkwright (barbeiro), Watt (marceneiro) e Newcomen (fundidor e forjador), pode ser vista no Capítulo 1 da Parte I do livro Revolução industrial & subdesenvolvimento, de Paul Bairoch.
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