Entrega superior às expectativas

 

“O presidente da Argentina, Javier Milei, completou dia 10 (de dezembro) um ano de governo. Para surpresa dos céticos, vem entregando mais do que dele esperavam.”

Celso Ming

 

Em 21 de novembro de 2023, apenas dois dias depois das eleições presidenciais na Argentina e antes, portanto, da posse de Javier Milei ocorrida em 10 de dezembro, publiquei neste mesmo espaço o artigo A aposta dos argentinos. Para elaborar o referido artigo, tomei por base algumas análises e comparações surgidas tão logo foram conhecidos os resultados das eleições.

Voltei a abordar o assunto na reunião semanal do Espaço Democrático, alertando para o fato de que, ao contrário do que afirmava a maior parte das matérias sobre o presidente eleito da Argentina, e apesar de seu estilo histriônico, Javier Milei era mais preparado do que muitos imaginavam. Ousei afirmar também que acreditava que ele poderia fazer um bom governo, levando a uma melhora considerável da situação do país vizinho.

Repeti a mesma afirmação em diversas entrevistas concedidas na época a diferentes redes de rádio e televisão e fui, aberta ou veladamente, bastante criticado por essa posição.

Passado mais de um ano da posse de Milei, o que se constata é que ele vem conseguindo resultados acima das expectativas, embora haja um longo caminho a percorrer para que a Argentina supere os obstáculos ainda existentes.

Um dos fatores favoráveis a Milei, desde o princípio, foi sua sinceridade, jogando claro com seus compatriotas sobre a gravidade do quadro econômico argentino e sobre os momentos difíceis que seriam enfrentados nos meses iniciais de seu governo, até que os primeiros resultados começassem a aparecer.

Isso foi fundamental para que parte da sociedade, a princípio cética, passasse a dar crédito ao governo, à medida que percebia mudanças acentuadas na comparação com os governos de Alberto Fernández e  de Cristina Kirchner.

Depois de começar desvalorizando substancialmente a moeda nacional para eliminar o câmbio artificial, de cortar ministérios, de demitir 31 mil servidores, de extinguir renúncias fiscais e de reduzir em mais de 30% as despesas públicas, Milei passou a pôr em prática algumas das ideias divulgadas durante a campanha, sem contudo partir para a dolarização como previsto no livro Dolarización: una solución para la Argentina, escrito por Nicolás Cachanosky e Emilio Ocampo, apontado na época como principal favorito para ocupar o Ministério da Economia.

Com o apoio do Fundo Monetário Internacional, que aceitou a renegociação da dívida e despejou dinheiro novo, a política econômica começa a produzir resultados e sinalizar para o início da virada.

Tentando negociar um novo empréstimo do FMI, para o que conta com o apoio do presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump, a política econômica de Milei tem recebido elogios do Fundo por estar conseguindo colocar ordem no caos que caracterizou o país ao longo deste século.

Julie Kozack, porta-voz do FMI afirmou que “durante o último ano, as autoridades argentinas vêm implementando seu programa de estabilização econômica e têm conseguido resultados impressionantes, que incluem uma redução considerável da inflação, superávit fiscal e uma melhor cobertura das reservas internacionais”.

A inflação, que atingira 25,5% ao mês na sua posse, caiu para 2,4% em novembro e o dólar paralelo, chamado de “blue” cada vez mais se aproxima do câmbio oficial.

Apesar desses avanços, a previsão é de que a inflação anual feche em 140%, bem abaixo dos 211% registrados em 2023, de acordo com Lourival Sant’Anna. Evidentemente, segue sendo um número muito alto, mas a redução vem sendo obtida sem congelamentos ou tabelamentos de triste lembrança para nós brasileiros. O FMI prevê para 2025 uma inflação de 45%, o que se deve em grande parte à queda do gasto público primário, que não inclui os juros, de 35,3% em 2023 para 30,2% este ano.

Como reconhecera Milei desde o início de seu governo, o preço social e político é alto. A pobreza extrema alcançou cerca de 50% da população, o consumo caiu, muitas empresas quebraram e o desemprego está elevado, registrando 6,9%, embora tenha caído 0,7% ponto percentual em relação ao trimestre anterior.

Milei entra em seu segundo ano de mandato com um saldo positivo. Mesmo pessoas que não votaram nele reconhecem a importância da estabilidade e estão dispostas a dar um crédito por enxergarem algo diferente do que testemunharam nos últimos anos. Milei começa agora a ser reconhecido no exterior como alguém capaz de reordenar o caos. Esse fortalecimento político interno e externo será essencial para que Milei aprofunde o ajuste em 2025 com cortes significativos nos impostos sem comprometer a saúde das contas públicas.

 

Referências bibliográficas e webgráficas 

MACHADO, Luiz Alberto. A aposta dos argentinos. Disponível em https://www.souzaaranhamachado.com.br/2023/11/aposta-dos-argentinos/.

MING, Celso. A motosserra de Milei e seus efeitos. O Estado de S. Paulo, 15 de dezembro de 2024, p. B2.

OCAMPO, Emilio e CACHANOSKY, Nicolás. Dolarización: una solución para la Argentina. Ciudad Antónoma de Buenos Aires: Claridad, 2023.

SANT’ANNA, Lourival. O copo meio cheio na Argentina. O Estado de S. Paulo, 22 de dezembro de 2024, p. A15.