A evolução do BRICS

 Da informalidade a importante ator das relações internacionais

 

“A transformação do acrônimo BRICs, de uma categoria de investimento para um nome familiar da política internacional e, mais recentemente, um grupo político semi-institucionalixado (denominado BRICS, com um “S” maiúsculo, após a inclusão da África do Sul), é um dos desenvolvimentos mais marcantes da política internacional da primeira década do século 21.”

Oliver Stuenkel

 

Em 2001, Jim O’Neill, economista-chefe do Goldman Sachs, utilizou o acrônimo BRIC num estudo intitulado Building Better Global Economic BRICs para se referir ao grupo de quatro países em desenvolvimento cujo crescimento chamava a atenção dos analistas internacionais. Eram eles Brasil. Rússia, Índia e China.

Nascia, assim, informalmente, um mecanismo de cooperação internacional com o objetivo de fomentar o desenvolvimento socioeconômico dos países-membros. Não havia, então, um estatuto formal nem um fundo próprio. A ideia ganhou consistência em 2006, quando os quatro países incorporaram o conceito à sua política externa.

A grave crise financeira iniciada em 2007/08 no setor hipotecário norte-americano, conhecida como subprime,  favoreceu o fortalecimento do grupo, uma vez que seus países-membros não foram tão severamente afetados pela crise que se espalhou pelo mundo inteiro, atingindo mais severamente a economia dos principais países desenvolvidos como Estados Unidos, Japão e países da Zona do Euro.

Em 2009, os ministros das Relações Exteriores dos quatro países  se reuniram para a primeira cúpula oficial, que aconteceu na Rússia, tendo, como foco central,a discussão sobre os impactos da crise financeira global nos países emergentes.

Em 2011, na III Cúpula, África do Sul foi incorporada ao grupo, que passou a ser chamado de BRICS. Formado na época por países de diferentes continentes com características sociais e econômicas relativamente comuns − amplo território e produto interno bruto considerável com acentuada desigualdade de renda − o BRICS começou a apresentar uma atuação cada vez mais forte na área econômico-financeira, passando a focalizar também temas como segurança alimentar, energia e agricultura.

Em 2014, por ocasião da sexta reunião de cúpula, realizada nos dias 15 e 16 de julho em  Fortaleza, no Ceará, o BRICS criou seu próprio banco. Chamado de Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), com sede em Xangai, o banco tem por objetivo dar apoio financeiro a projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável, públicos ou privados, em países-membros, economias emergentes e nações em desenvolvimento[1].

Com essa formação, o BRICS representava em 2023, segundo dados do instituto de pesquisas do Reino Unido Acron Macro Consulting, 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, contra 30,7% do G7, grupo que une os sete países mais desenvolvidos do planeta (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). Além disso, graças principalmente às enormes populações da China e da Índia, o BRICS possuía 41% da população mundial.

Na XV Cúpula, ocorrida em agosto de 2023 em Johanesburgo, na África do Sul, foram admitidos como membros plenos Arábia Saudita[2], Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.

A partir de 1° de janeiro de 2025, quando o Brasil assume pela quarta vez a presidência rotativa do BRICS, mais nove países passam a fazer parte do grupo: Indonésia, Malásia, Tailândia, Cazaquistão, Uzbequistão, Bielorússia, Bolívia, Cuba e Uganda, cuja inclusão foi definida em outubro de 2024, na XVI Cúpula em Kazan, na Rússia[3], quando foi criada a nova categoria de parceiros do bloco[4].

Com o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o governo brasileiro assume a presidência do BRICS tendo, entre seus desafios, o de articular a participação dos novos membros e dar continuidade à construção do sistema de pagamento com moedas locais no comércio entre os países, substituindo o dólar.

Independentemente da categoria dos novos membros, aumenta ainda mais a participação relativa do BRICS no Produto Interno Bruto mundial e, pelo menos em tese, cresce também sua influência na economia e nas relações geopolíticas internacionais.

 

Referências bibliográficas e webgráficas

O’NEILL, Jim. Building Better Global Economic BRICs. Goldman Sachs. Global Economics Paper N°: 66, 30th November 2001. Disponível em https://www.goldmansachs.com/pdfs/insights/archive/archive-pdfs/build-better-brics.pdf.

STUENKEL. Oliver. BRICS e o futuro da ordem global. Tradução de Adriano Scandolara.Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017.

[1] Indicado pelo governo de Jair Bolsonaro, o economista e diplomata Marcos Troyjo ocupou a presidência do banco a partir de julho de 2021, com mandato previsto de quatro anos. Com a eleição de Luiz Inacio Lula da Silva, Troyjo optou por deixar a presidência do banco, sendo substituído por Dilma Rousseff, cujo mandato se estende até julho de 2025.

[2] Apesar de não ter assinado a adesão ao grupo, a Arábia Saudita tem participado de todos os encontros.

[3] Em realidade, 13 parceiros foram admitidos no bloco, pois além dos nove oficializados no dia 1° de janeiro de 2025, Turquia, Vietnã, Nigéria e Argélia também fizeram parte da lista. O Brasil, que preferia até 2023 manter o BRICS do tamanho original, acabou concordando, por pressão dos chineses, com sua ampliação, mas defende critérios para a admissão de novos integrantes, tendo vetado o ingresso da Venezuela e da Nicarágua.

[4] Até o final de 2024, a assessoria do Itamaraty não havia confirmado em qual categoria os nove novos membros devem ingressar no grupo − se como parceiros ou como membros plenos ou efetivos. Diferentemente dos membros efetivos, os parceiros podem participar das reuniões e dos encontros, mas não têm poder do voto ou veto, uma vez que as decisões do BRICS são tomadas por consenso.