Roberto Macedo e suas circunstâncias
“Este livro chega em boa hora, pois atende a uma importante carência: a falta de educação financeira da população em geral no Brasil.”
Armínio Fraga Neto
Quem convive com o professor Roberto Macedo sabe de sua admiração pelo filósofo espanhol Ortega y Gasset e, especialmente, pela frase “Eu sou eu e minhas circunstâncias”. A referida frase encontra-se na obra Meditações do Quixote e, completa, é “Eu sou eu e minhas circunstâncias; se eu não salvo as minhas circunstâncias, tampouco me salvo a mim”.
No final do ano passado, o professor Macedo lançou o livro Economania: 104 dicas de educação financeira para a prosperidade pessoal, familiar e do Brasil.
Concluí a leitura do livro e, além de recomendá-la a qualquer pessoa interessada em conhecer o fascinante universo das finanças, fiquei com a sensação de que a chamada ideal para o livro seria Roberto Macedo e suas circunstâncias. Isso porque, em diversas passagens, Macedo se utiliza de sua trajetória pessoal para apresentar de forma clara e didática conceitos de educação financeira, com a preocupação central de propor prioritariamente a prática da poupança e dos investimentos em contraposição ao consumo, em especial de bens e serviços não essenciais.
A primeira circunstância evidenciada diz respeito à influência recebida de seus pais. O pai era bancário e o orientou desde cedo sobre o uso do dinheiro e no sentido de buscar trabalho e poupar desde jovem. A mãe, ex-professora, enfatizava a educação em geral e ambos o conduziram a cursos profissionalizantes em boas escolas de Minas Gerais até o final do ensino médio.
A segunda circunstância, relacionada com a preocupação de aproveitar as oportunidades que a vida oferece, refere-se à formação de capital humano, que compreende a educação e a saúde. Além da graduação concluída na USP, foi beneficiado por uma bolsa do governo americano que lhe permitiu fazer o mestrado e o doutorado em Harvard. Atento à evolução dos tempos, Macedo não parou de se aperfeiçoar, coerente com o conceito de longlife lerning.
Vale a pena mencionar, a esse respeito, a incorporação de diversos aspectos da teoria econômica utilizados por Macedo na sustentação de uma série de dicas. Exemplo disso é a menção a Gary Becker na análise do capital humano, considerado no parágrafo anterior. Merece realce especial a menção aos dois enfoques teóricos que estão por trás das decisões tomadas pelos agentes econômicos na hora de optar por algum tipo de investimento: a tradicional, baseada na visão neoclássica, que considera que as decisões ocorrem sempre no sentido de maximizar os ganhos ou minimizar as perdas (homo economicus); ou a mais recente, baseada na economia comportamental, que admite a hipóteses de que nem todas as decisões se baseiam no racionalismo puramente econômico. No que se refere à economia comportamental, Macedo se utiliza frequentemente da figura de Daniel Khaneman, um psicólogo agraciado com o Prêmio Nobel de Economia em 2002, e na teoria dos dois sistemas − um mais rápido e intuitivo, outro mais lento e racional. A referida teoria está muito bem explicada no livro Rápido e devagar: duas formas de pensar.
A terceira circunstância relaciona-se à aquisição de uma quitinete aos 20 anos, logo depois de chegar a São Paulo, ao passar num concurso do Banco do Brasil. Além de estimular o hábito da poupança para honrar as prestações, a conquista da casa própria − que poderá mudar várias vezes ao longo dos tempos − tem um significado especial voltado à tranquilidade financeira e à segurança patrimonial.
A quarta circunstância, percebida ao longo de todo o livro, está diretamente ligada à preocupação de constituir uma renda capaz de garantir uma vida digna após a aposentadoria, principalmente se considerarmos que as pessoas estão vivendo por mais tempo, aspecto também analisado em algumas dicas. É mais do que compreensível, que esse tipo de preocupação ocupe lugar de destaque para quem, já octogenário, segue produzindo intensamente em suas atividades de consultor, escritor, analista econômico, colunista de jornal e diretor acadêmico.
Por todas essas circunstâncias, e outras que não caberiam num artigo dessa natureza, recomendo veementemente a leitura de Economania. Na íntegra, do princípio ao fim, como no meu caso, ou em partes, de acordo com o interesse do leitor. Pode, também, servir como referência para ser consultado em momentos específicos. Só não dá pra ficar sem ler.
Referências
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
MACEDO, Roberto. Economania: 104 dicas de educação financeira para a prosperidade pessoal, familiar e do Brasil. São Paulo: Ed; Lux, 2024.
ORTEGA Y GASSET, José. Meditações do Quixote. Tradução de Ronald Robson. São Paulo: Vide Editorial, 2019.
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