O que a estatística realmente diz sobre os esportes?[1]
O uso de dados estatísticos no esporte não é novidade. Com base na análise dos números, treinadores e comissões técnicas têm condições melhores de aprimorar os resultados. Do mesmo modo que os números são determinantes na hora de traçar estratégias, eles também auxiliam na contratação de jogadores. A aplicação da estatística em esportes é uma prática que se disseminou rapidamente, tanto em esportes coletivos como em individuais. Existem, inclusive, empresas especializadas neste tipo de serviço, como mostra o livro Os Números do Jogo, de Chris Anderson e David Sally.
É preciso entender, no entanto, até que ponto os dados estatísticos refletem o que acontece na realidade. Na verdade, a forma como eles são usados ou interpretados, podem levar a conclusões precipitadas.
Para entender melhor o que estamos dizendo, há um exemplo interessante no basquete. No Brasil, por muito tempo as estatísticas no basquete se limitavam aos pontos marcados por cada equipe. Graças à influência do basquete profissional norte-americano, da famosa NBA, de algum tempo para cá os responsáveis pela elaboração das estatísticas passaram a considerar outros fatores como roubadas de bola, rebotes conquistados, “tocos” (interceptação de arremessos dos adversários) e assistências (passes que resultam em cestas).
Depois de pertencer por muito tempo à elite do basquete mundial, com a conquista do bicampeonato mundial (1959 e 1963) e de três medalhas olímpicas de bronze (1948, 1960 e 1964), o Brasil passou a integrar uma posição intermediária, obtendo classificações medíocres e chegando a não se classificar para algumas edições de Jogos Olímpicos.
Em 2006, no Campeonato Mundial do Japão, a seleção brasileira obteve a pior classificação de sua história, ficando em 17º lugar depois de uma campanha medíocre em que só venceu o Qatar. Quem for observar as estatísticas desse Campeonato poderá se surpreender ao constatar que a seleção brasileira foi uma das melhores no quesito passes certos. Ocorre que foi, também, a seleção que perdeu mais ataques por não arremessar à cesta no tempo regulamentar (atualmente 24 segundos).
O que isso revela?
Entre outras possíveis considerações, revela que os integrantes da equipe possuíam altíssimo grau de insegurança e, em momentos decisivos, optavam por passar a bola a um companheiro em vez de assumir a responsabilidade de arremessar à cesta. Com isso, na estatística era registrado um passe certo, mas a equipe era prejudicada por estourar o tempo de posse de bola.
Evidentemente, as estatísticas são importantes e seu uso tende a se expandir, à medida que o esporte se transforma cada vez mais em um negócio que envolve valores elevadíssimos e que passa a ser administrado por profissionais e não mais por amadores apaixonados. No entanto, é válido perceber que os números não dizem tudo, ao contrário, podem passar uma mensagem muito equivocada se não forem bem analisados. Se a objetividade matemática tem o seu papel no esporte, treinamento, talento, dedicação e concentração continuam sendo fundamentais para os bons resultados.
[1] Texto escrito em parceria com o economista Samy Dana, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
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