Opções de carreira I

 

Profissões e ocupações

 

“Na verdade, o que a velocidade das mudanças está

clamando é que a concorrência imposta pela economia

globalizada não acontece somente no âmbito dos países,

mas sobretudo das empresas, atingindo o profissional.

A competição está no plano das pessoas, pois seus talentos

são considerados o grande ativo das companhias.”

Carlos Alberto Júlio

 

Por conta de uma série de circunstâncias, tenho tido inúmeras oportunidades de falar a estudantes de ensino médio num dos momentos mais complicados de suas vidas: o da escolha do curso superior que irão fazer.

Antes por estar ocupando a presidência do Conselho Regional de Economia de São Paulo e, mais recentemente, por ser o vice-diretor da Faculdade de Economia da FAAP, que reúne os cursos de ciências econômicas e de relações internacionais, acabo sendo bastante requisitado para os chamados “fóruns das profissões”, uma iniciativa, felizmente, de um número cada vez maior de colégios.

Confesso que gosto muito de participar desses fóruns, entre outras razões, pelo fato de que aprendo muito com as perguntas formuladas pelos estudantes, compreendendo, dessa forma, diversas coisas que presencio depois quando eles ingressam na universidade.

A primeira coisa que se percebe claramente, e que eu gostaria de compartilhar com o amigo internauta, é que os estudantes, na sua esmagadora maioria, são verdadeiros poços de dúvidas, tomando decisões de forma imatura e fazendo suas escolhas, não raras vezes, de maneira fortuita ou aleatória.

Vários motivos estão por trás desse fato: a imaturidade, em si, é um deles, já que essa decisão precisa ser tomada muito cedo, numa idade – 16 ou 17 anos – em que os jovens não têm certeza de quase nada; a criação, permanente e num ritmo acelerado, de novos cursos, fazendo com que o leque de opções seja cada vez mais amplo, é outro fator; e, sem dúvida, pressões de vários tipos, em especial de familiares e amigos, que os jovens recebem, têm também sua dose de responsabilidade para o verdadeiro rodamoinho em que se transformam as cabeças de muitos deles.

O que falar para estes jovens cheios de angústia e ansiedade num momento tão importante?

Tenho procurado enfatizar alguns poucos aspectos, até porque, se for me estender muito entrando em detalhes muito específicos, é bem capaz de eu acabar mais complicando do que ajudando.

A primeira coisa que procuro deixar bem clara é que existe, como bem aponta o Prof. Roberto Macedo, uma diferença entre profissão e ocupação. A primeira diz respeito à formação do indivíduo, seja ela obtida num curso superior, seja num curso técnico. A segunda refere-se ao tipo de trabalho que o indivíduo desenvolve, podendo estar ou não relacionada à sua profissão. Muitos especialistas no assunto afirmam, com base em suas pesquisas, que há uma tendência em curso caracterizada pelo crescente distanciamento entre profissão e ocupação, com um número cada vez maior de pessoas que possuem uma determinada formação atuando profissionalmente em ocupações que teoricamente deveriam estar sendo preenchidas por outros profissionais. Um exemplo típico é o de engenheiros que estão, em grande quantidade, trabalhando no mercado financeiro. Com a sólida formação em métodos quantitativos obtida no curso de engenharia e a complementação que normalmente vão buscar nos cursos de pós-graduação e nos MBAs, acabam atendendo em cheio as expectativas das empresas contratantes. Essa tendência de distanciamento só não ocorre de forma tão acentuada nos cursos que formam profissionais para setores muito específicos, como, por exemplo, odontologia ou veterinária.

A segunda coisa que enfatizo é que é necessário estar atento às reviravoltas do mercado. Há alguns anos o mercado exigia profissionais superespecializados, de tal forma que o indivíduo tinha que se preocupar em se aprofundar cada vez mais naquela área específica que ele havia escolhido para ter como profissão. De uns anos para cá, isso não é mais suficiente, uma vez que além de bons conhecimentos numa área específica, as empresas querem profissionais generalistas, ou seja, que possuam bons conhecimentos também em diversas outras áreas, o que o Prof Carlos Roberto Faccina define como “especialista generalizante”. Isso requer de qualquer indivíduo uma reciclagem constante e uma contínua busca por novas informações acerca de quase tudo de relevante que acontece ao redor do mundo.

A terceira coisa para a qual tenho chamado atenção, quase como um conselho ou recomendação, é para que a escolha seja feita, na graduação, por um curso que forneça uma formação sólida e abrangente, capaz de dar a eles a flexibilidade e a capacidade de adaptação que o mercado tanto valoriza nos dias de hoje. A especialização deve ficar para depois, no nível da pós-graduação, quando, além de mais maduros, muitos deles já terão iniciado suas carreiras, tendo assim indicadores mais sólidos para uma escolha mais precisa. Quem opta por um curso muito específico ainda na graduação corre o sério risco de estar se fechando para um grande número de oportunidades que poderão aparecer logo ali à sua frente.

Em recente artigo publicado na revista Executivo de Valor, Carlos Alberto Júlio, presidente da HSM do Brasil, reforça, em dois trechos, essas minhas três colocações iniciais:

Antigamente os empregos eram mantidos pela obediência. Atualmente tem emprego garantido aquele que renova suas competências específicas, que se adapta à metamorfose permanente do setor produtivo, que providencia novas bases de conhecimento para o desenvolvimento da carreira. Já não basta você ser bom naquilo que faz, é importante mostrar que esses talentos e habilidades ainda serão úteis nos meses seguintes, nos anos seguintes e em novas e diferentes conjunturas.

A seguir, acrescenta Carlos Alberto Júlio:

Busca-se o profissional generalista como perfil. Não aquele profissional que sabe um pouco de tudo, mas, verdadeiramente, aquele que sabe muito de várias áreas do conhecimento. Ainda que se possa sentir desconfortável com tamanhas exigências, é por esse caminho que se encontra o verdadeiro perfil de liderança. Profissionais mais informados, mais informatizados, mais educados, mais tecnológicos, mais cultos e refinados. Confortável ou não com essa idéia, não há como recuar, e sim adaptar-se. Afinal, Darwin e seus conceitos jamais foram tão presentes e tão provados: o mundo é dos adaptáveis!

Por último, com base na experiência adquirida em dezenas de anos atendendo alunos e pais de alunos em estado de flagrante desespero motivado por uma “má” escolha anterior, tenho feito algumas considerações que considero também fundamentais:

1ª.  Procure escolher um curso pelo qual você se sente efetivamente atraído, pois é muito ruim estudar algo de que você não gosta, assim como é terrível ter que passar a vida trabalhando numa coisa que não lhe traz qualquer prazer ou satisfação.

2ª. Depois de colher informações suficientes e tomar uma decisão, não dê ouvidos a familiares, amigos, amigos dos amigos ou seja lá quem for. Ouça apenas o seu coração e vá em frente! Não quer dizer que você não poderá se equivocar. Mas a chance é bem menor do que se você decidir pela cabeça dos outros e não pela sua. Portanto, nada de escolher o curso para agradar o pai, o tio ou o avô. É a sua vida que está em jogo e é isso que tem que prevalecer na hora da decisão.

3ª. Faça tudo o que for possível para freqüentar um curso de boa qualidade, escolhendo com rigor a instituição de ensino em que vai estudar. Para tanto, converse com seus professores, informe-se nas publicações especializadas e nos sites que tratam desse assunto. Não é a faculdade, isoladamente, que faz o aluno tornar-se ou não um bom profissional. Mas freqüentar um bom curso é um passo importante nessa direção. Sobre isso eu não tenho a menor sombra de dúvida.

4ª. Além de pensar na escolha do curso e da profissão com a perspectiva de trabalhar como empregado, é essencial pensar também que existe a possibilidade de se tornar empreendedor. Este, porém, já é assunto para um próximo artigo.

 

 

 

 

 

Referências e indicações bibliográficas

BARTOLI, Jean. Ser executivo: um ideal? uma religião? Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2005.

BRABANDERE, Luc de. O lado oculto das mudanças: a verdadeira inovação requer mudança de percepções. Rio de Janeiro: Elsevier; Boston, MA: The Boston Consulting Group, 2006.

FACCINA, Carlos. O profissional competitivo: razão, emoções e sentimentos na gestão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

JÚLIO, Carlos Alberto. O executivo global precisa se adaptar para sobreviver. Executivo de Valor. Ano X, N° 7, Março de 2007, p. 82.

Macedo, Roberto. Seu diploma, sua prancha. São Paulo: Saraiva, 1998.

______________ Dicas para calouros. O Estado de S. Paulo. Caderno Oportunidades. Profissões & Ocupações, 25 de fevereiro de 2007.

MATOS, José Diney. Bem-estar criativo para o sucesso: potencializando o desempenho pessoal e profissional. São Paulo: Saraiva, 2006.

RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos:o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da força global de trabalho.Tradução de Ruth Gabriela Bahr.São Paulo: Makron, 1995.

 

Referências e indicações webgráficas

MACHADO, Luiz Alberto. Profissão de valor. Disponível em http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=3628.