Nobel de Economia valoriza sustentabilidade e inovação tecnológica
“Nossos filhos terão mais de quase tudo, com uma gritante exceção: eles não terão mais tempo. À medida que a renda e os salários aumentam, sobe o custo do tempo e cresce também a sensação de que ele é escasso e de que a vida transcorre num ritmo mais acelerado do que no passado.”
Paul Romer
A Academia Real de Ciências da Suécia anunciou no dia 8 de outubro, os nomes dos ganhadores do Prêmio Nobel de Economia de 2018[1]. Foram eles os americanos William Nordhaus e Paul Romer.
Em seu comunicado, a Academia destacou que os laureados “desenvolveram métodos que abordam alguns dos desafios mais fundamentais de nosso tempo: combinar o crescimento sustentável a longo prazo da economia global com o bem-estar da população do planeta. Suas conclusões ampliaram significativamente o alcance da análise econômica mediante a construção de modelos que explicam como a economia de mercado interage com a natureza e o conhecimento”.
Ao contrário de outras oportunidades, em que havia plena afinidade nos trabalhos e pesquisas desenvolvidos por economistas que dividiram o Nobel[2], neste ano a Academia concedeu a láurea a economistas cujos trabalhos são complementares, embora tenham ênfases em aspectos diferentes.
William Nordhaus, que é mais conhecido no Brasil por ser coautor de alguns dos manuais mais utilizados nos cursos de graduação em economia juntamente com o consagrado Paul Samuelson (Nobel de Economia em 1970), é professor na Universidade de Yale e se notabilizou como pioneiro no estudo do impacto econômico da mudança climática, defendendo a imposição de taxas como o mais eficiente remédio para reduzir as emissões de carbono.
Paul Romer, por sua vez, que já ocupou o posto de economista-chefe do Banco Mundial, é professor na New York University e tem se destacado pela análise do papel das políticas governamentais de incentivo à inovação tecnológica. Embora reconheça ser impossível ignorar os problemas ambientais, a ênfase de suas pesquisas está voltada para a teoria do crescimento endógeno, na qual sustenta que o investimento acumulado em criatividade, ideias e tecnologia é o principal fator de estímulo à atividade econômica.
Comentando a concessão do Nobel a Nordhaus e Romer, o professor Justin Waters, da Universidade de Michigan, lembrou que ambos já haviam sido cogitados para o prêmio em anos anteriores, de tal forma que o anúncio de seus nomes neste ano não causou surpresa. A respeito da complementaridade do trabalho dos dois, comentou: “Em uma análise, pode não parecer uma combinação óbvia. Ambos estão ligados a uma teoria de crescimento moderna, mas não em uma forma coordenada ou similar. Mas a conjugação dos dois faz sentido. O fio comum entre os dois é que políticas inteligentes de governo são essenciais para entregar bons resultados de longo prazo”.
Concluo o artigo com um quadro-síntese dos ganhadores do Prêmio Nobel.
Quadro 1
Prêmio Nobel de Economia
Ano | Ganhador(es) | Justificativa |
1969 | Ragnar Frisch;
Jan Tinbergen |
Por terem desenvolvido e aplicado modelos dinâmicos para a análise de processos econômicos |
1970 | Paul Samuelson | Pelo trabalho científico através do qual ele desenvolveu a teoria econômica estática e dinâmica e ativamente contribuiu para elevar o nível de análise na ciência econômica |
1971 | Simon Kuznetz | Por sua interpretação empírica do crescimento econômico que levou a novas e aprofundadas percepções sobre a estrutura econômica e social e o processo de desenvolvimento |
1972 | John Hicks;
Kenneth Arrow |
Por suas contribuições pioneiras à teoria do equilíbrio econômico geral e à teoria do bem-estar |
1973 | Wassily Leontief | Pelo desenvolvimento do método de insumo-produto (input-output)[3], e por sua aplicação a importantes problemas econômicos |
1974 | Gunnar Myrdal; Friedrich Hayek | Por seu trabalho pioneiro na teoria do dinheiro e flutuações econômicas e por sua análise penetrante da interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais |
1975 | Leonid Kantorovich; Tjalling Koopmans | Por suas contribuições à teoria da alocação ótima de recursos |
1976 | Milton Friedman | Por suas conquistas nas áreas de análise de consumo, história e teoria monetária e por sua demonstração da complexidade da política de estabilização |
1977 | Bertil Ohlin;
James Meade |
Por sua contribuição pioneira à teoria do comércio internacional e movimentos internacionais de capital |
1978 | Herbert Simon | Por sua pesquisa pioneira sobre o processo de tomada de decisão dentro de organizações econômicas |
1979 | Theodore Schultz; Arthur Lewis | Por sua pesquisa pioneira em pesquisa de desenvolvimento econômico com consideração especial dos problemas dos países em desenvolvimento |
1980 | Lawrence Klein | Pela criação de modelos econométricos e a aplicação à análise de flutuações econômicas e políticas econômicas |
1981 | James Tobin | Por sua análise dos mercados financeiros e suas relações com decisões de gastos, emprego, produção e preços |
1982 | George Stigler | Por seus estudos seminais sobre estruturas industriais, funcionamento dos mercados e causas e efeitos da regulação pública |
1983 | Gerard Debreu | Por ter incorporado novos métodos analíticos à teoria econômica e por sua rigorosa reformulação da teoria do equilíbrio geral |
1984 | Richard Stone | Por ter feito contribuições fundamentais para o desenvolvimento dos sistemas de contas nacionais, aprimorando a base da análise econômica empírica |
1985 | Franco Modigliani | Por suas análises pioneiras de poupança e de mercados financeiros |
1986 | James Buchanan | Pelo desenvolvimento das bases contratuais e constitucionais da teoria da tomada de decisões econômicas e políticas |
1987 | Robert Solow | Por suas contribuições para a teoria do crescimento econômico |
1988 | Maurice Allais | Por suas contribuições pioneiras à teoria dos mercados e utilização eficiente dos recursos |
1989 | Trygve Haavelmo | Pela sua formulação probabilística dos fundamentos da econometria e suas análises de estruturas econômicas simultâneas |
1990 | Harry Markowitz; Merton Miller; William Sharpe | Respectivamente: pelo seu desenvolvimento da teoria de seleção de portfólio; por sua fundamental contribuição científica para a teoria de finanças corporativas; e por suas contribuições fundamentais à teoria científica da formação dos preços em matéria financeira |
1991 | Ronald Coase | Por sua descoberta e esclarecimento da importância dos custos de transação e dos direitos de propriedade para a estrutura institucional e o funcionamento da economia |
1992 | Gary Becker | Por ter ampliado o domínio da análise microeconômica para uma ampla gama de comportamentos e interações humanas, incluindo comportamento não mercantil |
1993 | Douglass North; Robert Fogel | Por ter renovado a pesquisa em história econômica, aplicando teoria econômica e métodos quantitativos, a fim de explicar a mudança econômica e institucional |
1994 | John Harsanyi;
John Nash; Reinhard Selten |
Por sua análise pioneira de equilíbrio na teoria de jogos não cooperativos |
1995 | Robert Lucas | Por ter desenvolvido e aplicado a hipótese das expectativas racionais, transformando a análise macroeconômica e aprofundado nossa compreensão da política econômica |
1996 | James Mirrlees; William Vickey | Por suas contribuições fundamentais para a teoria econômica de incentivos sob informação assimétrica |
1997 | Robert Merton;
Myron Scholes |
Pelo desenvolvimento de um novo método matemático para a determinação dos derivativos e dos valores de opção no mercado de ações |
1998 | Amartya Sen | Por suas contribuições para a economia do bem-estar, em especial nos países em desenvolvimento |
1999 | Robert Mundell | Por sua análise da política monetária e fiscal sob diferentes regimes cambiais e sua análise das áreas monetárias ótimas |
2000 | James Heckman; Daniel McFadden | Respectivamente: pelo desenvolvimento de teorias e de métodos para análise de amostras seletivas; e pelo desenvolvimento de teorias e métodos para análise de escolha discreta |
2001 | George Akerlof;
A. Michael Spence; Joseph Stiglitz |
Por suas análises de mercados com informação assimétrica |
2002 | Daniel Kahneman; Vernon Smith | Respectivamente: por ter integrado insights de pesquisa psicológica em ciência econômica, especialmente sobre o julgamento humano e tomada de decisão sob incerteza; e por ter estabelecido experimentos de laboratório como uma ferramenta na análise econômica empírica, especialmente no estudo de mecanismos alternativos de mercado |
2003 | Robert Engle;
Clive Granger
|
Respectivamente: pelos métodos de análise de séries temporais econômicas com volatilidade variável no tempo (ARCH); e pelos métodos de análise de séries temporais econômicas com tendências comuns (cointegração) |
2004 | Finn Kydland;
Edward Prescott |
Por suas contribuições à macroeconomia dinâmica: a consistência temporal da política econômica e as forças motrizes por trás dos ciclos de negócios |
2005 | Robert Aumann; Thomas Schelling | Pela sua extraordinária contribuição para melhorar nossa compreensão do conflito e cooperação através da análise da teoria dos jogos |
2006 | Edmund Phelps | Por sua análise de compensações intertemporais na política macroeconômica |
2007 | Leonid Hurwicz;
Eric Maskin; Roger Myerson |
Por terem lançado as bases da teoria do design de mecanismos |
2008 | Paul Krugman | Por sua análise dos padrões de comércio e localização da atividade econômica |
2009 | Elinor Ostrom;
Oliver Williamson |
Respectivamente: pela sua análise de governança econômica, especialmente dos bens comuns; e pela sua análise da governança econômica, especialmente dos limites da firma |
2010 | Christopher Pissarides.
Peter Diamond; Dale Mortensen |
Pela análise de mercados com fricções de pesquisa |
2011 | Thomas Sargent; Christopher Sims | Por sua pesquisa empírica sobre causa e efeito na macroeconomia |
2012 | Alvin Roth;
Lloyd Shapley |
Pela teoria das alocações estáveis e pela prática do design de mercado |
2013 | Eugene Fama;
Robert Shiller; Lars Peter Hansen |
Pela sua análise empírica de preços de ativos financeiros |
2014 | Jean Tirole | Pela sua análise do poder de mercado e regulação |
2015 | Angus Deaton | Por sua análise do consumo, pobreza e bem-estar |
2016 | Oliver Hart;
Berg Holmstrom |
Por suas contribuições à teoria dos contratos |
2017 | Richard Thaler | Por suas contribuições para a economia comportamental |
2018 | William Nordhaus; Paul Romer | Respectivamente: por integrar a mudança climática na análise macroeconômica de longo prazo; e por integrar inovações tecnológicas em análises macroeconômicas de longo prazo |
Referências bibliográficas e webgráficas
BULLA, Beatriz. Crescimento sustentável ganha o Nobel. O Estado de S. Paulo, 9 de outubro de 2018, p. B 6.
PRÊMIO Nobel de Economia. Disponível em https://www.cofecon.gov.br/premio-nobel-de-economia/.
ROMER, Paul. Economic Growth. In: HENDERSON, David R. (ed.). The Fortune Encyclopedia of Economics. Nova York: Time Warner Books, 1993. Em FLORIDA, Richard. A ascensão da classe criativa. Tradução de Ana Luiza Lopes. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011.
_______________ Ideas and things. The Economist, 11 de setembro de 1993. Em FLORIDA, Richard. A ascensão da classe criativa. Tradução de Ana Luiza Lopes. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011.
TODOS os prêmios em ciências econômicas. Disponível em https://www.nobelprize.org/prizes/lists/all-prizes-in-economic-sciences/.
WILLIAM D. Nordhaus e Paul M. Romer ganham o Nobel de Economia de 2018. El País. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/08/economia/1538979521_846896.html.
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