Reprise
Já vi esse filme outras vezes… e não gostei do final
A combinação de novas denúncias de irregularidades envolvendo membros do governo, o andamento da CPI da Covid e a sucessão de manifestações em diversas partes do País pedindo o impeachment do presidente Jair Bolsonaro gera uma preocupação crescente – assumida ou não – dentro do alto escalão do governo quanto à possibilidade de conclusão do mandato prevista para dezembro de 2022.
Em consequência disso, percebe-se uma alteração de prioridades, com a preservação do mandato ocupando o primeiro lugar, ficando para segundo plano todos os demais assuntos.
Começa a ser reprisado, assim, um filme que os brasileiros tiveram possibilidade de assistir por mais de uma vez desde que a democracia e as eleições diretas para a Presidência da República foram restauradas na segunda metade da década de 1980.
A primeira vez foi com Fernando Collor. À medida que ganhavam força argumentos que poderiam conduzir ao afastamento do presidente, a manutenção do mandato foi se tornando cada vez mais prioritária, com a perda correspondente de importância dos outros projetos essenciais ao bom funcionamento da economia. Mesmo o bom gabinete formado nos meses finais do mandato de Collor pouco pôde fazer diante dessa inversão de prioridades. A situação foi se deteriorando, criando um quadro muito difícil para o vice-presidente Itamar Franco, quando assumiu após a renúncia desesperada de Fernando Collor.
A segunda vez ocorreu nos dois anos do segundo mandato de Dilma Rousseff. Medidas inconsequentes adotadas para garantir a reeleição fizeram com que o mandato já se iniciasse numa situação complicada. A apertada margem da vitória no segundo turno não garantiu a ela o capital político normalmente adquirido em disputas eleitorais. Com essa soma de fatores, Dilma Rousseff praticamente não fez outra coisa em seu segundo mandato a não ser tentar se manter no poder, enquanto multiplicavam-se as pressões pelo seu impeachment. Novamente, o cenário econômico agravou-se, deixando um difícil legado para o sucessor Michel Temer.
Este, por sua vez, também foi obrigado a pisar no freio depois do vazamento de sua conversa com Joesley Batista, que acendeu a fogueira dos opositores, ávidos por vingarem a presidente afastada. Com isso, algumas reformas que poderiam avançar foram postergadas, perdendo-se a oportunidade de legar ao novo governo um cenário mais favorável.
Temo que o mesmo filme se repita agora, com o governo empurrando os problemas com a barriga, mais preocupado em apenas se manter no poder. Nas vezes anteriores, não gostei do final desse filme.
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