O Novo Relatório de Desenvolvimento Humano
Paulo Galvão Júnior[1]
No dia 8 de setembro de 2022, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), lançou e divulgou a nível mundial The Human Development Report 2021/2022 (em português, O Relatório de Desenvolvimento Humano 2021/2022), com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 191 países, em cinco continentes.
Desde 1990, o PNUD, relevante órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), mensura o bem-estar da população em termos de saúde, educação e renda. O IDH varia de 0 a 1 e quanto mais próximo de 1, melhor o desenvolvimento humano do país. E o IDH foi idealizado por dois economistas asiáticos, o paquistanês Mahbub ul Haq (1934-1998) e o indiano Amartya Sen (1933-), “o Prêmio Nobel de Economia em 1998 por suas contribuições para a economia do bem-estar, em especial nos países em desenvolvimento” (MACHADO, 2019, p. 313).
Os países ao redor do mundo são divididos em países de IDH baixo (de 0 a 0,549), de IDH médio (de 0,550 a 0,699), de IDH alto (de 0,700 a 0,799) e de IDH muito alto (de 0,800 a 1). Nos dias atuais, é muito importante ler e reler o novo Relatório de Desenvolvimento Humano, do PNUD.
Com os impactos da pandemia da Covid-19 sobre a saúde, mensurada pela esperança de vida ao nascer; a educação, mensurados pela média de anos de escolaridade e pelos anos esperados de escolaridade; e a renda, avaliada pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita, em dólares internacionais, expressa em paridade de poder de compra (PPC), o IDH mundial cai por dois anos consecutivos pela primeira vez em 32 anos.
A Suíça, com IDH de 0,962 em 2021, é o país de maior IDH do mundo e da Europa. Enquanto, o Sudão do Sul, com IDH de 0,385, é o pior IDH do planeta e da África, segundo o PNUD.
O PNUD constatou também 66 países com IDH muito alto (34,56% do total), seleto grupo de países com melhor qualidade de vida e liderados pela Suíça (0,962) até a Tailândia (0,800). Entre os 49 países com IDH alto (25,65% do total) verificou-se a liderança da Albânia (0,796) até o Vietnã (0,703). E o Brasil é uma das nações integrantes do grupo de IDH alto.
Observa-se que no grupo dos 44 países com IDH médio (23,04% do total), as Filipinas lideram com IDH de 0,699 e na última colocação deste grupo, encontra-se a Costa do Marfim, com IDH de 0,550 em 2021. Já entre os 32 países com IDH baixo (16,75% do total), este grupo é liderado pela Tanzânia com IDH de 0,549 e na última posição do grupo, do mundo e da África, o Sudão do Sul, com IDH de 0,385.
Entre os cinco continentes, nos extremos opostos no IDH de 2021, é possível observar que o melhor IDH na Europa é a Suíça (0,962); na Ásia, é a ilha de Hong Kong (0,952); na Oceania, é a Austrália (0,951); na América, é o Canadá (0,936); e na África, é Maurício (0,802).
É possível verificar que na Europa, o Velho Mundo, o melhor IDH é o da Suíça (0,962) e o pior IDH é o do Azerbaijão (0,745). E o Azerbaijão foi uma das repúblicas da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), é um país independente da ex-URSS (hoje, Rússia, com IDH muito alto de 0,822) e que ruma com sérias dificuldades na transição de economia planificada para a economia de mercado desde 18 de outubro de 1991.
No mais extenso, mais populoso e mais rico continente, a Ásia, o melhor IDH é o de Hong Kong (0,952) e o pior IDH é o do Iêmen (0,455). O Iêmen é um dos países árabes em guerra civil desde 2015 e encontra-se no 183° lugar no ranking global. “A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica o Iêmen como a pior situação humanitária do mundo. O conflito já gerou 233 mil mortes, incluindo 131 mil por causas indiretas, como falta de alimentos, serviços de saúde e infraestrutura. Mais de 10 mil crianças morreram como consequência direta dos combates” (BBC NEWS BRASIL, 2022).
Na Oceania, o Novíssimo Mundo, o melhor IDH é o da Austrália (0,951) e o pior IDH é o de Papua-Nova Guiné (0,558), ambos, encontram-se no 5° lugar e no 156° lugar no ranking mundial, respectivamente, de acordo com o PNUD. E Papua-Nova Guiné é a segunda maior ilha do continente, atrás apenas da Austrália, sofrendo com o aquecimento global, que elevou o nível do oceano, precisamente, o Oceano Pacífico.
A humanidade sofre com a pandemia da COVID-19, como também, com as mudanças climáticas. De acordo com o PNUD (2022, p. 51), “A crise climática de hoje não tem precedentes na História da Terra, devido à combinação de sua velocidade, magnitude eventual, escala global e causa humana”.
Na América, no Novo Mundo, o melhor IDH é o do Canadá (0,936) e o pior IDH é o do Haiti (0,535). E o Canadá aparece na 15ª posição mundial e tem o melhor IDH do continente americano e da América do Norte, além da mais alta esperança de vida ao nascer, com 82,7 anos; da melhor média de anos de escolaridade, com 13,8 anos; e dos melhores anos esperados de escolaridade, com 16,4 anos, conforme os dados de 2021 do PNUD.
O Haiti é o país que ocupa o 163° lugar no ranking mundial, que é composto por 191 países, além do pior IDH dos 20 países da América Central e dos 35 países da América. Os três principais problemas socioeconômicos do Haiti são a baixa expectativa de vida ao nascer, com 63,2 anos; a baixa média de anos de escolaridade, apenas 5,6 anos; e a baixa RNB per capita, de US$ 2.848 PPC em 2021. E o IDH haitiano caiu de 0,543 em 2020 para 0,535 em 2021, um decréscimo de 0,008.
Na África, o berço da Humanidade, o melhor IDH é o das Ilhas Maurício (0,802) e o pior IDH é o de Sudão do Sul (0,385). E o Sudão do Sul é o mais novo país do planeta desde 9 de julho de 2011. É uma nação africana que sofre com uma guerra civil desde dezembro de 2013, com 70% da população analfabeta, e praticamente, a mesma porcentagem da população vive em pobreza absoluta, ou seja, mais de 8,3 milhões de pessoas. E a expectativa de vida ao nascer é de apenas 55 anos (PNUD, 2022).
Infelizmente, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2021/2022 (2022, p. 12), “Os declínios recentes no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são generalizados, com mais de 90 por cento dos países em declínio em 2020 ou 2021”. E o subcontinente América do Sul, no biênio 2020-2021, foi uma das regiões mais atingidas com os severos impactos socioeconômicos da pandemia da COVID-19 e das mudanças climáticas.
Entre os 12 países da América do Sul, nos extremos opostos do IDH de 2021, é possível verificar que o melhor IDH e o pior IDH são o Chile (0,855) e a Venezuela (0,691), respectivamente. Na esperança de vida ao nascer, Chile (78,9 anos) e Bolívia (63,6 anos); Na média de anos de escolaridade, Argentina (11,1 anos) e Brasil (8,1 anos); Nos anos esperados de escolaridade, Argentina (17,9 anos) e Guiana (12,5 anos); e por fim, RNB per capita, Chile ($ 24.563 PPC) e Venezuela ($ 4.811 PPC).
O Chile é o país sul-americano de melhor desempenho no IDH, sem sombra de dúvida, e o país está na 42ª posição global. E o IDH chileno era de 0,852 em 2020 subiu para 0,855 em 2021, um acréscimo de 0,003.
O IDH do Brasil era 0,758 em 2020 caiu para 0,754 em 2021 e queda de três posições no ranking mundial, da 84ª para 87ª colocação, em relação ao ano de 2020, e na América do Sul, encontra-se na 5ª posição, atrás do Chile (0,855), da Argentina (0,842), do Uruguai (0,809) e do Peru (0,762).
Verifica-se que o Brasil de IDH de 0,610 em 1990 cresceu para 0,754 em 2021, ou seja, um crescimento absoluto de 0,144 nos últimos 31 anos e um aumento relativo de 23,61%. E a expectativa de vida ao nascer do Brasil caiu de 75,3 anos em 2019 para 72,8 anos em 2021.
Verifica-se também pelo mundo que entre os três países com os melhores IDHs são a Suíça (0,962), a Noruega (0,961) e a Islândia (0,959), e os três países são europeus. Na outra ponta extrema do ranking de IDH mundial, aparecem nos três últimos colocados, o Sudão do Sul (0,385), o Chade (0,394) e o Níger (0,400), e os três países são africanos.
Entre os extremos opostos na esperança de vida ao nascer no mundo, Hong Kong (85,5 anos) e Chade (52,5 anos); Na média de anos de escolaridade, Alemanha (14,1 anos) e Burkina Faso (2,1 anos); Nos anos esperados de escolaridade, Austrália (21,1 anos) e Sudão do Sul (5,5 anos); e por fim, na RNB per capita, Liechtenstein ($ 146.830 PPC) e Burundi ($ 732 PPC), de acordo com o novo Relatório de Desenvolvimento Humano.
Em suma, a principal conclusão do artigo é que a pandemia da COVID-19 e as mudanças climáticas são os dois grandes responsáveis pelas quedas recentes no IDH no mundo (de IDH de 0,735 em 2020 caiu para 0,732 em 2021, um decréscimo de 0,003) e no Brasil (de IDH de 0,758 em 2020 retraiu para 0,754 em 2021, um decréscimo de 0,004). E o Brasil voltou ao patamar do ano de 2015, quando o IDH era de 0,753, em plena recessão econômica.
Enfim, desde 1990, o pensamento econômico de Amartya Sen e de outros economistas que defendem o desenvolvimento humano muito alto entre as nações, é necessário “resgatar a visão humanitária da economia e recolocar na agenda da discussão, em condição de absoluta prioridade” (MACHADO, 2019, p. 317), além de apontar os melhores caminhos para os países que possuem o IDH baixo como o Sudão do Sul, Iêmen e Haiti.
Conclui-se que no contexto da Era do Conhecimento, em plena Quarta Revolução Industrial, as mudanças necessárias para maior evolução socioeconômica no mundo e no Brasil, em tempos incertos, com a Guerra na Ucrânia, requer grandes investimentos em educação de qualidade, em saúde, em agropecuária, em aquicultura, em economia verde e em inovação tecnológica.
Referências
BBC NEWS BRASIL. A ‘guerra esquecida’ no Iêmen: 8 anos de conflito e 700 ataques aéreos em um mês. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60758741#:~:text=A%20Organiza%C3%A7%C3%A3o%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas,como%20consequ%C3%AAncia%20direta%20dos%20combates. Acesso em: 09 de setembro de 2022.
MACHADO, Luiz Alberto. Viagem pela economia. São Paulo: Scriptum, 2019.
PNUD. The Human Development Report 2021/2022. Disponível em: hdr2021-22pdf_1.pdf (undp.org). Acesso em: 09 de setembro de 2022.
[1] Economista, graduado em Ciências Econômicas pela UFPB, com especialização em Gestão em Recursos Humanos pela FATEC Internacional. Professor de Economia do Curso de Graduação em Ciências Contábeis e em Administração no UNIESP. E-mail: paulogalvaojunior@gmail.com.
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