Ortodoxos e heterodoxos em corners opostos
Dois dos ídolos da minha infância e juventude foram Éder Jofre e Cassius Clay, depois Muhammad Ali. Lutavam boxe, então chamada de nobre arte.
Lembrei-me de uma luta de boxe ao acompanhar as trocas de farpas entre grupos que defendem posturas diferentes na condução da política monetária brasileira.
Imagino que um narrador assim se referiria a este embate:
Bom dia, boa tarde, boa noite! Vamos a mais um round na luta que mais atrai atualmente a atenção dos brasileiros.
De um lado, no corner da direita, estão os adeptos da visão ortodoxa da economia, representados pelo Banco Central e seu presidente Roberto Campos Neto.
De outro, no corner da esquerda, estão os adeptos da visão heterodoxa, representados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad e outros integrantes da corrente desenvolvimentista.
Em disputa, a manutenção da inflação brasileira em níveis considerados aceitáveis, ainda que um pouco acima da meta estipulada para o ano de 2023.
O presidente do Banco Central, ancorado no mandato que lhe garante a permanência no cargo até o final de 2024, utiliza jabs, cruzados e diretos para manter a taxa básica de juros em 13,75%, ameaçando até elevá-la nos próximos rounds, se necessário for.
O presidente Lula, o ministro Haddad e seus seguidores contra atacam argumentando que é preciso baixar a taxa Selic para destravar a economia, permitindo a retomada do crescimento, mesmo que seja necessário apelar para uma política fiscal expansionista, com despesas superiores à arrecadação.
No final do round, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu pela manutenção da taxa em 13,75% e justificou sua decisão afirmando que sem equilíbrio fiscal não será possível reduzir a taxa de juros, situação que se torna mais complicada à medida que sequer se sabe qual será o arcabouço fiscal do governo.
Assim, o round foi vencido por ampla margem de pontos pela ortodoxia do presidente do Banco Central.
Porém, os desenvolvimentistas defensores de uma visão mais heterodoxa, não se dão por vencidos, criticam os livros de economia e prometem reagir nos próximos rounds.
Aguardemos por eles!
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