Peixe na água: trajetória de uma conversão

     Luiz Alberto Machado[1]

 “O liberalismo é inseparável do sistema democrático

como regime civil de poderes independentes, liberdades

públicas, pluralismo político, direitos humanos

garantidos, eleições, e mercado livre como mecanismo

para alocação dos recursos e criação de riqueza.”

       Mario Vargas Llosa

 

 Resumo: O artigo trata da trajetória do escritor peruano Mario Vargas Llosa, agraciado, em 2010, com o Prêmio Nobel de Literatura. Mais especificamente, focaliza a transição vivida pelo escritor, que, de simpatizante das ideias marxistas em sua juventude, quando recebeu forte influência intelectual de Jean Paul Sartre, passa a ser um convicto defensor das ideias liberais, recebendo influência de Raymond Aron, Jean-François Revel, Isaiah Berlin e Karl Popper. Foi com base nessas ideias que foi, inclusive, candidato à presidência do Peru, tendo sido derrotado por Alberto Fujimori.

 Palavras-chave: América Latina, transição, marxismo, democracia, liberalismo, populismo.

Abstract: The article focuses the trajectory of the Peruvian writer Mario Vargas Llosa, rewarded in 2010 with the Nobel Prize on Literature. More specifically, it describes the author transition from a young Marxist toward a strong adept of liberal ideas, under the influence of Raymond Aron, Jean-François Revel, Isaiah Berlin e Karl Popper. With these ideas, he was candidate to the presidency of Peru, being defeated by Alberto Fujimori

 Main words: LatinAmerica, transition, Marxism, democracy, liberalism, populism.

 Confesso ter sido um dos que vibraram com a notícia de que a Academia Sueca, contrariando uma tendência ideológica, que nos últimos anos vinha contemplando autores da esquerda “multicultural”, havia concedido o Prêmio Nobel de Literatura a Mario Vargas Llosa, um escritor alinhado com o pensamento liberal.

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[1] Vice-diretor da Faculdade de Economia da FAAP.

   Mario Vargas Llosa

 Interessei-me profundamente por Mario Vargas Llosa desde que li o primeiro de sua autoria, Conversa na catedral, no longínquo ano de 1980.

 Martim Vasques da Cunha, que teve a oportunidade de entrevistar o escritor peruano em sua visita ao Brasil poucos dias depois do anúncio de que ele havia sido agraciado com o Prêmio Nobel, refere-se à importância desse livro da seguinte forma:

 Com A casa verde (1965) e Conversa na Catedral (1969) Mario Vargas Llosa almejou esta ambição desmedida [de produzir uma forma radical de literatura: o “romance total”], que, segundo ele, já existia em escritores como Victor Hugo, Balzac, Flaubert, Faulkner e seu então comparsa Garcia Márquez: recriar a vida em uma obra literária como se esta fosse uma esponja que sugasse todas as camadas e todos os vetores da existência. Sem dúvida, conseguiu fazer isso com Conversa, um dos romances mais inovadores já feitos não só na literatura latino-americana como também na mundial. Através de uma conversa de bar entre Santiago Zavala, um jornalista fracassado, e Ambrósio, que fora chofer de seu pai e que então era adestrador de cães em um canil público, Vargas Llosa mostra como se operou a ditadura de Manuel Odría no Peru na década de 50, sobrepondo diferentes planos temporais e quebrando a estrutura linear da história; criava assim um quebra-cabeça alucinante para o leitor montar e chegar à conclusão de que qualquer ditadura assassina a mínima possibilidade de liberdade individual, seja na vida pública ou privada.

 Embora não fosse de fácil leitura, sobretudo para alguém desacostumado a seu estilo, o livro me encantou pela forma como descrevia a realidade política do Peru, país que eu havia tido a oportunidade de conhecer em 1971, num giro do time de basquete do Mackenzie por diversos países da América Latina, numa época em que minhas prioridades absolutas eram a bola e as quadras de basquete.

Dali para cá, tive chance de ler muitos outros livros de Vargas Llosa, entre os quais Tia Julia e o escrevinhador (também lido em 1980), Pantaleão e as visitadoras (lido em 1981), A guerra do fim do mundo (lido 1982), Quem matou Palomino Molero? (lido em 1987), Peixe na água (lido em 1995), A festa do bode (lido em 2007), Travessuras da menina má (também lido em 2007), Elogio da madrasta (lido em 2010) e, mais recentemente (também em 2010), Cartas a um jovem escritor e Sabres e utopias, um conjunto de artigos cujo subtítulo é Visões da América Latina.

 Como se pode observar pelas datas das leituras de seus livros, não se tratou de uma leitura sistemática, uma vez que está repleta de intervalos maiores ou menores, além de não incluir toda a obra do escritor peruano. Mas foi uma leitura que esteve comigo por mais de três décadas, ao longo das quais foi possível acompanhar a transição do jovem e sonhador marxista para o liberal maduro e realista em que se converteu a partir de uma determinada época de sua vida, ao se decepcionar com algumas das experiências revolucionárias que haviam alimentado seus sonhos juvenis, tais como a soviética e a cubana.

 A esse respeito, assim descreve Martim Vasques da Cunha:

 Depois deste livro tão ambicioso [Conversa na catedral], Vargas Llosa operou uma mudança inusitada em sua obra – e é aqui que o humor vem à tona. Talvez desiludido por recentes decepções ideológicas – havia-se afastado de suas convicções socialistas, rompido com a admiração que tinha pela Cuba de Fidel Castro e aos poucos se voltava para a defesa do liberalismo econômico e político, o que causou um frisson enorme entre seus colegas escritores e intelectuais – o peruano descobriu em histórias divertidas, como Pantaleão e as visitadoras (1973) e Tia Júlia e o escrevinhador (1977), um novo prazer em contar uma história. Esta renovação na sua carreira o fez ter mais leitores do que na década anterior -, e, ao que parece, sem comprometer a qualidade da sua escrita.

 De fato, não foi fácil fazer essa transição em direção ao liberalismo, quer pelos conflitos internos que tiveram que ser vencidos, quer pelo enorme patrulhamento que sofreu de boa parte de artistas, intelectuais e jornalistas fortemente influenciados pelas ideias de Marx e de seus seguidores. Esse aspecto, aliás, também mereceu destaque no discurso de aceitação ao Prêmio Nobel, em Estocolmo:

Quando jovem, como muitos escritores da minha geração, fui marxista e acreditava que o socialismo seria o remédio para a exploração e as injustiças sociais que dominavam o meu país, a América Latina e o resto do Terceiro Mundo. Minha decepção com o estatismo e o coletivismo e a minha passagem para o democrata e liberal que sou – que tento ser – foi longa, difícil e ocorreu aos poucos por causa de episódios como a conversão da Revolução Cubana, que me entusiasmou de início, ao modelo autoritário e vertical da União Soviética, dos testemunhos dos dissidentes que conseguiam vazar dos muros do gulag, da invasão da Tchecoslováquia pelos países do Pacto de Varsóvia e graças a pensadores como Raymond Aron, Jean-François Revel, Isaiah Berlin e Karl Popper, aos quais devo a minha revalorização da cultura democrática e das sociedades abertas. Esses mestres foram um exemplo de lucidez e galhardia quando a intelligentsia ocidental parecia, por frivolidade ou oportunismo, ter sucumbido ao feitiço do socialismo soviético, ou pior ainda, à diabólica e sanguinária revolução cultural chinesa.

 Dois fatos aumentaram meu interesse pela vida e pela obra de Mario Vargas Llosa. O primeiro ocorreu por ocasião de minha segunda visita ao Peru, no início de 1990, quando lá estive juntamente com Norman Gall, diretor executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. O país atravessava um momento extremamente difícil, com sua economia estagnada e uma inflação altíssima, além de um forte clima de insegurança em consequência de sucessivas ações dos terroristas do Sendero Luminoso, que provocavam constantes cortes de energia e paralisavam as atividades industriais e comerciais não raro várias vezes ao dia. Durante a visita à capital peruana, tive oportunidade de visitar o Instituto Libertad y Democracia, onde conversei com Hernando de Soto, um dos autores do livro El otro sendero, um verdadeiro clássico sobre o trabalho informal e considerado, juntamente com Vargas Llosa, um grande expoente do pensamento liberal no Peru. Vargas Llosa, na época, liderava as pesquisas para as eleições presidenciais que seriam realizadas ainda naquele ano para a sucessão de Alan García. Logo depois, porém, ocorreu uma acentuada mudança nas tendências dos eleitores, que acabaram conduzindo Alberto Fujimori à presidência do Peru. Azar do Peru, sorte dos amantes da literatura, como escreveu, na época, num artigo para a revista New Yorker o escritor John Updike.

 O episódio da candidatura derrotada à presidência do Peru é narrado, com a tradicional eloquência, de Mario Vargas Llosa no livro Peixe na água (1993). Este livro de memórias começou a ser escrito logo depois da derrota nas eleições de junho de 1990 e parte dele é um relato da gênese de sua candidatura, do período de campanha e do surpreendente e súbito declínio das intenções de voto a seu favor.

Vale destacar, entre tantas coisas interessantes contidas nesse livro, uma conversa de Vargas Llosa com sua esposa Patrícia. Nessa conversa, ele argumenta que entrou na disputa política por uma “obrigação moral”, sendo contestado por ela que diz que ele entrou na eleição porque queria viver o seu “romance total”.

 Livro Peixe na àgua

Vargas Llosa concorda que suas memórias podem ser vistas como um “romance total” – a tentativa de escrever o meu romance na vida real. Esse “romance total” conta a história do Peru nos últimos cinquenta anos, como explicou a Martim Vasques da Cunha:

Concordo plenamente, as minhas memórias podem ser lidas dessa forma, sem dúvida. Mas tudo isso que vivi deve ser entendido da seguinte maneira: todas as ideias que defendi nessa eleição eram muito impopulares. Agora, são extremamente populares e aceitas por todos. É curioso como muda a cultura política de uma época, não?

 O segundo fato ocorreu em 1995, quando o Instituto Liberal do Paraná o convidou para uma palestra em Curitiba. Impressionado com a qualidade da mesma, perguntei a ele se podia publicá-la na série Ideias Liberais, uma publicação quinzenal do então Instituto Liberal de São Paulo. Ele me falou que não a tinha por escrito e que havia sido feita de improviso. Expliquei a ele que a palestra havia sido gravada e que eu me proporia a fazer a degravação e a tradução para o português, submetendo o resultado final a ele, previamente, para que ele aprovasse a publicação. Uma vez de acordo, fiz o trabalho a que me havia proposto e ao receber o texto para aprovação ele me respondeu dizendo que, embora não fosse um expert em português, acreditava que a tradução estava muito boa. Quando publicada, A cultura da liberdade transformou-se num dos maiores sucessos de toda a série, obrigando o Instituto Liberal a fazer algumas reimpressões da mesma.

 Difícil destacar alguma coisa em particular da obra de Vargas Llosa, já que ela é integralmente valiosa e relevante. Contudo, gostaria de concluir fazendo algumas menções especiais.

 Embora a América Latina – e o Peru, em especial – permeie todo o trabalho de Vargas Llosa, a descrição feita por ele, em A festa do bode, do governo de Trujillo na República Dominicana, e, através dele, dos desmandos e das corrupções que caracterizaram as diferentes ditaduras que proliferaram em nosso continente é, apesar de trágica, simplesmente fenomenal.

Já que me referi à América Latina, segue um trecho de um artigo de 1988 reproduzido em Sabres e utopias:

 Uma das atitudes latino-americanas mais típicas quando se procura explicar os nossos males tem sido a de atribuí-los a maquinações perversas urdidas no exterior pelos ignominiosos capitalistas de sempre ou – mais recentemente – pelos funcionários do Fundo Monetário Internacional ou do Banco Mundial. Embora seja principalmente a esquerda que insiste em promover essa “transferência” freudiana de responsabilidade pelos males da América Latina, o fato é que esse tipo de atitude se encontra muito difundido. […] Tal postura constitui o principal obstáculo que nós, latino-americanos, temos diante de nós para romper o círculo vicioso do subdesenvolvimento econômico. Se os nossos países não veem que a principal causa das crises em que se debatem está neles próprios, em seus governos, em seus mitos e costumes, em sua cultura econômica, e que por isso mesmo, a solução do problema virá principalmente de nós mesmos, de nossa capacidade de lucidez e de decisão, e não de fora, o mal jamais será conjurado (p. 273).

 Do discurso de aceitação ao Prêmio Nobel de Literatura, além do trecho já citado, faço questão de me referir a mais dois.

O primeiro sobre as convicções liberais de Vargas Llosa:

 Não devemos nos intimidar ante os que querem tirar a liberdade que conquistamos na longa façanha da civilização. Defendamos a democracia liberal que, com todas as suas limitações, ainda significa o pluralismo político, a convivência, a tolerância, os direitos humanos, o respeito à crítica, a legalidade, as eleições livres, a alternância de poder, tudo aquilo que nos tirou da vida selvagem e nos faz aproximar – embora nunca cheguemos a alcançá-la – da formosa e perfeita vida fingida pela literatura, aquela que só inventando, escrevendo e lendo podemos merecer. Ao enfrentarmos os fanáticos homicidas defendemos o nosso direito de sonhar e de tornar nossos sonhos realidade.

O segundo sobre a evolução verificada nos últimos anos na América Latina na direção da consolidação das instituições democráticas, que têm permitido que a região comece a superar aquele vício supracitado de buscar culpados externos para todos os seus males:

Pela primeira vez em nossa história temos uma esquerda e uma direita que, como no Brasil, Chile, Uruguai, Peru, Colômbia, República Dominicana, México e quase toda a América Central, respeitam a legalidade, a liberdade de crítica, as eleições e a renovação no poder. […] Padecemos de menos ditaduras do que antes, somente Cuba e sua candidata a substituí-la, Venezuela, e algumas pseudo democracias populistas e palhaças, como as da Bolívia e da Nicarágua.

 Deixei para o final a menção ao livro Cartas a um jovem escritor. A coleção Cartas a um jovem…, deliciosa de se ler, é descrita como “uma visão crítica e profunda de uma área de atuação, com base na rica vivência dos autores”. Recomendada para quem está no início da vida profissional, para que possa imaginar um futuro; para quem está no meio do caminho, para descobrir percursos diferentes e realinhar expectativas; e para quem se encontra mais perto do final, para se surpreender com quanto ainda há para ser feito, para refletir sobre a vida pessoal e, por que não, para inventar uma nova carreira. É constituída de nomes consagrados em diferentes campos do saber e do fazer. Entre os nomes que deram seus depoimentos nessa coleção, já tive oportunidade de ler Fernando Henrique Cardoso (Cartas a um jovem político), Ozires Silva (Cartas a um jovem empreendedor), Gustavo Franco (Cartas a um jovem economista), Bernardinho (Cartas a um jovem atleta), e Marcelo Gleiser (Cartas a um jovem cientista). Deles, Mario Vargas Llosa foi, seguramente, um dos que melhor captou a intenção do idealizador da coleção, pois em seu livro não se limitou, como alguns dos outros, a fazer uma reconstituição da sua própria trajetória, escrevendo cartas verdadeiras sobre o significado e as formas de escrever um bom livro. Com os exemplos que ele utiliza para ilustrar cada “carta”, trata-se, de quebra, de uma notável relação de sugestões de leituras. Fica como minha recomendação de leitura tanto para os que querem como para os que nem sonham nem nunca sonharam se tornar escritores.

  Referências bibliográficas

CARDOSO, Fernando Henrique. Cartas a um jovem político: para construir um país melhor. Rio de Janeiro: Alegro, 2006

CUNHA, Martim Vasques da. Elogio da disciplina. Em vôo com Mario Vargas Llosa. Dicta & Contradicta. Dezembro de 2010, número 06, pp. 24 – 46.

FRANCO, Gustavo H. B. Cartas a um jovem economista: conselhos para seus planos econômicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

GLEISER, Marcelo. Cartas a um jovem cientista: o universo, a vida e outras paixões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

 O NOBEL liberal. Veja, edição 2.197, ano 43, nº 52, 29 de dezembro de 2010, p. 232.
 REZENDE, Bernardo Rocha de (Bernardinho). Cartas a um jovem atleta: determinação e talento – o caminho da vitória. Rio de Jabneiro: Campus, 2007.

SILVA, Ozires. Cartas a um jovem empreendedor: realize seu sonho, vale a pena. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

SOTO, Hernando de, GHERSI, Enrique e GHIBELLINI, Mario. El Otro Sendero: la revolución informal. 8ª ed. Lima: Instituto Libertad y Democracia, 1990.

VARGAS LLOSA, Mario. Sabres e utopias: visões da América Latina. Seleção e prefácio de Carlos Granés. Tradução de Bernardo Ajzenberg. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

_______________ Cartas a um jovem escritor: toda vida merece um livro. Tradução de Regina Lyra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

_______________ Elogio da madrasta. Tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

_______________ Travessuras da menina má. Tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

_______________ A festa do bode. 4ª edição. São Paulo: ARX, 2001.

 _______________ Peixe na água: Memórias. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
 _______________ Quem matou Palomino Molero? Tradução de Remy Gorga Filho. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.

_______________ A guerra do fim do mundo. Tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

_______________ Pantaleão e as visitadoras. Tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

 _______________ Tia Júlia e o escrevinhador. Tradução de José Rubens Siqueira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

_______________ Conversa na catedral. São Paulo: ARX, 2009.

_______________ A cultura da liberdade. São Paulo: Instituto Liberal, Série Ideias Liberais, N° 22, Ano II, 1995.

_______________Breve discurso sobre a cultura. Dicta & Contradicta. Dezembro de 2010, número 06, pp. 12 – 22.

 Referência webgráfica

 VARGAS LLOSA, Mario. Elogio de la lectura y la ficción. Discurso de aceitação ao Prêmio Nobel de Literatura proferido no dia 7 de dezembro de 2010. Disponível em http://www.elpais.com/articulo/cultura/Elogio/lectura/ficcion/elpepicul/20101208elpepicul_2/Tes?print=1.